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Cidades
01/05/2018 09:19:00
Superlotação em hospitais públicos revela drama para pacientes internados
Pronto-socorro de uma das unidades está com 126% a mais de pacientes além do permitido

JB/PCS

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Sem leitos o suficiente e excedendo a capacidade de pacientes, hospitais públicos da Capital operam com capacidade além do permitido (Foto: Arquivo Midiamax)

Com capacidade além do ofertado, hospitais públicos de Campo Grande, que recebem pacientes de todas as cidades de Mato Grosso do Sul, estão com superlotação na área de urgência e emergência, além de leitos oferecidos para as mamães na maternidade.

O Jornal Midiamax apurou que somente na Santa Casa, o pronto-socorro está com 24 pacientes a mais da capacidade na ala verde, amarela e vermelha. Hoje, setor está com 43 pessoas, sendo que deveria estar com 19 no total de internações. Número corresponde à um crescimento de 126,3% a mais do permitido.

Na pediatria, a assessoria de imprensa do hospital informou que total de vagas para as crianças também está com leitos totalmente ocupados, mas ainda assim, continuam recebendo os pequenos. Setor que deveria estar com 10 doentes, hoje conta com 13 ocupantes, equivalente a 30% além da capacidade. Na maternidade, vagas estão 100% completas.

O HU (Hospital Universitário) Maria Aparecida Pedrossian tem um total de 240 leitos, mas número atualmente ultrapassa 23,3% do permitido, pois abriga 296 internados a mais. Na área de pronto-atendimento, hospital federal está com 25 pacientes, passando 38,8% do permitido, que seria 18 internações.

Somente na maternidade, capacidade excedeu em 26,3% com um total de 48 mães internadas, que, no entanto, poderiam ter apenas 38 lactantes. O Hospital Regional foi contatado, mas até o fechamento, não havia divulgado números.

Aguardando para levar a filha para casa, Dinara Polidorio do Nascimento, de 18 anos, espera a alta da pequena, nascida no dia 16 de abril, sentada em uma cadeira, dia e noite, do HU. O fato é que a mulher passou por cesariana para dar à luz e, como não há leitos disponíveis para repouso, a jovem têm sofrido com dores constantes na espera de ir para casa.

Dinara, que passou pelo procedimento cirúrgico já teria recebido alta hospitalar ainda na mesma semana, sendo em uma quinta-feira. A criança, que nasceu em uma segunda-feira, permanece internada pois ainda não consegue ‘pegar peito’ e por isso, segue na UCIN (Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais).

O marido de Dinara, Gabriel, de 17 anos, contou à reportagem que a jovem está trocando os curativos com o seu auxilio dentro do banheiro, correndo risco de infecção hospitalar e médicos teriam receitado apenas algumas gotas de analgésico.

“Não tem condições nem uma de uma pessoa operada ficar eu mesmo que sou o pai tenho que ficar porque devido a cirurgia ela não consegue fazer certas atividades sozinha, tenho que dormir em um Puff e minha esposa em uma poltrona que quando deita deixa as costas toda torta”, comentou o rapaz.

O fato é que a criança, segundo o pai, já estaria conseguindo se alimentar com o leite materno, mas Dinara não estaria fornecendo leite o suficiente para amamentar.

A assessoria de imprensa do HU confirmou a mãe da criança está em uma sala da enfermaria e revelou, também, que atualmente o setor da maternidade está com 12 pacientes a mais do que capacidade máxima. “O problema é o sistema de regulação. Nós avisamos que não tem mais condições de atender, mas mesmo assim continuam mandando (pacientes) ”, diz assessor.

Questionado sobre medicação e cuidados com a recém operada, HU informou que para não influenciar na amamentação, uma medicação mais ‘leve’ é receitada e, por conta da superlotação, enfermeiros acabam ficam atarefados. “Se esperarem um pouco, os enfermeiros com certeza vão ajudá-la no curativo”, informou.

O bebê ainda permaneceria internado por tempo indeterminado, pois segundo HU, criança ainda precisa ganhar peso e só receberá alta hospitalar somente quando médicos tiverem a certeza de que menina estiver 100% saudável.

Pacientes que estavam na Santa Casa de Campo Grande na manhã da última quarta-feira (25) tiveram que ser mantidos por ventilação manual durante o atendimento por não ter respirador mecânico disponível.

A denúncia partiu de um funcionário do hospital que apontou os riscos desta forma procedimento para o paciente. O hospital informou que a situação acontece em função da grande demanda de pessoas encaminhadas.

Ao Jornal Midiamax, o funcionário que não quis se identificar explicou que cerca de 12 pessoas estavam na área vermelha do hospital na manhã do dia 25, sendo quatro ventiladas por aparelho de respiração manual.

Segundo o funcionário, a prática oferece riscos aos pacientes. “O paciente pode ter danos irreparáveis porque no ambu [aparelho reanimador] manual não tem como controlar a quantidade de oxigênio que entra no organismo do paciente”, explicou. Por esta razão, os órgãos dos pacientes poderiam sofrer danos irreversíveis.

Outro ponto ressaltado foi de que na última semana, muitos pacientes continuaram chegando mesmo com o setor já lotado. “Não sei se é uma falha da regulação. Tem o HU [Hospital Universitário], tem o [Hospital Regional, mas insistem em manda para lá”, disse.

