Quinta-Feira, 2 de Maio de 2024
Política
10/11/2017 11:12:00
O problema do PSDB se chama Aécio
Deixá-lo livre para agir foi um erro que poderá se revelar fatal em 2018

G1/PCS

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O senador Aécio Neves (PSDB-MG) (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

Não é de hoje que o PSDB tem um problema. Um problema com nome e sobrenome: Aécio Neves. Ele pode ter sido poupado pelo Conselho de Ética e pelo plenário do Senado, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e adulado pelos ministros que pretendem ficar no governo Michel Temer. Mas não, Aécio não pode ser poupado pelos fatos.

Pediu R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, o dinheiro foi entregue a seu primo numa operação controlada da Polícia Federal (PF) autorizada pela Justiça, sua irmã (e operadora) Andréa foi presa, mediante provas abundantes de corrupção.

Depois que Aécio foi denunciado à Justiça, o Senado deveria tê-lo cassado, o partido deveria tê-lo expulsado. Mas não. À moda do PT que sempre passou a mão na cabeça de seus corruptos de estimação, foi poupado. Com a bênção do STF.

De um Senado atolado na Operação Lava Jato, não se poderia esperar muito. Mas o descaso do PSDB foi escandaloso, ainda mais diante do padrão ético exigido dos adversários. No mesmo dia em que a PF desbaratava os esquemas, em vez de ficar quieto, Aécio aparecia numa rede social ao lado de lideranças partidárias, em atitude de desafio.

Ele aceitou deixar a Presidência do partido. A legenda rachou. Não por causa do futuro – a escolha do candidato à Presidência em 2018. Mas por causa do interesse imediato de Aécio – manter a aliança com Temer para garantir no Senado os votos que o livrassem das garras da Justiça.

Uma vez na presidência interina, Tasso tentou resgatar um pouco da credibilidade perdida com um programa de TV levado ao ar em agosto. O partido fazia uma espécie de mea culpa contrito. Admitia não ter estado à altura das expectativas éticas. Mas sem entrar em detalhes ou reconhecer crimes específicos. A reação interna foi feroz.

Mais recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, político tarimbado, estrilou da forma que um tucano estrila: defendeu em artigo a saída do governo Temer. Quadros históricos, como o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, simplesmente deixaram o partido.

A ala ligada ao governador paulista, Geraldo Alckmin, via a eleição partidária, marcada para 9 de dezembro, como uma oportunidade de pacificação. Quem quer que fosse eleito – o senador Tasso Jereissati ou o governador Marconi Perillo – daria apoio a sua candidatura em 2018. A ruptura com Temer seria questão de tempo.

Novamente, Aécio não soube ficar quieto. Ao tirar ontem Jereissati da presidência interina, de modo arbitrário e sem as consultas de praxe, pôs outra vez seu interesse pessoal adiante do partidário. Para ele, o que importa é manter a todo o custo a aliança com Temer, eleger Perillo e tentar manter o foro privilegiado no ano que vem. Para isso, considera até descer um degrau na hierarquia política e candidatar-se a deputado federal. O resto é secundário.

O preço a pagar será altíssimo. Cada dia que os ministros tucanos permanecem no governo mais impopular da história do Brasil contribui para associá-los ainda mais à agenda de Temer. Para Alckmin, ser o candidato da situação é o caminho mais curto para a derrota. Ser o candidato de um partido conflagrado, sem o apoio da ala mineira de Aécio, não levará a destino muito diferente.

O descaminho do PSDB é melancólico. O partido seria o beneficiário natural da derrocada petista. Mas precisaria ter feito aquilo que o PT não fez: uma limpeza interna dos quadros manchados pela Lava Jato. Pelo menos daqueles sobre os quais pesam evidências concretas, além das acusações de delatores. O primeiro da fila deveria ter sido Aécio, por R$ 2 milhões de motivos. Deixá-lo livre para agir foi um erro que poderá se revelar fatal para 2018.

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