Sexta-Feira, 26 de Abril de 2024
Política
27/03/2018 18:13:00
Decepção à vista
Infelizmente, não há nenhuma indicação de que os aspirantes ao Parlamento mudaram suas táticas eleitorais nem o modo como se relacionam com eleitores

LUCAS M. NOVAES*

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Depois de meia década politicamente traumática, é inegável que existe uma demanda por um Congresso mais representativo. Infelizmente, não há nenhuma indicação de que os aspirantes ao Parlamento mudaram suas táticas eleitorais nem o modo como se relacionam com eleitores. Haverá novos nomes, novos partidos, mas a política muito provavelmente continuará a mesma.

Não temos o bom modelo de política, aquele em que escolhemos representantes com propostas mais próximas do que queremos e, caso não cumpram com o prometido, deixamos de votar neles. O que vemos parece ser o contrário, com políticos defendendo seus pares suspeitos de corrupção sem se preocupar se isso desagradaria ao eleitor. Entretanto, essa camaradagem faz sentido no plano eleitoral, já que ela facilita a liberação de emendas, vagas em estatais e em ministérios e outros recursos. Por meio disso, o candidato a deputado consegue o que é mais importante na arena eleitoral: o apoio de políticos locais.

Aquele vereador que você conhece ou o prefeito de seu município, são eles que fazem o verão dos deputados. Por meio da relação que têm com eleitores, cultivada com uma vaga na creche, um emprego na prefeitura ou outros pequenos favores, políticos locais criam uma rede de eleitores própria e cativa.

O político local cultiva esse bloco de eleitores não só para ajudá-lo a ganhar as eleições municipais, mas também para “alugá-lo” para quem precisar de votos. Candidatos ao Legislativo têm grande interesse nesses votos, só que para ter acesso terão de liberar uma emenda para o político local ou um contrato público, uma contribuição de campanha, um envelope de dinheiro. Recursos do financiamento público partidário também servem, obrigado.

Dessa maneira, um deputado monta sua base de apoio como montamos um jogo de Lego, só que, em vez de peças, coleciona cabos eleitorais de luxo. Quanto mais recursos ele tiver, mais aliados locais terá e maior será o “partido” que poderá montar. Se perder recursos, seu “partido” poderá ser desmontado, pois antigos cabos eleitorais migrariam para um concorrente mais abastado.

Usando esse modelo e olhando do ponto de vista de partidos em vez de deputados individuais, podemos ter uma ideia de como serão as votações para deputado neste ano. Para isso devemos voltar dois anos, para as eleições municipais de 2016, e contar quantos candidatos a prefeito os partidos lançaram — como medida do tamanho da caixa de Lego de cada um —, já que, mesmo perdendo, esses políticos locais mantêm certa influência. O mdb certamente é o partido que teve mais recursos nas mãos para contratar apoio e lançou cerca de 2.170 candidatos a prefeito. Esse número de cabos eleitorais deve permitir a captura de vários assentos. O PSDB não fica muito atrás: 1.600.

Ao que tudo indica o PT sangrará bastante. O partido lançou ao redor de 930 candidatos, pouco mais da metade de candidaturas petistas em 2012, e sofreu muito com trocas. Colocado forçadamente na oposição, não tinha muito como manter seus antigos aliados locais, que agora trabalharão para a concorrência. Dito isso, o PT é o único partido com organização sólida de ativistas e tem a seu favor a impopularidade de Temer, que pode se traduzir em maior apoio a siglas de esquerda. Por último, como a atual bancada no Congresso garantiu uma bolada ao partido, petistas podem começar a arregimentar novos apoiadores. Resta saber se esses fatores vão acolchoar o tombo.

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