Correio do Estado/LD
ImprimirMuito se fala das complicações mais comuns da covid-19. Sintomas como tosse seca, febre alta, dificuldade para respirar, dor de cabeça e no corpo e perda de olfato e paladar estão entre os mais comuns.
O que autoridades médicas percebem e comentam rotineiramente por meio da mídia, em entrevistas ou lives na internet, é a capacidade que a doença tem de atacar vários órgãos do corpo humano.
Primariamente uma doença respiratória, é comum ver complicações cardíacas e até neurológicas relacionadas à covid-19. As dores de cabeça, perdas de olfato e paladar podem estar ligados à ação do vírus no sistema nervoso do hospedeiro.
Segundo o neurologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Dr. Edson Issamu Yokoo, cerca de 50% dos pacientes hospitalizados para tratamento do Covid-19 apresentam algum tipo de sintoma neurológico, que pode ser leve ou grave.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as sequelas neurológicas podem ir do declínio cognitivo de longo prazo, como deficiências de memória, atenção, velocidade de processamento e funcionamento, até alterações de humor, psicose, disfunção neuromuscular ou processos desmielinizantes [desgaste da bainha de mielina, capa que reveste as regiões neurais responsáveis pela transmissão de impulsos nervosos].
“Ainda não se sabe ao certo se as alterações neurológicas são causadas pela ação direta do vírus ou se são manifestações causadas indiretamente pelo processo inflamatório ou pela resposta imunológica nas células nervosas”, revela o especialista.
Em uma live do portal estrangeiro, Web MD, o membro do Departamento de Neurologia da Escola de Medicina da Universidade do Colorado John Whyte, disse que “pouco se sabe sobre a incidência desses casos ou quando eles aparecem, mas a maioria deles é percebido em homens, geralmente mais velhos e com múltiplas comorbidades”.
O Dr. Yokoo ressalta que nesses casos mais graves é possível perceber alteração do nível de consciência (delírio hipoativo ou hiperativo, estado de coma), crises epilépticas, encefalites e, até mesmo acidentes vasculares cerebral.
“Sabemos que a gravidade dos sintomas surge conforme se agrava também o quadro do paciente com Covid-19 de maneira geral”, destaca o neurologista.
Entre as características mais graves, ele elenca as seguintes
Encefalopatia Pesquisas apontam que 66% dos pacientes com síndrome respiratória aguda relacionada ao Covid-19 apresentaram encefalopatia. Segundo o especialista, o diagnóstico tende a ocorrer em pacientes graves, principalmente aqueles que já estão em internados em UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
As causas desta manifestação são multifatoriais. “Alguns estudos mostram que o sintoma costuma obedecer ao padrão das encefalopatias tóxico-metabólicas: podem ser secundárias à diminuição da função de múltiplos órgãos ou por efeitos adversos de medicamentos utilizados em seu tratamento; ou encefalopatias por hipóxia, que ocorrem pela baixa da saturação de oxigênio sanguíneo”, relata.
Além disso, a forma como a encefalopatia se manifesta em cada paciente pode variar entre agitação e quadro de delírio, ou sonolência, com diminuição do nível de consciência.
Acidente Vascular Cerebral (AVC) Conforme o neurologista, os estudos publicados sobre a incidência de AVC em pacientes com Covid-19 mostram resultados variados ao redor do mundo. “O que temos observado até o momento é que o sintoma tende a ocorrer entre uma e três semanas após o início dos sintomas de infecção, acometendo pacientes graves”, comenta.
Síndrome Guilláin-Barré É o sintoma mais raro e muito pouco observado. No norte da Itália, de 1200 pacientes graves, apenas 5 desenvolveram a síndrome. A manifestação se caracteriza pela perda de força e alteração de sensibilidade ascendente e progressiva, que pode acometer até músculos da respiração e nervos cranianos superiores.
Para o Dr. Edson, o surgimento é resultado de uma ação de resposta imunológica inadequada. “Nesses casos, o sistema imunológico, além de atacar o vírus, acaba atacando também as raízes nervosas que saem pela coluna vertebral”, explica.
O médico destaca a importância de procurar atendimento médico ao identificar qualquer manifestação neurológica como as que ele destacou. “As pesquisas sobre esses sintomas ainda estão em desenvolvimento, portanto, sua extensão e gravidade precisam ser acompanhadas por um especialista”, reforça.