Meio Ambiente
10/11/2013 07:01:02
A internet livre incomoda o governo
Sempre que Brasília mexe com a rede há um magano querendo ganhar dinheiro à custa do atraso tecnológico
Elio Gasperi/Folha
Imprimir
\n Misturando ignorância, prepotência e marquetagem, o comissariado \n meteu-se numa salada de iniciativas que envolvem a liberdade da \n internet. Produziu ridículos, empulhações, lorotas e, por incrível que \n pareça, uma boa ideia.\n \n \n \n O ridículo: doutora Dilma propôs que a internet seja colocada sob algum \n tipo de supervisão da ONU. Se isso acontecer, a ONU criará a ONUNet, que\n funcionará em Genebra, dirigida por um marroquino, abrindo-se a quinta \n representação de Pindorama naquela aprazível cidade.\n \n \n \n A empulhação: o comissariado quer que os provedores de conexões e de \n aplicações guardem seus dados no Brasil. Disso poderá resultar apenas a \n criação de cartórios de armazenamento a custos exorbitantes. Acreditar \n que essa medida contém a espionagem estrangeira é pura parolagem. \n Estimula apenas a xeretagem e os controles nacionais. Toda vez que o \n governo se mete com a internet há um magano na outra ponta querendo \n ganhar dinheiro com o atraso tecnológico. Gente que sonha com a boa vida\n dos anos 80, quando era mais fácil entrar no Brasil com cocaína do que \n com um computador.\n \n \n \n Lorotas: os doutores falam que estão votando um "Marco Civil para a \n internet". De civil ele não tem nada. É governamental, e inútil.\n \n \n \n A boa ideia: no meio dessa salada ressurgiu a proposta de não se usar \n mais softwares fechados como o Windows da Microsoft na rede pública. A \n Viúva migraria para sistemas abertos, gratuitos, como o Linux. Essa \n ideia chegou ao Planalto em 2003, quando Lula tomou posse. Foi abatida a\n tiros pelas conexões comissárias.\n \n \n \n Nada do que os doutores estão propondo acontecerá, simplesmente porque a\n internet é maior que a onipotência de Brasília. Se a doutora Dilma \n começar um faxina dos softwares fechados comprados pelo governo, fará um\n grande serviço, comparável ao do tucano Sérgio Motta que, nos anos 90, \n atropelou os teletecas que pretendiam transformar a estatal de \n telecomunicações num provedor exclusivo de internet.\n \n \n \n OS GUINLE QUEREM UM PEDAÇO DE CUMBICA\n \n \n O repórter Juliano Basile revelou que a família Guinle entrou na Justiça\n buscando uma indenização pelo uso das terras da Fazenda Cumbica, que \n doou à Viúva em 1940. São 9,7 milhões de metros quadrados onde está hoje\n o Aeroporto Internacional de Guarulhos. Coisa de R$ 5 bilhões.\n \n \n \n A área foi doada para proteger a segurança nacional durante a Segunda \n Guerra Mundial, para a construção de uma base aérea. Como agora a \n propriedade está sendo privatizada, os Guinle querem de volta o seu.\n \n \n \n Caberá à Justiça decidir e, de fato, é esquisito a União ganhar um \n terreno para fazer uma coisa e depois vendê-lo para que outro empresário\n faça outra. Apesar disso, a guerra acabou em 1945. Os Guinle souberam \n disso. Segundo seus advogados, a base aérea era necessária diante dos \n "receios de bombardeios no Brasil (que) se confirmaram de fato, em 1942,\n com a derrubada de embarcações brasileiras na costa do Atlântico por \n nazistas". Devagar. Os navios não foram derrubados, mas afundados por \n submarinos alemães e italianos, muitos deles longe do litoral \n brasileiro.