Meio Ambiente
30/07/2013 09:00:00
Artigo: Quanto medo o medo gera?
(*) Luiz Flávio Gomes, jurista e coeditor do portal atualidades do direito. Estou ao vivo no Portal e TV atualidadesdodireito.com.br
Luiz Flávio Gomes
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\n \n Não\n se pode reduzir a relevância do medo em toda a nossa evolução cultural, em\n vários setores. As religiões nasceram a partir do medo e da ignorância das\n pessoas diante dos fenômenos da natureza (Lucrécio disse: timor fecit Deus)\n (veja Carlos París, Ética radical, p. 131). No ano 1000 incontáveis multidões\n da Idade Média acreditavam no fim do mundo. O medo e os poderes sobrenaturais\n (fantasia) manipulam a vida das pessoas. Na Idade Média milhares de mulheres\n foram dizimadas pela Igreja Católica que, para exercer seu domínio, inventou a\n barbárie de que elas seriam bruxas com poderes sobrenaturais. A ciência tem\n sido um antídoto contra as irracionalidades decorrentes do medo e da\n ignorância, mas isso não vem impedindo que as seitas, as magias e as fantasias continuem\n com força extraordinária em pleno século XXI. É muito grande a capacidade de\n imaginação da mente humana.\n \n O\n medo, seja fundado na imaginação humana (medo subjetivo, estimulado pelos meios\n de comunicação), seja fundado no terror do castigo estatal ou do extermínio,\n constitui uma das bases da dominação (religiosa, política etc.). É por meio do\n medo que muitos pais educam seus filhos pequenos (não faça isso, senão o\n monstro te pega). O poder político para exercer seu domínio por meio do medo\n conta com inúmeras formas de repressão, de controle e de estratégias.\n \n Carlos\n París (Ética radical, p. 132) enfocou dois ângulos dessa questão: o medo é\n capaz de se apresentar como castigo ou como proteção. A partir do castigo\n cruel e do terror pode-se infligir medo à população (de se recordar os castigos\n crueis até o século XVIII, retratados no Vigiar e punir de M. Foucault).\n \n Mas\n a forma mais sutil de domínio do Estado reside em outra estratégia: primeiro\n inventa-se o mal (o inimigo, a situação cruel) e depois fica fácil oferecer\n proteção a esse ente ameaçado. Isso era o que se passava na era feudal: tamanha\n era a insegurança reinante que o escravo, anulado e assustado pela violência\n ambiental, se sentia protegido pelo seu senhor. Para que o senhor exercesse seu\n domínio (sobre o escravo e seu trabalho), não podia deixar que o clima\n generalizado de terror acabasse ou reduzisse. O preço da sobrevivência era a\n total submissão do vassalo (do servo) ao senhor feudal.\n \n A\n tortura, o castigo (sobretudo o prisional) e o extermínio, em países\n periféricos atrasados (como o Brasil), são formas usuais (em pleno século XXI)\n de difusão do medo. A outra estratégia consiste em fazer a população não se\n esquecer de um temível inimigo (terrorista, sequestrador, assaltante etc.).\n Para isso o estado conta com a conivência da mídia. É dessa forma que o Estado\n se apresenta como o guardião (protetor) da sociedade, cada vez mais temerosa,\n mais amedrontada, mais dependente da farmacologia e da assistência psicológica.\n \n O\n desenvolvimento da tecnologia armamentista chegou a tal grau de sofisticação\n que, agora, o medo já não é somente do inimigo eleito (o comunismo, o\n dissidente, o assaltante, o terrorista etc.), senão, sobretudo, do próprio\n fogo amigo. Velhas exigências guerreiras, como o porte físico, se tornaram\n completamente obsoletas. O que ele vale diante de uma guerra nuclear ou diante\n de um drone? Fundamental, assim, na sociedade pós-moderna, é manter a\n consciência coletiva ameaçada, temerosa. O debilitamento da massa é o segredo\n da sua submissão assim como da oferta contínua de proteção. A exploração do\n medo e da insegurança faz parte da estratégia de domínio, especialmente do\n poder político, com o apoio midiático.\n \n As\n ruas e os parques se transformaram em lugares vedados para a convivência em\n razão da insegurança pública (C. París). A indústria da segurança e da proteção\n explodiu, com lucros bilionários. Mas é a ameaça do inimigo temeroso que ronda\n as nossas cabeças e nossos comportamentos. Daí a necessidade de sua fabricação\n contínua, para unir a população em torno de uma ameaça comum. O medo, aqui, é\n fator de integração da sociedade (assim como premissa para o exercício do poder\n nacional e planetário).\n \n (*)\n Luiz Flávio Gomes, jurista e coeditor do portal atualidades do direito. Estou\n ao vivo no Portal e TV atualidadesdodireito.com.br\n \n \n \n \n
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