CE/PCS
ImprimirPara onde ir e com quem caminhar, eis uma dúvida que deve pairar atualmente sobre a cabeça do prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD).
Assíduo em citações sobre sua fé no divino e os objetivos que visa conquistar, o prefeito recorreu à religiosidade recentemente para justificar sua posição quanto à candidatura ao governo e acabou expondo forte divergência entre seus aliados políticos.
“É o que eu digo, existem apóstolos igual a São Tomé, que acreditam só se ver, e há outros que andam no firmamento da fé. Eu sou um deles”, frisou na segunda-feira (14) em agenda pública o prefeito e pré-candidato ao governo.
Para concretizar tal sonho, além de vencer os adversários nas urnas, ele precisará renunciar à cadeira de prefeito até o dia 2 de abril, data limite para a desincompatibilização.
Assim dá-se início à construção de um enredo cheio de idas e vindas. Nem mesmo a vinda do presidente nacional do PSD a Campo Grande, em evento grandioso na Associação Nipo Brasileira, foi capaz de encerrar as dúvidas sobre seu nome.
Um dos motivos são as pesquisas eleitorais, em que ele não aparece na liderança da intenção de votos. Será mesmo que vale a pena arriscar um cargo de prefeito para se candidatar a algo não garantido? “Caso eu perca, volto a exercer a advocacia”, chegou a cravar Trad.
Contudo, alas dentro do próprio gabinete do prefeito já defendem sua permanência à frente da maior cidade sul-mato-grossense e com o segundo maior orçamento do Estado – perde apenas para, justamente, o governo estadual, atualmente sob o comando dos tucanos, que terão o secretário de Obras, Eduardo Riedel, na disputa, que promete ser dura.
“Em nenhum desses momentos Marquinhos falou como alguém que efetivamente será candidato”, frisou Antonio Lacerda durante entrevista nesta semana ao programa “Boca do Povo”, da Rádio Difusora FM – que tem em seu quadro de sócios justamente Robison Gatti Vargas, nome forte na articulação municipal com a mídia e também na pasta de Governo e Relações.
Na mesma rádio, na sexta-feira (18), foi a vez de o presidente regional do PSB, Ricardo Ayache, se pronunciar. Indicado a vice de Marquinhos, que chegou a cravar como aceito o pedido, mostrou um importante recuo quanto à situação.
“Minha tendência é dar sequência a esse trabalho [à frente da Cassems, da qual é presidente eleito], fazer esse trabalho de recuperação, estruturar o hospital de Dourados”, declarou em transmissão ao vivo o ex-petista.
Questionado se a resposta seria quase um não, ele foi novamente sucinto. “A princípio, sim”, disse, pouco depois de destacar novamente que, por ora, a tendência é continuar o trabalho a ele confiado.
Ayache lidera o partido que, municipalmente, é comandado por Carlos Augusto Borges, vereador Carlão, atual presidente da Câmara Municipal da Capital.
Nome próximo de Marquinhos, Carlão vê com bons olhos a aliança do PSB com o PSD para o governo estadual e é um dos que trabalha para Ayache ser vice de Trad.
Contudo, diante da expressão da vontade pessoal do principal líder peessedista de Mato Grosso do Sul, mais uma vez Marquinhos fica em xeque e distante de uma candidatura madura, faltando meras duas semanas para a renúncia.
ALIANÇA NACIONAL
A concretização da ida do ex-tucano Geraldo Alckmin para o PSB coloca o partido na rota de aliados do PT, sendo o ex-governador paulista o candidato a vice de Lula.
Assim, de certa forma, Marquinhos ficaria submisso a um eventual palanque para o lulopetismo em Mato Grosso do Sul, situação da qual, desde sua primeira candidatura à prefeitura, em 2016, vem fugindo, seja qual for o presidente.
Sem o vice indicado, Marquinhos estaria diante de um labirinto bastante sinuoso e ali teria de encontrar um vice para, aí sim, bater no peito e dizer que suas pretensões de assumir o posto máximo no Parque dos Poderes não está mais verde como o cenário do momento indica.
QUESTÃO FAMILIAR
Há também de se levar em consideração que, dentro de sua família, já existe quem o aconselhe a terminar o mandato e procurar alternativas dentro da política a partir dali.
Um que externou isso foi seu primo, o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta, e não por isso aliado de primeira monta – mas responsável por indicar o atual secretário de Saúde, José Mauro Filho.
Em entrevista ao Correio do Estado no sábado (12), ele revelou que as relações familiares seguem normalmente e que chegou a orientar Marquinhos a não renunciar.
Nos bastidores da política, também fala-se que outros familiares, não apenas Mandetta, orientaram ele a desistir da candidatura ao governo e terminar a missão como prefeito, a qual ele mesmo, outrora em agenda pública, afirmou ser a concretização de um dos principais sonhos políticos de seu pai, o já falecido e ex-deputado federal Nelson Trad.
Contudo, ao que parece, estes seguem tratados como “são tomés” pelo fiel Marquinhos.
Proposta seria voltar ao jogo daqui a 4 anos
O cenário eleitoral já expôs uma dura condição para Marquinhos Trad: ser uma aposta nas urnas em 2022, tendo muito a perder – afinal, terá de abdicar da prefeitura.
Contudo, uma hipótese é concluir o mandato, que termina em 2024, e retornar à cena política em 2026, quando nova eleição para governador ocorrerá.
Extraoficialmente – os envolvidos não confirmam tal situação –, corre que Trad recebeu duas propostas semelhantes.
Agora, ele e seus aliados do PSD poderiam indicar o vice para algumas chapas que planejam disputar as eleições e, mesmo que essa dupla saia vencedora, daqui 4 anos ela sairia de cena para Marquinhos buscar o governo com mais tranquilidade.
2 semanas
Esse é o prazo máximo para Marquinhos Trad definir se segue no comando da prefeitura ou se sai para candidatar-se ao governo de MS.