Quinta-Feira, 28 de Março de 2024
Política
03/04/2019 10:12:00
Votação de processo de impeachment expôs debandada da base de Crivella na Câmara

G1/LD

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A sessão desta terça-feira à tarde escancarou um derretimento da base de Marcelo Crivella na Câmara Municipal. Vereadores que apoiaram o prefeito em votações tidas como essenciais, como o aumento do IPTU, em 2017, votaram pela admissibilidade do processo de impeachment. Estão nessa lista parlamentares como Willian Coelho (MDB), Professor Adalmir (PSDB), Thiago K. Ribeiro (MDB), Jorge Manaia (SD), Fernando Willian (PDT) e Rosa Fernandes (MDB).

No ano passado, vereadores como Felipe Michel (PSDB) e Marcelo Siciliano (PHS) chegaram a usar suas redes sociais para postar fotos e vídeos ao lado do prefeito em inaugurações de equipamentos públicos. Em setembro, Siciliano divulgou um vídeo no qual anunciava, com Crivella, a reforma de um campo de futebol na Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão.

Nesta terça, tanto Siciliano quanto Michel votaram pela abertura do processo de impeachment de Crivella. Exceções à regra são Junior da Lucinha (PSDB) e Luiz Carlos Ramos Filho (PODE). Ambos votaram contra o aumento do IPTU e passaram a integrar a base do governo.

A maioria dos insatisfeitos reclama que Crivella teria descumprido acordos políticos, deixando de aceitar indicações para cargos e de fazer obras em seus redutos eleitorais.

Cenário de insatisfação

Eurico de Lima Figueiredo, diretor do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF

Essa atuação da Câmara mostra a insatisfação dos representantes populares e a ineficiência do chefe do Poder Executivo. Se ele estivesse com 80% de aprovação, provavelmente não estaria passando por isso. Num outro cenário, a prorrogação do contrato de concessão não seria motivo para o requerimento de impeachment. Já houve muitos casos em que prorrogações semelhantes foram feitas sem a devida cautela legal. O motivo é a fragilidade da sua ação governamental, que vem sendo mal avaliada. São tempos difíceis na administração municipal, com risco de paralisia das ações.

Apoio vai valer mais cargos

Ricardo Ismael, professor de Ciências Políticas da PUC-RJ

O prefeito sofre de um desgaste acumulado desde o primeiro ano de mandato. A insatisfação é notória em diversos setores, e ainda tem a oposição protocolando pedidos de impeachment — que não foi só um — para testar a base do governo na Câmara Municipal. Diante desse quadro, Crivella vai ficar cada vez mais dependente do apoio que ele ainda tem. Considerando que estamos perto de um ano de eleição, esse apoio deve se traduzir em mais cargos. O dia a dia da administração pública tende a ficar prejudicado, e, provavelmente, a conta não vai sair barata. O preço deve subir.

O custo de um distanciamento

Geraldo Tadeu, cientista político do Instituto Universitário de Pesquisas

O processo de impeachment tem mais relação com a fragilidade da base parlamentar do prefeito do que propriamente com o argumento apresentado. É uma oportunidade que o Legislativo ganhou para mostrar a Crivella sua importância política e a necessidade de uma relação mais fluída com a Câmara. Parece que não houve nenhuma demonstração de que o prefeito teve algum tipo de vantagem com a prorrogação do contrato, o que seria determinante para seu impedimento. O distanciamento entre o Legislativo e o Executivo seria um motivo maior do que a justificativa dada.

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