Brasil
03/06/2013 11:31:29
Cidade do RS oferece até faculdade de graça para conseguir médicos
Nesse período, o médico beneficiado vai receber apenas um auxílio de dois salários mínimos, cerca de R$ 1350.
Terra/AB
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\n \n Enquanto o governo brasileiro trava um embate com\n associações médicas por causa da proposta de importar médicos estrangeiros para\n atender a população, municípios do interior do País usam de todos os artifícios\n para conseguir atrair os profissionais. Em Camargo, a 270 km de Porto Alegre (RS),\n o salário de cerca de R$ 16 mil não é suficiente para que médicos se interessem\n em trabalhar na cidade de pouco mais de 2 mil habitantes. Para tentar\n solucionar o problema, a prefeitura decidiu pagar a faculdade de medicina para\n estudantes residentes na cidade que se comprometam a trabalhar no local por\n pelo menos cinco anos depois de formados.\n \n "É sempre o mesmo dilema. Conseguimos um médico, ele fica\n no máximo um ano e vai embora. Eles não querem morar numa cidade pequena, que\n não oferece oportunidade para crescer mais e se especializar", diz a\n vice-prefeita, Eliani Trentin. Ela tem esperança que a lei, sancionada no final\n de 2011, possa acabar com o dilema de não saber se no próximo mês o médico\n contratado vai continuar prestando o serviço.\n \n Pela proposta, moradores da cidade há pelo menos cinco\n anos que tenham sido aprovados no vestibular de medicina de qualquer\n instituição privada - não importa o valor da mensalidade - terão todo o curso\n custeado pela prefeitura desde que se comprometam a retornar à cidade depois de\n formados e trabalhar até pagar o investimento (a estimativa é que serão\n necessários de cinco a seis anos). Nesse período, o médico beneficiado vai\n receber apenas um auxílio de dois salários mínimos, cerca de R$ 1350.\n \n A ideia, que já despertou o sonho de muito estudantes da\n cidade, ainda não foi colocada em prática, já que nenhum morador foi aprovado\n no vestibular. "Como é preciso residir aqui há mais de cinco anos, ficamos\n um pouco restritos. Mas eunbsp;acredito que em breve teremos os primeiros\n universitários participando do projeto", projeta a vice-prefeita.\n \n Edes de Mello Rosa, 28 anos, é um dos que veem na proposta\n da prefeitura uma oportunidade de mudar de vida e ainda ajudar a população da\n cidade onde nasceu. Filho de agricultores, ele trabalha como agente de saúde da\n prefeitura e ainda faz bicos como auxiliar de enfermagem na cidade vizinha de\n Marau. Mesmo sem tempo de se dedicar aos estudos, ele acredita que vai\n conseguir realizar o sonho.\n \n "Agora no segundo semestre quero fazer um cursinho.\n Essa é a oportunidade da minha vida porque nunca teria como pagar pela\n faculdade, nem tenho condições de passar no vestibular de uma universidade pública",\n conta o jovem, que tem esperança de ser aprovado na seleção para a\n Universidadenbsp;de Passo Fundo (UPF), localizada a cerca de 50 quilômetros de\n Camargo.\n \n Questionado se gostaria de permanecer na pequena cidade do\n interior depois de formado, Edes não hesita: "Nasci aqui, nunca pensei em\n sair". Sobre a possibilidade de ir para cidades maiores se especializar,\n ele diz que Passo Fundo oferece um bom ensino médico e que não precisaria ir\n para grandes centros para fazer residência médica. "Muita gente critica\n essa proposta, dizem que nbsp;dois salários é muito pouco, mas e todo o\n aprendizado? Essa oportunidade é única. Sem contar que vou poder fazer plantões\n e ganhar mais", diz. Na lei municipal, a jornada do médico é de 30 horas\n semanais na unidade básica de saúde, mas não restringe o profissional a fazer\n atendimentos particulares e plantões em hospitais da região fora desse horário.\n \n Este ano, Camargo conseguiu contratar uma médica para\n atender em turno integral e outro para trabalhar 20 horas semanais. Mas a prefeitura\n não sabe por quanto tempo eles vão continuar na cidade, já que os contratos são\n temporários. A prefeitura já tentou fazer concurso público, mas não houve\n nenhum interessado. Segundo a vice-prefeita, não é por falta de estrutura que\n os médicos rejeitam Camargo.\n \n "Temos duas unidades de saúde perfeitamente equipadas\n para o atendimento básico, claro que não fizemos cirurgias e procedimentos mais\n complexos, mas temos equipamentos para exames, contamos com enfermeiros,\n fonoaudiólogas, nutricionistas, farmacêuticos, dentistas. O problema é mesmo o\n médico", lamenta.\n \n nbsp;\n \n Nem mesmo salário de R$ 25 mil atrai médicos para interior\n de MT
