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Meio Ambiente
13/07/2013 08:04:23
Mais médicos
A saúde no Brasil padece de dois grandes males: falta de dinheiro e gerenciamento incompetente.

Drauzio Varella

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\n A saúde no Brasil padece de dois grandes males: falta de dinheiro e gerenciamento incompetente.\n \n \n \n Impossível levar a sério qualquer projeto que não enfrente ao mesmo \n tempo esses dois desafios. Investir apenas na organização é tão \n insuficiente quanto alocar mais recursos para um sistema perdulário, \n contaminado pela corrupção e por interesses políticos da pior espécie.\n \n \n \n Há anos gravo programas de educação em saúde pelo interior do Brasil e \n na periferia das cidades maiores. Nessas andanças, aprendi que o \n Programa Saúde da Família (PSF) foi um grande avanço para o atendimento \n dos mais necessitados.\n \n \n \n Por meio do PSF, iniciado em 1994, equipes formadas por médicos, \n enfermeiros, técnicos, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários \n acompanham até 4.000 pessoas distribuídas em áreas geográficas \n delimitadas. Seus objetivos são a "promoção, prevenção, recuperação, \n reabilitação e manutenção da saúde da comunidade."\n \n \n \n Mais de 30 mil equipes, que contam com pelo menos 250 mil agentes \n comunitários, estão espalhadas pelo país. Aos olhos do visitante é \n notável a diferença das condições de saúde das populações que contam com\n elas. Estudo conjunto das Universidades de São Paulo e de Nova York \n mostrou que para cada 10% de aumento da população assistida, a \n mortalidade infantil cai 4,6%.\n \n \n \n Pois bem, esse programa de sucesso precisa de médicos nem sempre fáceis \n de atrair, mesmo com salários mais altos. Precisa também de enfermeiras,\n dentistas e de técnicos qualificados, mas vamos nos deter na parte \n médica.\n \n \n \n Médicos forçados a passar dois anos nessas equipes antes de receber a \n autorização definitiva para clinicar podem dar impulso considerável em \n busca da universalização do programa.\n \n \n \n Se a Constituição permitir que o Estado obrigue alguém a trabalhar em \n local que não deseja, acho que os recém-formados poderão se beneficiar \n da experiência: aprenderão a exercer uma medicina que não é ensinada nas\n faculdades, conhecerão melhor as grandezas do país e a realidade \n perversa que condena à miséria, que governantes ufanistas insistem em \n proclamar extinta.\n \n \n \n Essa medicina de pés descalços, no entanto, é incapaz de resolver \n problemas mais complexos. Estes dependem de profissionais motivados, com\n carreiras no serviço público bem estruturadas, unidades de saúde \n aparelhadas, hospitais equipados e administrados sem corrupção ou \n ingerências políticas.\n \n \n \n Na Constituição de 1988, declaramos que saúde é um direito do cidadão e \n um dever do Estado. Nenhum país com mais de 100 milhões de habitantes \n teve a ousadia de fixar meta tão pretensiosa. Infelizmente, os \n constituintes levantaram da mesa sem indagar quem pagaria a conta.\n \n \n \n Passados 25 anos, constatamos que 56% do investimento em saúde vêm da \n iniciativa privada, para cobrir os gastos dos 48 milhões de brasileiros \n com mais recursos. Aos 150 milhões que dependem do governo cabe menos da\n metade do bolo.\n \n \n \n Como consequência, esses 48 milhões de usuários dos planos de saúde têm à\n disposição quatro vezes mais médicos do que os 150 milhões atendidos \n pelo SUS.\n \n \n \n Tal distorção acontece por uma razão óbvia: o médico procura estar no \n mercado que oferece salários mais altos e melhores condições de \n trabalho. Num sistema capitalista como o nosso, não são essas as \n expectativas de advogados, engenheiros, lixeiros, metalúrgicos e \n agricultores?\n \n \n \n Apregoar como um grande salto na qualidade do atendimento à população a \n medida de obrigar recém-formados a prestar serviços em localidades \n desprovidas da infraestrutura mais elementar é simplificação demagógica.\n \n \n \n Sem equipes treinadas, laboratórios de análises, imagens, centros \n cirúrgicos, acesso a medicamentos e a hospitais de referência para \n encaminhar os casos mais graves não se faz assistência médica digna \n desse nome.\n \n \n \n Os especialistas calculam que no Brasil faltem 70 mil leitos \n hospitalares. Estamos vergonhosamente despreparados para atender à \n demanda das enfermidades responsáveis pela maioria dos óbitos: ataques \n cardíacos, câncer, diabetes, obesidade, derrames cerebrais, acidentes de\n trânsito, tabagismo, doenças pulmonares.\n \n \n \n Atribuir a responsabilidade pelo descaso com o SUS à simples falta de médicos é jogar areia nos olhos do povo descontente.\n \n \n \n
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