\n \n \n \n Na mesma época a ditadura do Estado Novo avançou sobre terras da Ilha do\n Governador, no Rio, onde está hoje o aeroporto do Galeão. Ao contrário \n do que sucedeu com a propriedade dos Guinle, que foi doada, as do Galeão\n foram tomadas, abrindo-se um litígio que durou até 2011, quando o \n Superior Tribunal de Justiça liquidou o pleito dos detentores de \n precatórios. Eles reclamavam uma indenização de R$ 17 bilhões. A compra e\n venda desses precatórios, que a essa altura não estavam mais nas mãos \n dos donos originais das terras, confunde-se com grandes e tenebrosas \n manobras da plutocracia carioca.\n \n \n \n ATRASO E PROGRESSO\n \n \n \n Enquanto em Pindorama meia dúzia de artistas quer bloquear a livre \n publicação de biografias e o governo quer meter o dedo na liberdade da \n internet, saiu um grande livro, infelizmente em inglês, que mexe com as \n duas coisas. É "The Everything Store: Jeff Bezos and the Age of Amazon" \n ("A Loja de Tudo: Jeff Bezos e a Era da Amazon"), do jornalista Brad \n Stone.\n \n \n \n É uma grande aula de administração de empresas e a biografia de um \n visionário. Conta como Bezos construiu a maior loja virtual do mundo, \n quantas besteiras fez e como virou um ícone perseguindo uma só ideia: o \n poder da rede.\n \n \n \n Na parte biográfica, Stone indica que convivem nele um Doctor Jobs e um \n Mister Eike. Até hoje, felizmente, prevaleceu o lado Jobs.\n \n \n \n O livro caiu mal em casa e a mulher de Bezos descascou-o, apontando \n alguns erros factuais. Ela fez isso na seção de críticas de leitores da \n Amazon, onde ele é vendido a US$ 10,99 e tem quatro estrelas numa \n cotação de até cinco.\n \n \n \n Para quem está interessado no futuro, Stone mostra que Bezos prepara-se,\n em silêncio, para entrar no mundo das impressoras em 3-D. Quando essa \n tecnologia estiver de pé, um sujeito em Imperatriz, no Maranhão, poderá \n comprar um jogo de pratos de um designer sueco, imprimindo as peças em \n casa. Fará isso baixando as louças virtuais da Amazon. (Já se fazem \n revólveres para impressoras 3-D.)\n \n \n \n Stone descobriu onde está o pai biológico de Bezos, que deixou a família\n em 1968, quando o garoto tinha quatro anos. Ele luta pela vida numa \n loja de bicicletas. Como Steve Jobs, Bezos também não quis conversa com o\n pai.\n \n \n \n BOA NOTÍCIA\n \n \n \n O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, afastou-se da maldição do "personal \n elevator". Até algum tempo atrás, o primeiro elevador da esquerda da \n entrada do monolito da avenida Paulista era bloqueado quando ele se \n aproximava do prédio para subir (sem paradas) até o 14º andar. Candidato\n ao governo de São Paulo, Skaf passou a usar os elevadores da mesma \n forma que os outros bípedes. "Personal elevator" dá peso.\n \n \n \n HUMORES\n \n \n \n O prefeito Fernando Haddad sabe que nunca teve a boa vontade da doutora \n Dilma, nem quando era ministro da Educação, muito menos depois de ter \n tentando virar ferrabrás (em Paris) quando começaram as manifestações de\n julho. Agora que faz campanha para renegociar a dívida da cidade, \n trata-se de medir o tamanho da má vontade.\n \n \n \n EREMILDO, O IDIOTA\n \n \n \n Eremildo é um idiota e entende que as polícias exijam que manifestantes \n mascarados mostrem o rosto. O que o cretino não entende é que policiais \n escoltem delinquentes que estão presos por corrupção enquanto escondem \n os rostos, a caminho do camburão. O cretino acha razoável que o larápio \n saia mascarado da delegacia, mas se quiser ir a uma manifestação contra \n as roubalheiras de que participou, deverá mostrar o rosto.\n \n \n \n AMIGO DE FÉ\n \n \n \n Roberto Carlos é um "amigo de fé, irmão, camarada". Bloqueou a \n publicação de dois livros e tentou barrar um trabalho acadêmico sobre a \n Jovem Guarda. Quando seu projeto de censura virou vinagre, pulou do \n barco deixando Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil na \n frigideira.\n
COMENTÁRIO(S)
Últimas notícias