Sábado, 23 de Novembro de 2024
Ciência e Saúde
09/08/2018 19:05:00
Açúcar demais dá câncer? Veja o que a ciência diz sobre o assunto

UOL/PCS

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Durante muito tempo, acreditava-se que o açúcar era o principal combustível das células cancerígenas e que, logo, bastava cortá-lo da dieta para reduzir o risco de um tumor aparecer ou mesmo matar de fome um que já existisse. Bom, uma coisa está mesmo ligada à outra, mas não de maneira assim tão direta.

Primeiro, porque a glicose – produto do consumo de açúcar e dos carboidratos – é o alimento de todas as células, não apenas as malignas. “E os tumores têm mecanismos de sobrevivência bem mais complexos, então apenas remover o açúcar não faz com que eles parem de crescer”, aponta Renata Cangussu, oncologista da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica).

Depois, seria simples colocar apenas um ingrediente como vilão nessa história. “Uma alimentação rica não só em açúcar, mas também em gorduras saturadas e alimentos ultraprocessados e refinados, é a que está ligada ao surgimento e à progressão da doença”, expõe Artur Malzyner, oncologista da Clinonco, em São Paulo. Mas isso não é desculpa para sair comendo doces à vontade por aí. Até mesmo, uma dieta rica em açúcar pode favorecer o câncer de outras formas.

O que dizem as pesquisas

Basta pensar na obesidade, que pode ser consequência de um cardápio rico em bebidas açucaradas - entre diversos outros fatores - e que está associada a 13 variedades de tumor. E também no diabetes tipo 2, que normalmente é desencadeada em dietas ricas em açúcar de rápida absorção e que também eleva o risco de câncer. “No caso da doença na mama, há um aumento de quase 20% na incidência em mulheres que têm diabetes”, destaca Renata.

Para se ter ideia, uma pesquisa enorme conduzida pelo King’s College London, analisou a ocorrência de 12 tumores em 175 países e concluiu que diabetes e obesidade juntas ou separadas foram responsáveis por mais de 1,6 milhão de novos casos da doença diagnosticados no mundo em 2012.

O açúcar e a inflamação

O elo já é bem conhecido e foi melhor compreendido recentemente, em um estudo com roedores feito pelo ICB (Instituto de Ciências Biomédicas) da USP (Universidade de São Paulo) no final do ano passado. No trabalho, os ratinhos que seguiam uma dieta rica em açúcar tinham níveis maiores de interleucina 6 e TNF-alfa, duas substâncias inflamatórias.

E a inflamação, como se sabe, tem a ver com os tumores. “O consumo elevado de açúcar, assim como o excesso de peso ligado a ele, financia um processo inflamatório constante nas células, que facilita o aparecimento do câncer”, explica Renata.

O papel da insulina

Há ainda mais uma via de influência do açúcar na formação de tumores. “Quando comemos comidas ricas em açúcar, em especial bebidas açucaradas, o organismo libera uma substância chamada fator semelhante à insulina, que estimula o metabolismo das células e pode levar a mutações que as tornam cancerígenas”, explica Malzyner.

Trocando em miúdos, quanto maior a ingestão de açúcar além dos níveis considerados seguros, maior a insulina liberada para dar conta dele e maiores as chances de um tumor surgir. Por isso, os médicos são categóricos em dizer que, embora o açúcar não seja o único responsável pelo surgimento de um câncer, seu consumo excessivo eleva sim o risco da doença dar as caras.

Em especial o exagero nas bebidas como refrigerantes e sucos adoçados artificialmente. É que, sem outros nutrientes juntos, tais quais as fibras, o açúcar presente nelas vai parar de uma vez na corrente sanguínea e, assim, a insulina fica sempre lá no alto. “Não é à toa que o Inca (Instituto Nacional de Câncer) propõe em um documento recente que as bebidas açucaradas tenham uma taxa de impostos diferentes, como acontece com o cigarro”, fala Renata.

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