Sobre a situação, a assessoria do hospital explicou que os casos aconteceram porque o excesso de pacientes ultrapassou o número de leitos com oxigênio, sendo necessário que o paciente fique em ventilação manual até surgiu uma vaga no setor ou na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Conforme o hospital, a área vermelha tem seis leitos com oxigênio, mas estava atendendo 13 pacientes na última quarta-feira.

A Santa Casa informou ainda que “nos últimos dias a demanda tem sido excessiva e a SESAU [Secretaria Municipal de Saúde] já foi comunicada para desvio de fluxo e solução do problema, pois temos seis leitos contratados com o Poder Público”. A informação repassada pelo hospital é de que a secretaria está viabilizando leitos em unidades privadas para atender a demanda.

Já sobre os ricos da ventilação manual aos pacientes, a Santa Casa informou que só há prejuízos à saúde quando o método é utilizado por tempo exagerado, o que não acontece quando a prática é feita por controlado.

A Sesau informou que a gestão dos leitos é de responsabilidade do hospital e que ele deve atender as demandas encaminhadas por intermédio do SUS (Sistema Único de Saúde), no caso de haver a regulação.

A secretaria destacou ainda que se for necessário, “a Central de Regulação irá redefinir o fluxo de encaminhamento para os demais hospitais conveniados, sendo eles: Hospital Regional, Hospital Universitário, Hospital de Câncer e São Julião”. Solução

A solução para resolver a problemática das faltas de leitos nos hospitais públicos, segundo a superintendente geral de Atenção à Saúde da SES (Secretaria Estadual de Saúde) Mariana Croda, depende de toda a estruturação da rede de saúde pública, não apenas do Estado.

“Vai desde medidas preventivas, fortalecimento da atenção básica, acesso à saúde qualificado e leitos suficientes. Nos municípios de gestão plena da saúde, cabe a estes o planejamento de ações em saúde e inserção do Estado nas pactuações”, disse em nota.

Sobre a questão de pacientes do interior do estado que são enviados para serem tratados em Campo Grande, Mariana comentou que o governo tem enviado esforços para fortalecer todas as regiões de saúde em MS, para que haja uma maior resolução nessas regiões, sem a necessidade de esses pacientes serem encaminhados à Capital.

“Além disso, com a implantação da regulação estadual de urgências e emergências, feita pelo Governador Reinaldo Azambuja, já é possível até transferirmos pacientes de uma região referenciada para a outra, por ter conhecimento da disponibilidade de leitos em todo o estado, isso de forma muito mais dinâmica” comentou Croda.

Mariana ainda comentou que a SES realizou a recomposição da Câmara Técnica Hospitalar Estadual para que setor possa estudas as potencialidades de cada serviço e analisar o aumento da oferta de atendimento.

“O Estado tem sido inserido nos contratos dos prestadores com os municípios como interveniente financeiro, para maior participação junto ao cumprimento de metas e melhorias dos serviços”, ou seja, o Estado tem, em diversos casos, financiado leitos enquanto não acontece a habilitação por parte do Ministério da Saúde. MPE pede mais leitos pelo SUS

O MPE (Ministério Público Estadual) entrou com uma ação na Justiça para que Estado e município providenciem mais leitos para atender aos pacientes do SUS (Sistema Únicos de Saúde). Conforme a promotora de Justiça, Filomena Fluminhan, titular da 32º Promotoria da Capital, o pedido foi feito dentro de uma ação civil pública que já existe desde 2014.

Para o Jornal Midiamax, a promotora explicou que o novo pedido foi feito na última quinta-feira (26) dentro de uma ação que já tramita na 1º Vara de Direitos Difusos e Coletivos desde 2014 e que tem como objetivo ampliar o número de leitos em Campo Grande e de proibir a espera dos pacientes em unidades de saúde.

A nova requisição prevê que Estado e município providenciem, dentro de 6 meses, 300 novos leitos, no total, para os pacientes da rede pública, sendo 80 para clínicos e 20 para UTI (Unidade de Terapia Intensiva) a cada 60 dias. No fim deste período, seriam 240 novos leitos clínicos e 60 de UTI.

Na época, foi apurado um déficit de mais 800 leitos para o atendimento dos pacientes. Conforme Fluminhan, o número atual deve ser maior uma vez que a população aumentou. De acordo com os últimos dados do Cnes (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), o número total de leitos pelo SUS no Estado em março deste ano era de 3.568.

O novo pedido leva em conta ainda a liminar de outubro de 2014, quando a Justiça proibiu que os pacientes aguardassem por mais de 24 horas por leitos em corredores de hospitais e internados em UPAs (Unidade Básica de Saúde) e CRS (Centro Regional de Saúde) sob pena de pagamento de multa no valor de R$ 5 mil.

A decisão foi validada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) no fim do ano passado e ministério público só foi notificado em janeiro deste ano sobre a decisão favorável na instância máxima. “Não cabe mais recursos agora”, disse Fluminhan.

Mesmo com as validações da liminar, segundo a promotora, a decisão está sendo descumprida em função do baixo valor que foi estipulado pelo TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), em maio de 2016.

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