Meio Ambiente
24/05/2013 08:47:13
Artigo: Desafios da produção de alimentos e bioenergia no Brasil
(*) Manoel Teixeira Souza Jr. é chefe-geral da Embrapa Agroenergia.
Manoel Teixeira Souza Jr
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\n \n Em\n 2050, segundo diversas previsões, o nosso planeta terá uma população um pouco\n superior a nove bilhões de pessoas. O desafio de todos nós, no decorrer das\n próximas décadas, é garantir os meios para a produção de alimentos e energia em\n quantidade e qualidade suficientes para atender à demanda oriunda de uma\n população com dois bilhões de pessoas a mais do que hoje.\n \n Demanda\n esta que já sofre, e continuará sofrendo, mudanças mais na sua natureza do que\n no seu volume, o que resulta em aumento significativo de input de água e solo,\n para citar somente dois dos recursos mais utilizados. Esses meios precisam ser\n sustentáveis, tanto do ponto de vista econômico, como do social e do ambiental.\n \n Cabe,\n neste contexto, destacar o papel da bioenergia, conceito mais abrangente que a\n agroenergia no que diz respeito a matérias-primas, por incluir também resíduos\n orgânicos urbanos como o lodo de esgoto. A energia oriunda de produtos e\n resíduos agrícolas e florestais é normalmente dividida em dois principais\n grupos: a bioeletricidade e os biocombustíveis, sendo que estes últimos podem\n ser subdivididos em sólidos, líquidos e gasosos. No Brasil, os biocombustíveis\n mais populares são o etanol e o biodiesel - o primeiro oriundo quase\n exclusivamente da cana-de-açúcar, e o segundo produzido principalmente do óleo\n de soja (aproximadamente 80%).\n \n O\n Brasil se destaca, em nível mundial, por ter uma matriz energética muito limpa,\n com uma razão próxima a 1:1 entre fontes renováveis e não renováveis. A\n participação da bioenergia neste segundo grupo é exemplar. No entanto, uma\n análise mais profunda mostra que o nosso País está longe de utilizar em\n plenitude o potencial de produção e que tem todos os ingredientes necessários\n (área, água, biodiversidade, etc.) para manter-se como grande gerador de\n energia a partir de produtos e resíduos agrícolas, agroindustriais e florestais\n nas próximas décadas. Isto é verdade também para a produção de alimentos.\n \n O\n que precisa ser feito para que o Brasil se mantenha como protagonista mundial\n quanto à produção de alimentos e bioenergia? A resposta para esta pergunta\n começa necessariamente pela continuidade das diversas ações que permitiram\n alcançar os ganhos de produtividade observados no decorrer das últimas quatro\n décadas. Ainda temos espaço para elevar a produtividade e é fundamental\n continuar investindo neste caminho. Porém, é certo que só aumento de\n produtividade não será suficiente.\n \n Precisamos\n também ampliar a área plantada, transferindo para o processo produtivo de\n alimentos e bioenergia parte da área de pastagens utilizada pela pecuária\n extensiva no Brasil. Isto de forma alguma prejudicaria a nossa produção de\n carne e leite, uma vez que já temos tecnologia para manter em espaços menores o\n mesmo rebanho que temos hoje e até mesmo ampliá-lo.\n \n Uma\n parte importante da resposta tem a ver com a redução das perdas observadas no\n cultivo, na colheita e na distribuição dos produtos agrícolas. Perdemos parte\n considerável da nossa produção agrícola no caminho entre o agricultor e o\n consumidor. Em algumas cadeias produtivas, a perda chega a um terço de tudo que\n é produzido. Entre os principais vilões estão problemas fitossanitários de pré-\n e de pós-colheita, estoque e manuseio inapropriados, além de ampla dependência\n do transporte rodoviário em uma malha longe da ideal (em quantidade e\n qualidade).\n \n Reduzir\n o desperdício é outra parte da resposta que merece grande atenção. Há dois\n tipos de desperdício. Um deles pode ser atribuído à compra e uso sem\n planejamento por parte do consumidor (famílias, restaurantes, etc.); o outro\n decorre da falta de iniciativas dos municípios para agregar valor ao resíduo\n vegetal que geram, e que, na maioria das vezes, acaba nos lixões.