\n Em Porto Estrela,\n a cerca de 180\n quilômetros de Cuiabá, a estratégia da prefeitura diante\n da falta de médicos foi aumentar o salário para pouco mais de R$ 25 mil para\n uma jornada de 40 horas semanais. Mesmo assim, desde dezembro a cidade não\n conta com nenhum especialista para atender os 4 mil moradores.nbsp;\n \n O secretário da Saúde, Manuel Odir da Cruz, conta que a\n falta de médicos sempre foi um problema em Porto Estrela.\n "Na administração anterior chegou a ser feito um concurso e teve um médico\n aprovado, mas foi demitido porque ele não vinha trabalhar", lamenta Odir.\n Segundo ele, aliado a falta de estrutura para um atendimento mais\n especializado, a cidade não conta com atrativos para que pessoas de fora se\n interessem em viver no local.\n \n "Para chegar aqui são 35 quilômetros de\n estrada de chão, não temos uma boa lanchonete, um supermercado grande. Eles\n (médicos) querem um bom restaurante, uma academia, nossa cidade não tem essa\n estrutura e as pessoas acabam desanimando de morar aqui", conta.nbsp;\n \n Sem atendimento médico no único posto de saúde, a\n população precisa se deslocar para o município vizinho, de Barra\n donbsp;Bugres, e percorrer os 35 quilômetros de estrada de chãonbsp;para\n consultar. Nos casos de emergência, a prefeitura disponibiliza uma ambulância,\n que já está em situação precária, para o transporte. "Muitas complicações\n de doença poderíamos evitar se tivéssemos um médico aqui, mas ninguém\n quer", diz o secretário.nbsp;\n \n Tanto em\n Porto Estrela quanto na cidade gaúcha de Camargo, os gestores\n defendem a contratação de estrangeiros para minimizar o problema da falta de\n médicos a curto prazo, mas pedem mais. "Me preocupo com a questão da\n língua com essa vinda dos estrangeiros. Nossa população é carente e se não\n dominar bem o idioma, esses médicos não vão conseguir se comunicar. Mas acho\n que já é alguma coisa", afirma Odir.\n \n Conselho de Medicina é contra pagar faculdade a médicos
\n O Conselho Federal de Medicina (CFM) é contra que o governo federal e os\n municípios financiem a faculdade de medicina de estudantes. Segundo o\n conselheiro Mauro Ribeiro, qualquer tipo de obrigação para que os médicos atuem\n em determinada comunidade, mesmo que isso represente o pagamento por um curso\n superior, não deve ser aceito. "O médico deve ser livre para atuar onde\n quiser depois de formado", afirma.\n \n O conselho também é contrário a vinda de médicos\n estrangeiros sem que passem pelo Exame de Revalidação dos Diplomas (Revalida).\n Para o CFM, a solução está na construção de uma carreira para médicos, como já\n ocorre com os juízes e promotores, por exemplo. "De nada adianta um\n prefeito oferecer um salário de R$ 25nbsp;mil e obrigar o médico a trabalhar\n 16 horas por dia, em um posto de saúde que não é equipado. O médico quer boas\n condições de trabalho", afirma.\n \n Para ter uma ideia de como o salário não é o principal\n diferencial, em Cuiabá, a capital do Mato Grosso, um médiconbsp;ganha em média R$ 7,5 mil para\n atender pelo SUS. A prefeitura garante que, mesmo com um salário 30% menor ao\n pago em Porto Estrela,\n não faltam profissionais interessados em atender na capital.\n \n O que diz o Ministério da Saúde
\n O Ministério da Saúde disse, por meio de sua assessoria, que a contratação de\n médicos estrangeiros é apenas um das medidas para resolver a deficiência de\n profissionais da saúde na periferia do Brasil. De acordo com a pasta, o País\n tem hoje uma média de 1,8 médicos por mil habitantes. Esse índice é menor do\n que em outros países, como a Argentina (3,2)nbsp;Portugal e Espanha, ambos com\n quatro por mil habitantes.\n \n Outra proposta, que está em desenvolvimento junto ao\n Ministério da Educação (MEC),nbsp;é a abertura de novas vagas em cursos de\n medicina e em residência com foco nas regiões que mais precisam e que possuem\n estrutura para formar com qualidade os profissionais. Ainda segundo o\n ministério, a importação de médicos é vista com bons olhos em outros países e\n experiências do exterior estão sendo analisadas pelo governo Brasileiro.\n \n \n \n \n
