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ImprimirO primeiro exame de sanidade mental de Vania Basílio Rocha foi realizado na manhã desta sexta-feira (1º), no Instituto Médico Legal (IML) de Vilhena (RO). A jovem é suspeita de ter matado o ex-namorado durante o ato sexual, em dezembro passado. De acordo com o instituto, ela se mostrou calma, não chorou e não apresentou remorso na entrevista. A suspeita também saiu sorrindo do IML, após a realização do exame feito pelo médico legista, Paulo Nogueira. "Os elementos colhidos hoje irão contribuir para elaborar o perfil psiquiátrico dela. No entanto, nesse momento, não há elementos para afirmar sobre uma insanidade mental. Ela precisa de uma avaliação psiquiátrica específica", afirmou.
O segundo exame será feito com um médico psiquiatra, mas ainda não tem data marcada. Os laudos das duas avaliações definirão se Vania é inimputável – termo usado para pessoas que não têm capacidade para responder pelos atos.
Vania, que completou 19 anos em janeiro, foi presa em flagrante e confessou ter matado o ex, Marcos Catanio Porto: "Queria matar alguém. Fiquei olhando olho no olho até ele morrer", disse ela na época.
A presa chegou ao IML maquiada, vestida com uma legging de cor azul, blusa amarela e chinelo. Ela estava acompanhada pelo diretor de segurança do presídio feminino e uma agente penitenciária. O exame durou uma hora.
De acordo com o médico legista, Paulo Nogueira, Vania respondeu a uma entrevista, em que foi perguntado como e por que aconteceu o crime. Ela também foi indagada sobre o relacionamento com a família, amigos, escola, emprego e também sobre os relacionamentos amorosos.
Conforme o médico, durante as perguntas, ela contou com detalhes como praticou o crime e mostrou tranquilidade e frieza no relato. Além disso, ela não chorou e não mostrou remorso ou arrependimento pelo homicídio.
O resultado do laudo deve ser encaminhado ao judiciário na segunda-feira (4). "Nesse momento, não há elementos para afirmar sobre uma insanidade mental. Ela precisa de uma avaliação psiquiátrica específica e só depois, juntando todos esses elementos, é que será possível dizer sobre isso", enfatiza Nogueira.
Exame
Segundo a 1º Vara Criminal, o exame de sanidade será realizado por dois profissionais: um médico psiquiatra e um médico perito legista oficial, lotado na Delegacia de Polícia Civil da cidade. Os médicos deverão responder a um questionário emitido pelo juízo e pela defesa.
No documento da Justiça é perguntado se a suspeita: "por motivo de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, é inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento?".
Entre as perguntas da defesa está se: "a paciente é portadora de distúrbio mental ou anomalia psíquica?". Em caso positivo, se "tal distúrbio mental a impossibilita de viver em sociedade ou coloca em risco a comunidade em que vive?".
Defesa A família já tinha afirmado que não iria contratar advogado para Vania. Desta forma, a defesa da jovem ficou a cargo da Defensoria Pública do Estado de Rondônia, que pediu em fevereiro o exame para sanidade mental.
"Pelas entrevistas e depoimentos colhidos durante o processo, a Vania aparenta ter um distúrbio mental. E nesse caso, em que a pessoa que comete o crime não detém essa livre consciência e vontade necessárias para a punição criminal, ela precisa ser submetida a esse exame", explicou o defensor público do caso, George Barreto Filho, em entrevista na ocasião.
Laudo da vítima
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que Marcos levou 11 facadas, sendo no pescoço, abdômen, braços, mão e pernas. Segundo um croqui divulgado pela Polícia Civil, a perfuração de faca no pescoço foi o que motivou a morte do rapaz.
Conforme a análise do médico legista, a facada no pescoço atingiu a veia jugular interna da vítima e provocou um choque hipovolêmico – perda de grande quantidade de sangue. "A Vania disse que a primeira facada foi no pescoço e foi essa que o matou. As outras aconteceram enquanto ele se defendia, mas já estava perdendo sangue", explicou no fim do mês de janeiro, o delegado regional, Fabio Campos.
