Época/PCS
ImprimirExemplos de intolerância política se avolumaram nesta semana. Primeiro um jornalista de O Globo foi agredido por seguranças contratados pelo pt quando participava da cobertura de atividades do ex-presidente Lula no Sul do país. Depois, a própria caravana do líder petista foi alvo de disparos que atingiram a lataria de dois ônibus. Para encerrar a semana preocupante, o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin relatou que sua família sofre ameaças e fez o alerta: “Nem todos os instrumentos ainda foram agilizados, mas eu efetivamente ando preocupado com isso e esperando que não troquemos a fechadura de uma porta já arrombada também nesse tema”.
A intolerância agride a liberdade política em ambientes polarizados ideologicamente. Torna-se um dos vetores diretos da produção da violência política. Simboliza o fracasso do ideal de liberdade para todos. A democracia é um sistema que assegura que a maioria decida. No entanto, exige respeito aos direitos das minorias políticas, das vozes discordantes, da existência das múltiplas correlações de força que fazem o sistema funcionar. Estabelecer instituições de governo de maioria acaba sendo uma tarefa comparativamente simples no regime democrático. Garantir o direito das minorias políticas impopulares e da convivência saudável de grupos competidores pelo poder político acaba sendo mais difícil.
Estudiosos sugerem que a homogeneidade política dos grupos nas redes sociais reforça a intransigência política. As páginas de cada grupo concordam entre si para levar as discordâncias com outros grupos a níveis histéricos. A histeria se caracteriza por convulsões causadas pela excessiva emotividade, por terror ou pânico. As redes sociais têm se tornado alimentadoras dessas vertentes regressivas.
Além das investigações policiais de praxe que os casos aqui citados exigem, é hora de as lideranças políticas de todas as vertentes conversarem, refletirem e se unirem sobre o momento pelo qual passa o país. As circunstâncias críticas aconselham moderação, busca do entendimento mínimo e defesa clara das regras de convivência democrática que asseguram a civilidade do processo político.
São assustadoras as menções de áulicos palacianos à possibilidade, por exemplo, de suspensão das eleições previstas para outubro em razão da instabilidade política. As vivandeiras golpistas são vírus oportunistas que se manifestam quando o corpo político demonstra fragilidade. Devem ser prontamente rechaçadas pelos atores políticos de todos os matizes ideológicos, de maneira pública e inequívoca.
O Brasil precisa de mais democracia — não de menos. A porta da intolerância deve ser fechada com a tranca segura da democracia.