Terça-Feira, 23 de Abril de 2024
Política
22/10/2018 21:31:00
Mais de 600 pesquisadores assinam manifesto pela democracia
Embora não declarem voto, signatários criticam ideias já defendidas por Jair Bolsonaro

Folha/PCS

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Foto: Agência Brasil

Mais de 600 pesquisadores brasileiros assinaram um manifesto em favor da democracia, divulgado nesta segunda-feira (22).

Os signatários não declaram voto em nenhum candidato, mas criticam ideias já defendidas pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL), como tortura, intolerância, autoritarismo e incentivo à violência.

"Os regimes autoritários muito frequentemente instrumentalizam a ciência para fins contrários aos interesses da sociedade. A boa ciência necessita da crítica e do contraditório, do reconhecimento das diferenças e do respeito a opiniões divergentes, todas características que somente podem florescer em ambiente democrático", afirma o manifesto.

Assinam o documento nomes importantes da ciência e da política científica nacional, como o físico Ennio Candotti, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência) em quatro oportunidades, o físico Glaucius Oliva, ex-presidente do CNPq, o professor de filosofia da USP e ex-ministro da educação Renato Janine Ribeiro e o físico Sérgio Rezende, ex-ministro da Ciência e Tecnologia no governo Lula.

Também são signatários do manifesto o físico Sérgio Mascarenhas Oliveira, o epidemiologista Cesa Victora, vencedor em 2017 do Prêmio Gairdner, uma das principais láureas na área de saúde, o neurocientista Sidarta Ribeiro, o antropólogo Otávio Velho e o climatologista Carlos Nobre.

Os pesquisadores, no documento, repudiam "com veemência, toda e qualquer apologia à tortura, as inúmeras formas de violação e as ameaças à preservação do meio ambiente praticadas por regimes autoritários do passado e do presente".

Bolsonaro, que lidera as pesquisas de intenção de voto, já anunciou que, eleito, retiraria o Brasil do Acordo de Paris, no qual enxerga ameaça à soberania nacional.

O documento adotado em 2015 na capital francesa contém metas fixadas de forma voluntárias em cada país, sem interferência externa. Trata-se de diminuir emissões de gases do efeito estufa para conter o aquecimento da atmosfera em no máximo 2ºC neste século, a fim de suavizar a mudança climática.

O candidato do PSL propõe acabar com o Ministério do Meio Ambiente anexando-o ao da Agricultura. Quer ainda interromper a demarcação de terras indígenas e quilombos e mobilizar o Exército para pavimentar a rodovia que liga Manaus a Porto Velho, a BR-319, algo que pode incentivar a devastação numa parte das mais preservadas da Amazônia.

O manifesto também diz que a produção de ciência "passa pela garantia da manutenção das liberdades, dos direitos humanos, pela pluralidade de ideias, pela eliminação da intimidação, da discriminação e da tortura, e pela oposição a qualquer tipo de violência, qualquer que seja sua motivação (étnica, de gênero, sexualidade, posição política ou qualquer outra)."

A preocupação de acadêmicos com o futuro da democracia brasileira vai além das fronteiras nacionais.

Pesquisadores ligados às principais universidades alemãs também divulgaram um manifesto em "defesa de valores inegociáveis como democracia, direitos humanos e o caráter laico das instituições públicas". Entre os signatários do documento estão os renomados sociólogos Axel Honneth e Claus Offe.

No texto, os pesquisadores veem com preocupação "como, durante a presente campanha eleitoral, difamações, desinformação e perseguição vêm colocando em questão o tratamento igualitário de mulheres e homens, a dignidade de gays, lésbicas e pessoas transgênero, assim como a legitimidade política dos movimentos sociais e os direitos de minorias ameaçadas."

Segundo eles, "aprendemos, dolorosamente, com a história europeia e, em especial, com a história alemã, que a apologia da tortura e da violência e o desrespeito a concidadãos e minorias jamais serão solução para crises econômicas e políticas."

Ao final, eles instam a Justiça brasileira a colocar a democracia e os direitos humanos "acima das preferências ideológicas dos juízes e punir todos aqueles que os violem com palavras ou atos." Com informações da Folhapress.

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