CGNews/LD
ImprimirAlém do Hospital Regional Rosa Pedrossian em Campo Grande, a Santa Casa também corre contra o tempo para conseguir adquirir anestésicos e sedativos essenciais ao tratamento de quadros graves da covid-19. Motivado pela imensa pressão no SUS (Sistema Único de Saúde), com a falta de isolamento social, e pela falta de matéria prima no Brasil, as compras são feitas, mas os produtos não chegam. Agora, o hospital improvisa com outros métodos e restringem atendimento.
Nota enviada pela Santa Casa a pedido da reportagem afirma que os estoques das medicações “estão com uma baixa muito importante”. O hospital disse ter pactuado com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) uma medida para restringir a permanência de casos urgentes no hospital para não comprometer os novos atendimentos.
Ou seja, agora, a Santa Casa só atende com destaque às vítimas de politraumatismo, especialidade do maior hospital de Mato Grosso do Sul. O HR foi escolhido como referência para tratamento de covid-19, mas já está com os leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) praticamente lotados com suspeitos e confirmados de covid.
Superintendente médico hospitalar da Santa Casa, Luiz Alberto Hiroki Kanamura disse que as equipes médicas “estão aflitas”. Conforme explicou, a maior parte da matéria prima necessária para produzir esses medicamentos no Brasil vêm da Índia e da China, sobrecarregados com a demanda global.
Segundo o médico, está em falta na Santa Casa desde anestésicos e sedativos leves, até os mais complexos , necessários para relaxar a musculatura antes da interferência para ventilação mecânica, os chamados bloqueadores neuromusculares. É o caso do medicamento Atracúrio que já acabou, mesma situação do HR. Os dois hospitais usam substitutivos “que já estão para acabar”.
“Quando o paciente tem o pulmão muito comprometido, o procedimento exige que o paciente não tenha reação muscular. Esse bloqueador é o mais usado e não tem no mercado para comprar há dois meses, o medicamento reservado para anestesia o CTI já não está usando há um mês”, relata.
Dessa forma, os médicos decidem por outros métodos, mas segundo o superintendente “não são tão isentos de efeitos colaterais”. “Muda-se as práticas, usa-se drogas alternativas, eventos não tão isentos de efeitos colaterais”, explica.
“Aquela cirurgia que precisa ser operada no prazo de 30 dias, a gente não vai fazer mais, já passamos a não fazer há 15 dias. Estamos priorizando, no centro cirúrgico, os politraumatizados”, disse. “Existem anestesias inalatórias, outros modelos, porém sem o mesmo resultado técnico. Nós estamos angustiados”, disse ele.
Outros hospitais – A reportagem consultou outros hospitais, por meio da assessoria de imprensa. A Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul) disse ter adquirido medicamentos com antecedências.
“Há no mercado uma dificuldade na aquisição de suprimentos para o enfrentamento ao coronavírus e atentos às consequências da pandemia em países como Itália e Espanha, foi realizada com antecedência a compra das seguintes medicações: Midazolam, Fentanil, Propofol, Ketamina, Succinilcoluna (suxametônio) e Rocuronio”, disse.
“Em nível nacional e internacional, tem havido falta de medicamentos usados para a analgesia, sedação, relaxantes musculares e demais drogas vasoativas, porque houve uma redução na produção e também pela dificuldade na movimentação das matérias primas, que, na maior parte, são provenientes da Índia e da China”, emenda a nota do hospital.
O Hospital Universitário ligado à UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) disse que ainda tem estoques, mas destacou preocupação. “Caso fornecimento em nível nacional e internacional não seja normalizado e o número de pacientes graves continue aumentando, a tendência é que haja falta generalizada desses medicamentos”, destaca.
“Desde o início da pandemia, o HU-UFGD estruturou um plano de contingência interna para o Setor de Farmácia Hospitalar e tem trabalhado conforme essas diretrizes. No plano, foi projetado o aumento dos estoques que normalmente atendem ao hospital por 60 a 90 dias, para atender pelo menos 120 a 150 dias e, por isso, o cenário que já tem sido vivido em outros hospitais do estado e também da rede Ebserh, ainda não atinge o HU-UFGD”, explicou a instituição.
O HU ligado à UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) também disse que ainda não sofre com falta de medicamentos e também exemplifica o cenário ao citar que não recebe pacientes de covid-19.
A Unimed de Campo Grande apenas disse que “totalmente preparado e estruturado para atender casos de pacientes com suspeita da Covid-19 e os confirmados com a doença”.