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ImprimirPara economizar, o governo federal pode cortar até setembro a internet de até 740 unidades de universidades do interior do país. A verba destinada à Rede Nacional de Pesquisas caiu de R$ 258 milhões em 2015 para R$ 126 milhões em 2016, o que representa um corte de 51%.
O pior: o aporte que costuma ser feito em maio ainda não foi realizado. Os cofres vazios fizeram com que o diretor geral da rede, Nelson Simões, enviasse uma carta aos diretores de vários centros de ensino do interior do Brasil e ministros avisando da possibilidade do fim das pesquisas acadêmicas. Até 4 milhões de pessoas poderiam ser atingidas diretamente pelos cortes, como professores, pesquisadores, estudantes e pacientes de hospitais universitários.
- Se nós não tivermos a liberação dos recursos de fomento deste ano entre agosto e setembro, nós teremos que realizar, gradualmente, o corte de algumas dessas conexões de internet. Começando pelas que custam mais, avalia Nelson Simões.
A Rede Nacional de Pesquisas está presente em todos os estados brasileiros. O cabeamento de alto desempenho é responsável por levar conectividade a mais de 1.200 campi universitários. Mas são os polos do interior dos estados que causam preocupação, já que a sua internet possui um pagamento individualizado, por causa das instalações feitas sob encomenda.
É graças à rede, por exemplo, que alunos de universidades federais de todo o Brasil têm aulas por videoconferências e contato direto com a comunidade acadêmica internacional. Cirurgias e até mesmo o controle informatizado de medicamentos em hospitais deixarão de existir caso a conexão seja cortada.
A verba destinada à rede é dividida entre os ministérios da Ciência e Tecnologia, Educação, Saúde e Defesa. O diretor do departamento de física da Universidade Federal de Roraima, Roberto Câmara, diz que será impossível manter o nível do ensino caso seja feito o corte.
- Se a Rede Nacional de Pesquisas parasse hoje, nós voltaríamos no tempo em relação a ensino e pesquisas. É o que nos permite estarmos familiarizados com o que está acontecendo tanto no campo da pesquisa, quanto no campo do ensino, no mundo todo. Hoje, no instituto de física, nós temos estudos de solo e materiais, por exemplo. Nas aulas de física, nós utilizamos a internet para tornar as aulas mais atrativas aos alunos, enumera Câmara.
O diretor de serviços e soluções da Rede Nacional de Pesquisas, José Luiz Ribeiro, lembra que os cortes de internet podem implicar em outros tipos de gastos, como viagens, hoje compensadas em conferências e telefonia, que é suprida com emails.
- Na medida em que não tenhamos mais recursos para manter as conexões de internet ativas, as universidade terão que buscar soluções próprias. O que implicará em gastos maiores, pondera Ribeiro.
Em nota, o MEC lembrou que sofreu um contingenciamento de R$ 6,4 bilhões em seu orçamento. Mesmo assim, de acordo com a assessoria, o valor repassado será similar ao de 2015. A data para que o depósito seja feito, no entanto, não foi informada.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicação informou que o repasse de verba deste ano à Rede Nacional de Pesquisas só deve acontecer em setembro, quando for firmado o contrato de gestão. Apesar de não informar qual será o valor repassado, o ministério confirmou que o aporte será inferior ao de 2015. O motivo é o corte de verba aprovado dentro da Lei Orçamentária Anual.