\n Em Porto Estrela,\n a cerca de 180\n quilômetros de Cuiabá, a estratégia da prefeitura diante\n da falta de médicos foi aumentar o salário para pouco mais de R$ 25 mil para\n uma jornada de 40 horas semanais. Mesmo assim, desde dezembro a cidade não\n conta com nenhum especialista para atender os 4 mil moradores.nbsp;\n \n O secretário da Saúde, Manuel Odir da Cruz, conta que a\n falta de médicos sempre foi um problema em Porto Estrela.\n "Na administração anterior chegou a ser feito um concurso e teve um médico\n aprovado, mas foi demitido porque ele não vinha trabalhar", lamenta Odir.\n Segundo ele, aliado a falta de estrutura para um atendimento mais\n especializado, a cidade não conta com atrativos para que pessoas de fora se\n interessem em viver no local.\n \n "Para chegar aqui são 35 quilômetros de\n estrada de chão, não temos uma boa lanchonete, um supermercado grande. Eles\n (médicos) querem um bom restaurante, uma academia, nossa cidade não tem essa\n estrutura e as pessoas acabam desanimando de morar aqui", conta.nbsp;\n \n Sem atendimento médico no único posto de saúde, a\n população precisa se deslocar para o município vizinho, de Barra\n donbsp;Bugres, e percorrer os 35 quilômetros de estrada de chãonbsp;para\n consultar. Nos casos de emergência, a prefeitura disponibiliza uma ambulância,\n que já está em situação precária, para o transporte. "Muitas complicações\n de doença poderíamos evitar se tivéssemos um médico aqui, mas ninguém\n quer", diz o secretário.nbsp;\n \n Tanto em\n Porto Estrela quanto na cidade gaúcha de Camargo, os gestores\n defendem a contratação de estrangeiros para minimizar o problema da falta de\n médicos a curto prazo, mas pedem mais. "Me preocupo com a questão da\n língua com essa vinda dos estrangeiros. Nossa população é carente e se não\n dominar bem o idioma, esses médicos não vão conseguir se comunicar. Mas acho\n que já é alguma coisa", afirma Odir.\n \n Conselho de Medicina é contra pagar faculdade a médicos
\n O Conselho Federal de Medicina (CFM) é contra que o governo federal e os\n municípios financiem a faculdade de medicina de estudantes. Segundo o\n conselheiro Mauro Ribeiro, qualquer tipo de obrigação para que os médicos atuem\n em determinada comunidade, mesmo que isso represente o pagamento por um curso\n superior, não deve ser aceito. "O médico deve ser livre para atuar onde\n quiser depois de formado", afirma.\n \n O conselho também é contrário a vinda de médicos\n estrangeiros sem que passem pelo Exame de Revalidação dos Diplomas (Revalida).\n Para o CFM, a solução está na construção de uma carreira para médicos, como já\n ocorre com os juízes e promotores, por exemplo. "De nada adianta um\n prefeito oferecer um salário de R$ 25nbsp;mil e obrigar o médico a trabalhar\n 16 horas por dia, em um posto de saúde que não é equipado. O médico quer boas\n condições de trabalho", afirma.\n \n Para ter uma ideia de como o salário não é o principal\n diferencial, em Cuiabá, a capital do Mato Grosso, um médiconbsp;ganha em média R$ 7,5 mil para\n atender pelo SUS. A prefeitura garante que, mesmo com um salário 30% menor ao\n pago em Porto Estrela,\n não faltam profissionais interessados em atender na capital.\n \n O que diz o Ministério da Saúde
\n O Ministério da Saúde disse, por meio de sua assessoria, que a contratação de\n médicos estrangeiros é apenas um das medidas para resolver a deficiência de\n profissionais da saúde na periferia do Brasil. De acordo com a pasta, o País\n tem hoje uma média de 1,8 médicos por mil habitantes. Esse índice é menor do\n que em outros países, como a Argentina (3,2)nbsp;Portugal e Espanha, ambos com\n quatro por mil habitantes.\n \n Outra proposta, que está em desenvolvimento junto ao\n Ministério da Educação (MEC),nbsp;é a abertura de novas vagas em cursos de\n medicina e em residência com foco nas regiões que mais precisam e que possuem\n estrutura para formar com qualidade os profissionais. Ainda segundo o\n ministério, a importação de médicos é vista com bons olhos em outros países e\n experiências do exterior estão sendo analisadas pelo governo Brasileiro.\n \n \n \n \n
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