Folha/PCS
ImprimirAs declarações do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), de que bastariam um soldado e um cabo para fechar o STF (Supremo Tribunal Federal) continuaram a repercutir na corte nesta terça-feira (23). Perguntado por jornalistas, o ministro Gilmar Mendes disse que a manifestação é imprópria e que nem a ditadura militar fechou o STF.
"Ali se fala que com um cabo e um soldado fecha o tribunal. Quando se faz isso, você já fechou alguma coisa mais importante, que é a própria Constituição. É bom lembrar que nem os militares fecharam o Supremo Tribunal Federal. Houve cassação de mandatos de três ministros em 1969, mas não houve fechamento de tribunal, de modo que esse tipo de referência é absolutamente impróprio, inadequado, precisa ser repudiado e acho que o país tem que voltar a respirar ares democráticos, independente de resultado eleitoral", disse Gilmar.
- Toffoli diz que segurança jurídica é fundamental para o país
O vídeo de Eduardo Bolsonaro foi gravado em julho, durante uma aula em um cursinho no Paraná, mas só chamou a atenção no último fim de semana. O decano do STF, Celso de Mello, emitiu nota ainda no domingo (21) afirmando que a declaração é "golpista". O presidente da corte, Dias Toffoli, afirmou, também em nota, que atacar o Judiciário é atacar a democracia.
Nesta terça, Gilmar disse que as Forças Armadas servem ao país, e não a um ou outro partido.
"As instituições têm que zelar para que não haja esse acirramento de ânimo. A própria referência a um cabo e um soldado é imprópria, porque as Forças Armadas são instituição do Brasil, do Estado, não de um partido político", declarou.
"Quando se diz 'Nós vamos usar um cabo e um soldado', na verdade está se usando as Forças Armadas como milícia, como polícia. Isso não é próprio. As Forças Armadas são um esteio do sistema hoje. É preciso que esses conceitos sejam clarificados", concluiu.
Gilmar, que foi citado ironicamente por Eduardo Bolsonaro no mesmo vídeo, não quis comentar a menção a seu nome. Nesta segunda (22), o candidato Jair Bolsonaro desautorizou seu filho e, por meio de uma carta endereçada a Celso de Mello, pediu desculpas.
Também nesta terça, ao chegar para a sessão da Primeira Turma do STF, da qual faz parte, o ministro Marco Aurélio voltou a criticar as declarações do deputado eleito. "Preocupa. Acho que a ponderação é indispensável, e saber conviver com ideias diferentes", disse. Com informações da Folhapress.