UOL/PCS
ImprimirO depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao juiz da 13ª Vara Federal do Paraná, Sergio Moro, na próxima quarta-feira (10), está mexendo com os ânimos de empresários e comerciantes vizinhos ao prédio da Justiça Federal, no bairro do Ahú, em Curitiba.
Apesar do esquema de segurança previsto para o dia determinar que grupos antagônicos só poderão se reunir longe do local em que o petista será interrogado, os vizinhos ao fórum prometem se impor uma espécie de toque de recolher com direito a tapumes em receio à possibilidade de confrontos.
Se vingar, o esquema divulgado esta semana pela Secretaria de Segurança Pública do Estado manterá militantes favoráveis ao petista na Boca Maldita, no centro, a cerca de 5 km do fórum. Já os ativistas anti-Lula deverão se aglomerar no Centro Cívico, a pouco mais de 2,5km de onde o ex-presidente estará frente a frente com Moro.
Terão acesso à região somente moradores e comerciantes cadastrados e profissionais de imprensa previamente credenciados pela Polícia Militar.
Apesar das regras, a reportagem do UOL encontrou vizinhos apreensivos em relação à quarta-feira e cautelosos sobre o próprio expediente. A alguns deles, pelo que se apurou, a própria PM teria sugerido que não abrissem no dia do depoimento.
Na última quarta-feira (3), por exemplo, militantes petistas e anti-petistas brigaram em frente ao fórum quando o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, fora levado para colocar tornozeleira eletrônica. Dirceu havia acabado de obter liberdade após quase dois anos de prisão.
"Deveremos fechar a academia, pois a própria polícia nos aconselhou a fazer isso. Além do mais, boa parte de nossos alunos é de funcionários da Justiça Federal, e o fórum não dará expediente nesse dia [à exceção da 13ª Vara]", afirmou o professor de educação física Ivo Lopes, 28, que trabalha em uma academia quase em frente ao fórum.
"Se na quarta-feira as pessoas já se pegaram por causa do Dirceu, imagine o que não serão capazes de fazer em relação ao Lula?", observou.
Colega de trabalho de Lopes, a recepcionista Daniele Hungerbuhler, 30, comentou que, entre os alunos, "a grande maioria é 'teamMoro'", afirmou, aludindo a um suposto apoio ao juiz.
No portão do estabelecimento, por sinal, uma bandeira do Brasil dá a tônica a esse apoio --assim como várias sacadas de apartamentos e fachadas de estabelecimentos do bairro.
Em outra academia da vizinhança --dessa vez, ao lado do fórum--, o dono do imóvel, alugado, exigiu que os locatários usassem tapumes nas portas e janelas de vidro, nos dois andares, em função do depoimento. Na quarta-feira, o estabelecimento vai fechar.
"Tememos que haja muito confronto nesse dia, então fecharemos e usaremos esses tapumes --ainda que o fechamento seja financeiramente prejudicial à academia e aos personal trainers que dão expediente aqui, além, é claro, dos alunos", disse a funcionária Aline Carvalho da Silva, 27, do setor administrativo. "Vai ser uma boa fechar. Certeza que vai ter quebra-quebra", aposta a recepcionista Chaiane Karen Santos, 28.
Em uma loja de produtos naturais na mesma rua do fórum, o dono resolveu fechar já que a principal clientela, os funcionários do fórum e os profissionais de um prédio comercial ao lado dele, não terão expediente. Também ali vai se aderir aos tapumes nos vidros.
"Tem gente que compra até oito barrinhas de cereal por dia e resolveu estocar por conta da semana que vem", comenta a caixa Karine Becker, 21. De acordo com ela, é comum estagiários e funcionários do fórum comentarem sobre o juiz que coordena a Lava Jato na primeira instância quando vão comprar produtos ali.
"Já ouvi de uma assessora que ele [Moro] é celíaco [intolerante a glúten], por exemplo, e de uma estagiária que trabalha no andar de cima ao dele, em tom de brincadeira, que ela pisa 'na cabeça do Moro [por estar acima dele], mas ele é boa gente'. E como a gente depende dessas pessoas para comprarem, o jeito é aderir a essa espécie de toque de recolher porque não compensaria abrir e ficar às moscas e ainda com risco de confusão", analisa.