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ImprimirApesar de mais escolarizadas e de trabalharem mais horas por semana, as mulheres do Distrito Federal recebem R$ 997 a menos que os homens, em média. A diferença salarial de 26% é a maior do país. Roraima é o estado que apresenta a menor disparidade de gênero no mercado de trabalho, segundo dados do IBGE.
Para reacender o debate sobre a relação entre gênero e o mercado de trabalho, neste sábado (26) - data em que se comemora o Dia Mundial da Igualdade Feminina -, o G1 conversou com uma especialista no assunto e buscou histórias de trabalhadoras - do setor público e privado - que sentiram o peso da desigualdade no exercício de suas profissões.
Advogada x mãe x pesquisadora
A advogada Júlia Ximenes, 46 anos, conhece bem as consequências de ter uma tripla jornada. Doutora em Direito e mãe de um casal de gêmeos, de 11 anos, a professora viu seu salário reduzir em 15% no momento em que precisou deixar o cargo de direção em uma universidade para “conseguir dar conta” da intensa rotina em casa.
Mesmo com a participação do marido nos afazeres domésticos, a advogada precisou abrir mão de um cargo e salário mais altos para poder ter mais tempo disponível para a família e os filhos.
“Tinha sempre que conciliar uma festinha de Dia das Mães com uma demanda da instituição e rotina acadêmica, além de dar colo, fazer lanches à noite, um bolo ou feijão.”
A rotina intensa da doutora Júlia não faz parte de uma situação isolada. O mesmo levantamento do IBGE, cujos dados são da Pnad 2015 - a mais recente e completa - e que mostra as desigualdades salariais entre homens e mulheres, aponta que as trabalhadoras do DF dedicam em média 36,1 horas da semana a ocupações remuneradas; tempo acima da média nacional.
As brasilienses conciliam esta jornada com mais 17,2 horas de tarefas domésticas, totalizando 53,4 horas semanais convertidas em trabalho, contra 48,6 horas do tempo masculino.
Para a coordenadora nacional do Comitê da América Latina e Caribe de Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), Priscila Beltrame, a naturalização da mulher à frente dos trabalhos domésticos é “incompatível com os atuais critérios de progressão de carreira” e um dos motivos da desigualdade salarial.
“Carreiras hierarquizadas precisam de métricas que são mais difíceis de cumprir por mulheres que exercem a tripla jornada, como dar aulas à noite ou realizar atividades fora do horário expediente.”
'O juiz'
A juíza titular da 1ª Vara Criminal de Brasília, Ana Cláudia Mendes, é concursada e, por ser servidora pública, recebe o mesmo salário que os colegas magistrados. Apesar de não notar a diferença no quesito remuneração, ela diz que as mulheres são preteridas na escolha para cargos ditos “de confiança”.
“No cargo de juiz, a única possibilidade de outras funções seria como assistente de tribunais superiores e, a grande maioria, é sim ocupada por homens.”
A desigualdade de gênero no ambiente de trabalho, segundo a juíza, nem sempre é sutil. Ana Cláudia afirmou sentir diferenças de tratamento dentro das salas de audiência, onde é responsável por resolver questões jurídicas e penais.
Em entrevista ao G1, a magistrada lembrou do dia em que um homem chegou ao tribunal pedindo para falar com “o juiz”.
“Eu me apresentei como juíza e ele disse ‘não, o juiz!’. Quando eu insisti que poderia ser comigo, ‘a juíza’, ele virou as costas e foi embora.”
Mesmo com um mestrado em direito e 16 anos de experiência, o perfil profissional da juíza é semelhante à média da população feminina economicamente ativa no Distrito Federal.
Uma pesquisa da Codeplan, divulgada em novembro de 2016, mostra que, apesar da média de seis anos de escolaridade a mais que os homens, as desigualdades de gênero para as mulheres ainda são evidentes no DF e se mostram mais visíveis no serviço público.
Enquanto os homens recebem em média R$ 7,9 mil pelo mês trabalhado, o salário das mulheres corresponde a R$ 6,8 mil. Em empresas, a diferença salarial para homens e mulheres que exercem a mesma função é de R$ 270.
Dia Mundial da Igualdade Feminina
A data é comemorada neste sábado (26) em alusão à aprovação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em agosto de 1789, na França. O Dia Mundial da Igualdade Feminina celebra as conquistas das mulheres na sociedade ao longo da história e pretende reforçar a luta por condições de igualdade entre gêneros.