\n \n A\n redução do desperdício passa com certeza por um processo gradual de educar a\n população por meio de políticas públicas contínuas e de amplo alcance. Já a\n parte que cabe aos municípios, com ou sem apoio estadual ou federal, depende\n basicamente de conhecimento e de visão de futuro por parte dos governantes.\n Tecnologias existem para dar a cada cidade uma solução especifica, conectada\n com as necessidades decorrentes da quantidade e da qualidade do resíduo\n existente em cada região.\n \n Mas\n isso não é tudo. Além de ampliar a área plantada, aumentar a produtividade,\n reduzir as perdas e o desperdício, é preciso oferecer alternativas para\n aproveitamento pleno dos resíduos agrícolas e agroindustriais, como também\n daqueles oriundos da produção e uso das espécies florestais. Este\n aproveitamento pleno precisa ser promovido dentro do contexto de biorrefinaria,\n no qual se busca reduzir ao máximo os resíduos, agregando valor mediante a\n transformação dos mesmos em bioenergia, biofertilizantes, rações animais,\n biomateriais (bioplásticos, etc.) e químicos.\n \n As\n cadeias de produção e uso da cana-de-açúcar e da soja já trabalham no Brasil\n dentro da lógica de biorrefinaria. Da cana se produz o açúcar, o etanol anidro,\n o etanol hidratado e a bioeletricidade, entre vários outros produtos. Da soja,\n se obtém o farelo para alimentação animal e consequentemente proteína , óleo\n para a indústria alimentícia e para biodiesel, além do grão (quase metade da\n soja produzida no Brasil é exportada na forma de grão). Porém, ainda existe\n amplo espaço para inserção de novos produtos, com maior valor agregado. É importante\n também que, mais e mais, outras cadeias no nosso País recebam políticas de\n desenvolvimento que promovam a sua organização dentro desta lógica de\n biorrefinaria.\n \n É\n fundamental ainda que seja dado suporte financeiro para que as instituições\n brasileiras de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PDamp;I), entre elas a\n Embrapa, possam gerar os conhecimentos e as tecnologias necessárias para este\n setor. Além dos componentes da resposta acima descritos, a PDamp;I pode também\n contribuir para gerar conhecimento e tecnologias que promovam o aproveitamento\n de dejetos humanos para a produção de energia e minerais. Esta, por exemplo, é\n uma faceta ainda pouco explorada para a produção de energia no Brasil, mas que\n necessitará de maior atenção no futuro.\n \n Em\n 2013, a\n Embrapa comemora 40 anos de existência, tendo trabalhado desde a sua criação no\n tema agroenergia. No decorrer das três primeiras décadas, a Empresa concentrou\n seus esforços na geração de conhecimento e tecnologias para produção de\n biomassa. Na última década, deu um passo a mais nas suas ações de PDamp;I\n nesta área, com a criação da Embrapa Agroenergia (que em 24/05 completa sete\n anos de criação) com ações focadas no processamento e uso sustentável desta\n biomassa para a produção de biocombustíveis, rações, fertilizantes,\n biomateriais, químicos e bioeletricidade.\n \n A\n Embrapa teve e continuará tendo um papel fundamental para ajudar o Brasil a ser\n protagonista na produção de alimentos e bioenergia no mundo. Esse papel começa\n nas ações de PDamp;I relacionadas com a ampla prospecção, caracterização e\n utilização da biodiversidade brasileira, na qual podem ser encontradas\n respostas para vencer alguns dos gargalos que limitam o setor. Inclui também a\n viabilização técnica - e de escala de produção - da diversificação das fontes\n de alimentos e bioenergia, do aumento da produtividade e da redução dos custos\n de produção com destaque para a diminuição da dependência de fertilizantes\n oriundos de fontes não renováveis.\n \n Soma-se\n a isto a necessidade de recuperação e reinserção dos solos degradados no setor\n produtivo, de agregação de valor aos resíduos e de redução das perdas e dos\n desperdícios. A participação do setor produtivo, ao lado da Embrapa,\n identificando e priorizando os problemas a serem solucionados pela pesquisa, é\n imperativa para que o conhecimento e as tecnologias geradas sejam eficazes na\n solução dos gargalos, e que sejam utilizadas, o mais prontamente possível, em\n favor da sociedade brasileira.\n \n (*)\n Manoel Teixeira Souza Jr. é chefe-geral da Embrapa Agroenergia.\n \n \n \n \n
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