Comportamento estranho
Desde o dia da prisão, a suspeita estava isolada das outras presas, em um processo chamado de triagem, que de acordo com a direção do presídio, é um procedimento comum a todas as presas que dão entrada na unidade. "Ela chega, fica dez dias sob observação para verificar o comportamento e a conduta com os agentes e depois disso vai para a carceragem com as outras presas", explicou, na ocasião o diretor Flavio Miranda.
Segundo a direção, Vania estava sozinha na cela pelo fato de outras mulheres não terem sido presas depois dela. No entanto, após apresentar comportamento estranho, relatado por agentes plantonistas, Vania foi colocada em uma cela mais próxima da carceragem, onde continuou sozinha.
No dia 11 de janeiro, a mulher foi transferida para uma cela comum, com mais quatro detentas e não tem apresentado problemas. A direção da unidade confirmou que Vania passou por avaliação psiquiátrica, mas o teor da consulta não foi divulgado.
Mãe
A mãe de Vania ainda não consegue entender o que levou a filha a cometer o homicídio. Preferindo não se identificar, a mãe disse que a família não pretende pagar advogado para ela. "Acho justo ela pagar pelo que fez", disse na época.
"Sou a mãe dela. O que puder fazer por ela, nós faremos. Eu amo ela incondicionalmente. Ela é minha filha, mas acho justo ela pagar pelo que fez. Ela não tem advogado. O advogado será do estado, pois não vou contratar advogado", enfatizou.
Polêmica no Facebook
Uma das publicações de Vania mais comentadas no Facebook é o texto de um blog que tinha como título: "eu não fui uma má namorada, você que me tornou". Após ser presa e confessar que matou o ex-namorado, os uários criticaram a postagem. "Imagina se fosse boa", escreveu um jovem. "Louca, psicopata, parece que estava possuída pelo demônio", acrescentou outro usuário. A postagem foi feita dois dias antes do crime.
Meses antes de matar o ex-namorado, Vania declarou que o amava em uma postagem no Facebook. Ela publicou uma foto no perfil em outubro de 2013. Em 2 de junho de 2015, Marcos comentou: "Ti amo muito". No dia seguinte, a vendedora respondeu: "te amo, mais ainda”.
Vania disse em entrevista na delegacia que namorou com Marcos por nove meses, mas que estavam separados há dois meses.
Últimas palavras
No velório de Marcos, em 31 de dezembro de 2015, Mauricio Jacob contou que estava na casa onde ocorreu o crime. "Ele morreu nos meus braços. 'Ela é louca' foram as últimas palavras dele. Perdi um irmão", lamentou o amigo da vítima. Mauricio lembrou que após chegar na residência, Vania foi para o quarto com Marcos.
Depois de algum tempo, Mauricio e o irmão da vítima, Alberto, ouviram gritos de socorro. "Arrombamos a janela, pois a porta estava fechada. Quando entramos, ele segurava o braço dela com a faca. Arranquei a faca da mão dela e joguei longe. Ela sumiu e o Tim foi caindo para trás, falando que ela era louca", contou Mauricio, emocionado.
Após o crime, Vania se escondeu no banheiro onde ficou até a chegada da Polícia Militar. A mulher foi presa em flagrante por homicídio qualificado, pois usou de meios que dificultaram a defesa da vítima, segundo a Polícia Civil.
Crime
Após ser presa, ainda na delegacia, Vania relatou ao G1 que planejou o crime. Segundo ela, três nomes de possíveis vítimas foram colocados em uma lista: um amigo, um "ficante" e o ex-namorado. Na noite de terça-feira (29), ela ligou para os dois primeiros, que não puderam vê-la, pois estavam com a família.
Na manhã do dia 30, Vania ligou para Marcos alegando que queria se despedir, pois iria embora para outro estado. Ela então colocou uma faca de cozinha dentro da bolsa e foi para a casa da vítima, que havia aceitado receber a visita. O casal foi para o quarto e, durante as preliminares sexuais, ela esfaqueou o ex-namorado.
"Eu queria matar uma pessoa só, dos três. Eu tapei o olho dele. Aí peguei a faca e meti nele. Ele reagiu e veio para cima de mim e eu fui para cima dele também. Eu enforquei ele e aí comecei a meter [facadas] em outras partes do corpo dele. Daí, ele gritou socorro e a porta estava trancada. O irmão dele quebrou a janela. Quando o irmão dele entrou, ele já estava quase morrendo. Fiquei olhando olho no olho até ele morrer", narrou.