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Política
25/08/2017 09:29:00
Nova delação relata dinheiro escondido em parede falsa

O Globo/LD

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A informação sobre um imóvel com parede falsa para esconder malas de propina paga por empreiteiras contratadas para obras em São Paulo durante gestão do PSDB é uma das cerejas do bolo da colaboração premiada do mais novo delator da Lava-Jato, o operador Adir Assad. Ele contou aos procuradores ter conhecido o local onde, segundo ele, Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, ex-diretor de Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), guardava dinheiro que recebia das empresas, sob a alegação de que os recursos abasteceriam o caixa 2 de campanhas tucanas.

Em função de movimentações financeiras atípicas, Assad era investigado desde 2012, mas sua rede só ruiu quando foi alcançado pela Lava-Jato, durante investigações sobre a Andrade Gutierrez, uma de suas principais clientes. Ele cobrava uma comissão para emitir notas frias a empresas que precisavam de dinheiro em espécie para fazer pagamentos ilegais. Seu esquema de lavagem serviu a mais de 50 empresas, que terão que explicar agora ao MPF a razão da solicitação dos serviços do operador.

Assad contou ter entregue valores diretamente a Paulo Vieira, responsável por licitar obras viárias em São Paulo entre 2007 e 2010. Em pelo menos três delas — Rodoanel (R$ 5 bilhões), Nova Marginal Tietê (R$ 1,4 bilhão) e Complexo Jacu-Pêssego (R$ 2,1 bilhões) — teria havido repasse de propina.

Segundo o delator, a casa com parede falsa usada por Vieira ficava na Vila Nova Conceição, bairro nobre da Zona Sul de São Paulo. Na época dos fatos narrados, o diretor da Dersa morava em um luxuoso prédio, localizado no mesmo bairro.

O advogado de Vieira, Daniel Bialski, nega que seu cliente guardasse dinheiro em parede falsa ou recebesse algo de Assad.

— É uma invenção, uma fantasia do Adir (Assad) para criar fatos e tentar legitimar sua delação — afirmou.

O delator deverá vender imóveis para conseguir pagar multa de aproximadamente R$ 50 milhões. A negociação de sua colaboração envolveu o MPF em Curitiba, Rio e São Paulo, por trazer informações que interessam a investigações nos três estados. Não há previsão de homologação.

Pedido de R$ 2,2 milhões

Paulo Vieira é alvo de inquéritos encaminhados ao MP paulista a partir da colaboração de executivos da Odebrecht. O ex-diretor de Infraestrutura Benedicto Júnior contou que o dirigente cobrou 0,75% do valor de um contrato de execução do Rodoanel, o que teria resultado em um pagamento de R$ 2,2 milhões.

O mesmo percentual teria sido aplicado a contratos da OAS no Rodoanel. Conforme revelou O GLOBO no ano passado, a empreiteira transferiu durante o governo José Serra R$ 4,8 milhões para contas da Legend Associados, uma das empresas da “lavanderia” de Assad.

Outro ex-diretor da Odebrecht, Carlos Armando Paschoal, disse que Vieira organizava um cartel das empreiteiras. Também delator, o ex-executivo da Odebrecht Luiz Eduardo Soares afirmou que o dirigente era representante de Serra, o que ele nega.

A assessoria do senador informou que ele não comenta “supostas delações”.

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