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ImprimirUm canudo descartável capaz de detectar a presença de metanol em bebidas destiladas deve chegar ao mercado em breve com um valor estimado de R$ 2. O produto é fruto de uma pesquisa de dois anos do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Química da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba).
Segundo o professor e pesquisador Félix Brito, o projeto está em fase de depósito de patente no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). Os protótipos dos canudos estão testados na Fundação Parque Tecnológico de Campina Grande, onde fica o campus da UEPB.
Devido à repercussão dos recentes casos de intoxicação por metanol em bebidas no país, o pesquisador conta que a universidade já foi procurada por ao menos duas grandes empresas interessadas em fabricar o canudo biodegradável em larga escala para comercialização.
"Como a demanda será gigante, a universidade está discutindo se repassa a tecnologia para uma empresa interessada ou se ela mesma assume a produção e comercialização, com apoio do governo, já que a cadeia produtiva desse setor é ampla e complexa. Mas a gente espera que em poucos meses o canudo esteja acessível", diz Félix.
A ideia de desenvolver o canudo surgiu por ser um produto muito utilizado em bares e restaurantes. Félix explica que o dispositivo dá um resultado rápido, semelhante a um teste de gravidez.
Esses canudos possuem um capilar, por onde a bebida sobe e entra em contato com uma coluna de reação colorimétrica. Se a amostra estiver contaminada por metanol, apresentará uma cor específica Félix Brito, Professor e pesquisador da UEPB
A proposta já foi apresentada ao Ministério da Saúde, que informou ao UOL estar analisando de forma inicial essa e outras tecnologias de detecção rápida de bebidas contaminadas.
A pesquisa
O projeto começou visando verificar se as cachaças do estado estavam contaminadas. Foi financiado pela Fapesq (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba), que destinou R$ 725 mil, valor que permitiu a criação do Laboratório de Tecnologia da Cachaça em Campina Grande.
Ao todo, 10 pessoas atuam na pesquisa. Félix Brito, que integra o Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias da UEPB, afirma que a tecnologia foi testada em 462 amostras de cachaça.
O estudo começou em 2023 no Laboratório de Química Analítica e Quimiometria. Este ano, os pesquisadores publicaram dois artigos científicos sobre o método na revista Food Chemistry, uma das principais publicações dedicadas à química e bioquímica dos alimentos.
Além do canudo, outro método desenvolvido pela universidade permite detectar metanol em bebidas ainda lacradas. Esse sistema utiliza radiação infravermelha (luz) para identificar substâncias estranhas à composição original.
Quando a luz incide sobre a bebida, as moléculas presentes nela são alteradas nas frequências de vibração, sendo cada tipo de molécula afetada de forma distinta
Nota da UEPB
Em seguida, um aplicativo processa os dados e, conectado a uma tela, indica se há ou não a presença de compostos adulterantes, como metanol, água adicionada ou até etanol veicular.
O professor David Fernandes, autor do artigo, explica que o método foi capaz de identificar se a cachaça estava adulterada com compostos não característicos da produção. Além disso, permite detectar alterações fraudulentas posteriores, como adição de água ou de outras substâncias.
Segundo os pesquisadores, o método identifica adulterações sem uso de reagentes químicos e com 97% de precisão.