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Ciência e Saúde
18/08/2022 15:19:00
Parkinson: 10% dos casos ocorrem em pessoas abaixo dos 50 anos

Correio do Estado/LD

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“Chegou a minha vez de me libertar, porque viver com esse segredo é ruim. Você se sente vivendo uma vida fake, porque parte de você é de um jeito e você fica escondendo a outra parte de outras pessoas, no meu caso, a maioria das pessoas, porque sou uma pessoa pública. Eu fui diagnosticada com doença de Parkinson em outubro de 2018, quando tinha 45 anos. Hoje, eu tenho 49”.

O desabafo foi feito pela jornalista e apresentadora Renata Capucci, no fim de junho, em um podcast do “Fantástico”, da Globo.

Famosa pelas aparições no programa de variedades e no “Popstar”, a jornalista conta que, de início, começou a mancar justamente durante as gravações do reality show, veiculado também aos domingos. Mas a ficha só caiu depois, no dia em que um de seus braços “subiu sozinho, enrijecido”.

Embora a doença de Parkinson predomine em pessoas com mais de 60 anos, estima-se que em cerca de 10% dos pacientes a doença se manifeste antes dos 50 anos, como aconteceu com Renata Capucci.

“A doença de Parkinson traz limitações físicas e pode afetar pessoas que estão no auge profissional ou começando a constituir família”, alerta o neurologista Tarso Adoni, do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo. O médico não cansa de lembrar do caso de Michael J. Fox, ator norte-americano que chegou ao estrelato como o Marty McFly da trilogia “De Volta Para o Futuro”.

O astro recebeu o diagnóstico da doença em 1991, quando tinha 30 anos.

São experiências de pessoas conhecidas publicamente que chamam atenção para a importância que todos precisam dedicar aos sinais manifestados pelo corpo, além de procurar atendimento especializado caso identifiquem alterações no movimento.

Em um período de 25 anos, a ocorrência da doença de Parkinson dobrou em todo o planeta, atingindo 8,5 milhões de indivíduos, segundo um estudo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou em junho.

O levantamento também aponta que as mortes e os impactos na saúde como consequência do Parkinson estão aumentando de forma mais rápida que qualquer outro distúrbio neurológico.

No Brasil, estima-se que 200 mil pessoas tenham a patologia. “O aumento dos diagnósticos também está relacionado ao crescimento do número de especialistas que trabalham com distúrbios de movimento e que são capazes de identificar mais rapidamente a doença”, afirma Renan Rocha, gerente de produto no Brasil de uma farmacêutica italiana que atua na produção de medicamentos do segmento.

Rocha participou recentemente de um evento na Europa com a presença de 250 neurologistas especialistas em distúrbios do movimento do mundo inteiro para debater sobre novos estudos, técnicas e medicamentos.

A prioridade em relação ao Parkinson tem sido o investimento em pesquisas capazes de promover a qualificação médica e a troca de informações em nível global. Todo esforço tem como meta antecipar o diagnóstico, retardar a progressão da doença e manter a qualidade de vida dos pacientes.

CAUSAS

O Parkinson é causado por uma degeneração progressiva dos neurônios que produzem uma substância chamada dopamina, um neurotransmissor que ajuda na comunicação entre as células nervosas e é essencial para o controle dos movimentos dos músculos.

A ausência da dopamina causa tremores, ou seja, movimentos involuntários de braços, pernas e cabeça.

Mas nem sempre os tremores são o primeiro sintoma da doença. Na maioria das vezes, antes deles a pessoa desenvolve bradicinesia, caracterizada pela lentidão dos movimentos, quase sempre de um lado só do corpo.

De acordo com a médica Yvi Gea, uma das diretoras da farmacêutica italiana, existem outros sintomas que podem aparecer – os não motores – e que dificilmente são relacionados ao Parkinson, tais como quadros de tristeza, ansiedade, distúrbios de humor e do sono, depressão, problemas urinários, sintomas gastrointestinais e dores.

Atualmente, o diagnóstico da doença é feito com base na história clínica do paciente e no exame neurológico. Segundo Yvi, não há, por enquanto, nenhum teste específico para diagnóstico precoce ou prevenção da patologia.

A orientação é procurar um neurologista sempre que surgirem alguns dos principais sintomas: tremores involuntários em repouso, rigidez muscular, andar mais lento e arrastado, perda de expressão facial, depressão, ansiedade, dores musculares e constipação.

NO INTESTINO

Um dos tópicos que têm orientado o debate nos congressos da área é a possível correlação entre a doença de Parkinson e problemas no intestino.

“Evidências recentes sugerem que uma mudança na composição do microbioma gastrointestinal pode desempenhar um papel importante na patogênese da DP 8 [uma das variações da doença]”, diz a fisioterapeuta Mônica Bognar. “Antes, o foco das pesquisas era o cérebro. Agora, está sendo redirecionado do cérebro para os intestinos”, completa a especialista.

Dois estudos publicados no início deste ano por pesquisadores brasileiros reforçam a hipótese de que a evolução dos distúrbios neurovegetativos pode ser influenciada pela microbiota intestinal – conjunto de microrganismos que habitam o intestino.

Os trabalhos descrevem a forma pela qual o desequilíbrio entre as bactérias patogênicas e benéficas do intestino – a disbiose – pode facilitar o surgimento da doença de Parkinson.

Em artigo publicado na revista iScience, em março, pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) descobriram que a proteína aSyn, agregada nos intestinos pela proliferação descontrolada de bactérias, pode migrar para o sistema nervoso central, iniciando um provável mecanismo do surgimento da patologia.

Ou seja, há evidências de que células específicas do epitélio intestinal possuem propriedades semelhantes às dos neurônios e podem estar relacionadas ao Parkinson e outras doenças degenerativas.

AUMENTO

A doença de Parkinson está aumentando mais rapidamente que outros distúrbios neurológicos. Em 2016, cerca de 6 milhões de indivíduos tinham diagnóstico de Parkinson, o que significa um aumento de 2,4 vezes se comparado com os dados de 1990.

Nos Estados Unidos, 930 mil pessoas convivem com a doença. Na Espanha são 300 mil, o que representa um novo caso a cada 10 mil pessoas por ano.

Alguns estudos internacionais estimam que o número de pacientes com Parkinson no Brasil dobrará até 2030.

Como o número de pessoas diagnosticadas com a patologia representa em torno de 3% da população com 60 anos ou mais, é possível que 630 mil indivíduos passem a conviver com a doença até o fim desta década. A projeção leva em consideração que existem, hoje, aproximadamente 21 milhões de pessoas nessa faixa etária no País.

TRATAMENTO

Como a doença é progressiva e não tem cura, as terapias ajudam a controlar os sintomas e permitem que o indivíduo continue exercendo suas atividades.

O tratamento com medicamentos estimula a oferta de dopamina, aumentando a sua presença ou evitando a sua degradação, além da deterioração das funções cerebrais e do controle dos sintomas.

Quanto mais cedo se obtém o diagnóstico, mais chances de diminuir a progressão da doença e de melhorar a qualidade de vida ao lado de amigos e familiares, além de ampliar a capacidade produtiva dos pacientes.

Além dos remédios, existem outros recursos terapêuticos, como fisioterapia, cirurgia e até o implante de um marcapasso cerebral que reduz os tremores e a rigidez dos músculos.

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