Pauta Materna/PCS
ImprimirMeu filho não foi planejado mas depois que descobri que ele viria minha vida ganhou sentido. Minha gestação foi tranquila e eu era simplesmente apaixonada por minha barriga. Eu fui aquela grávida que adorava tirar fotos, usar vestidos bonitos e vivia intensamente o momento.
Engordei 11 quilos durante toda a gestação, inchei um pouco nos últimos meses mas nada que ofuscasse a alegria que eu estava sentindo. Ela irradiava pelo meu sorriso, corria pelas minhas veias e brilhava nos meus olhos.
Assim, o grande dia chegou: Enzo nasceu em uma manhã de segunda-feira, de 26 de março de 2012, depois de uma cesariana. Dei à luz meu filho em um momento mágico e inesquecível só meu e dele, onde por alguns instantes o tempo parou. Ali nascia uma mãe e também a maior dor da minha vida: a depressão pós-parto!
Ainda atordoada pelos efeitos do pós operatório, uma euforia tomou conta de mim e eu só queria olhar para ele, saber como ele era e contar para as pessoas que o meu menino havia chegado. Aquele dia não consegui descansar, nem os dois outros seguintes que passei no hospital. Enzo chorava muito e mesmo com a ajuda da minha mãe, eu não desligava.
Voltamos para casa e algo dentro de mim começou a mudar. Um sono excessivo, um desanimo incontrolável e indisposição para tudo. Me sentia desconfortável com as visitas e sem nenhuma vontade de me socializar com alguém. Se pudesse, me trancava no quarto, com a luz apagada e ficava ali para sempre.
Um aperto invadia o meu peito, um nó na garganta e uma dor física tomava conta do meu corpo. Eu não conseguia sentir aquele amor incondicional que sempre ouvi falar, não estava vivendo a maternidade dos sonhos descrita por tantas mulheres e não tinha vontade de cuidar do meu filho. Ao contrário, desempenhar as minhas funções de mãe era um fardo para mim.
Eu olhava para o Enzo e pensava: Meu Deus! O que eu fiz da minha vida? O que vou fazer com esse menino agora? Não me sentia capaz de cuidar dele, tinha medo de machucá-lo e de que ele morresse. A primeira vez que o Enzo ficou doente, com dois meses, eu chorei a noite toda sentada no sofá da sala. E se tudo isso não bastasse, veio a culpa. Eu me sentia cruel, um lixo em forma de uma mãe que reclamava de barriga cheia, afinal, meu filho era saudável e a minha mãe estava ali o tempo todo para me ajudar, eu não tinha motivos para estar sofrendo daquele jeito.
Eu pedi a Deus que me levasse
Até que em uma certa noite, deitada na cama com a cabeça fervendo em pensamentos, eu quis morrer. Pensei: Deus, o senhor poderia me levar, eu poderia amanhecer morta e estaria livre de tudo isso! Esse pensamento me assustou e foi quando eu comecei a reconhecer que algo estava errado. Demorei três meses para aceitar e entender que eu não estava bem, que tudo o que eu sentia não era normal, que não tinha apenas a ver com o cansaço dos primeiros meses, das noites mal dormidas e dos dias agitados em casa. Eu de fato estava doente.
Procurei o meu médico, expliquei como estava me sentindo e ele confirmou o que todo mundo já imaginava: eu estava com depressão pós-parto. Chorei muito quando cheguei em casa e contei para a minha família o porquê daquele sofrimento todo, o motivo que me fez perder 15 quilos em uma semana, chorar até não aguentar mais e não ter forças para rebater tudo o que estava acontecendo. Esse era o meu aspecto na época:
Eu me questionava muito: por que comigo? logo eu que sempre sonhei com esse dia, com esses momentos ao lado do meu filho? Eu que achava que depressão era frescura, coisa de desocupado? O que eu fiz de errado? Em que momento eu comecei a ficar assim? Algumas perguntas estão sem respostas até hoje. Podem ter havido infinitas causas: fatores físicos, emocionais e de estilo de vida. Não sei, mas depois de medicada comecei a me sentir melhor e voltar a viver a minha vida com mais tranquilidade.
Não ignore os seus sentimentos
A minha mensagem diante de tudo o que passei (e superei) é para que as mães se permitam sofrer, aceitem as suas fragilidades. Não finja estar vivendo a maternidade dos seus sonhos se você não está. Não é porque o mundo inteiro diz que tudo é lindo, que para você também será.
Não estou dizendo que toda mãe que está super feliz à espera de seu bebê terá depressão pós-parto, quero apenas abrir uma discussão sobre o que pode acontecer, falar o que não é dito e conversar a respeito do outro lado da moeda, que nenhuma mãe está preparada para viver.
Quando você se tornar mãe e o seu coração lhe disser que alguma coisa não está bem, ouça. Grite se for preciso, chore caso tenha vontade e, por favor, procure ajude. Não se cale diante desta dor. Você não é menos mãe porque está doente e incapaz (naquele momento) de cuidar do seu bebê.
A depressão pós-parto pode deixar marcas eternas e feridas que nunca se fecham. O tempo que você sofreu e perdeu de viver feliz ao lado do seu filho não volta, não muda. A culpa, em algum lugar bem escondidinha dentro de você, as vezes vai te lembrar de tudo o que aconteceu. Nesse momento, mesmo que seja muito tempo depois, você vai olhar para o seu filho e sentir vontade de chorar, como ainda acontece comigo.
Caso você esteja passando por isso, tente se curar antes que a marca fique pra sempre. Procure ajuda profissional. Ou se quiser uma amiga para conversar, estou aqui:
http://pautamaterna.blogspot.com.br/2016/02/depressao-pos-parto-eu-quis-morrer.html