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ImprimirComo todo paciente de quimioterapia, a jovem catarinense Marcella Cunha, de 20 anos, que sofre de um tipo de câncer chamado linfoma de Hodgkin de esclerose nodular, tem dificuldade para se alimentar, devido aos efeitos colaterais do tratamento. Eles incluem náuseas, vômitos, feridas na boca, aftas, mucosite (lesões na mucosa) e a sensação de boca seca.
Mas, agora, ela conta com um alimento que, além de aliviar esses problemas, funciona como suplemento, atendendo suas necessidades nutricionais. Trata-se de um sorvete especial, desenvolvido por uma equipe de nutricionistas da Universidade Federal de Santa Catarina (USFC).
O produto é resultado do Trabalho de Conclusão de Residência (TCR) no Hospital Universitário da UFSC, da nutricionista Paloma Mannes, especialista em Saúde com Ênfase em Alta Complexidade.
"Eu e minha preceptora, Akemi Arenas Kami, e minha orientadora, Francilene Gracieli Kunradi Vieira, pensamos em algo que fosse aplicável no dia a dia dos pacientes, viável do ponto de vista econômico e prático para o hospital, além de amenizar os sintomas mais decorrentes do tratamento quimioterápico", conta.
"Por isso, realizamos uma pesquisa bibliográfica e detectamos que um alimento gelado atenderia todos esses requisitos."
A princípio, a equipe pensou em fazer geladinhos caseiros, mas uma empresa fabricante de sorvetes de Florianópolis se interessou pelo trabalho e resolveu produzi-lo, o que continua fazendo até hoje.
"O principal objetivo da criação desse produto é proporcionar aos pacientes o consumo de um alimento saboroso e nutritivo, que contemple não apenas a questão nutricional, pois ele tem alta densidade energética e é fonte de fibras e de proteínas, mas que também seja saboroso - considerando que durante o tratamento o paladar encontra-se alterado e são inúmeras as queixas de falta de apetite -, que contribua com a redução dos efeitos colaterais da quimioterapia e proporcione um tratamento mais humanizado", explica Paloma.
Desejo por frutas
Segundo Francilene, a opção pela criação do produto também levou em conta estudos prévios que demonstraram que pacientes em quimioterapia apresentam entre seus principais desejos alimentares a ingestão de frutas, sucos e sorvete. Quanto a sua receita, ela diz que ele é feito com ingredientes diferentes dos convencionais.
"O que desenvolvemos contém açúcar orgânico, a polidextrose, que é uma fibra solúvel, a proteína isolada de soro de leite, mais conhecido como whey protein, e o azeite de oliva sem sabor", revela.
De acordo com ela, essa composição resultou em um produto altamente calórico como os sorvetes tradicionais, mas sendo também fonte de proteína de alto valor biológico e fibra, com baixo teor de gordura total, sem gordura trans, glúten ou lactose.
"Os sabores - morango, chocolate e limão - foram escolhidos por serem os mais tradicionalmente comercializados e aceitos pela população em geral", diz Francilene.
O sorvete foi criado em 2017. O tempo decorrido entre as discussões sobre o desenvolvimento do produto e as análises de aceitação sensorial foi de um ano.
"Após determinarmos os ingredientes e suas quantidades, fizemos a análise sensorial dele com dois grupos de provadores", conta a pesquisadora. "Um deles formado por 30 pacientes com câncer em quimioterapia, e o outro grupo composto por 108 consumidores saudáveis."
Cada provador recebeu uma amostra dos três sorvetes e atribuiu uma nota aos produtos, a partir de uma escala sensorial que variava de 1 a 7 pontos, sendo que notas acima de 5 indicariam a aceitação.
Para que fosse considerado aprovado por suas propriedades sensoriais e pudesse ser comercializado, era preciso que pelo menos 75% dos participantes dessem notas acima de 5 para cada uma das amostras.
De acordo com Francilene, os resultados da aceitação para os três sabores foram bem sucedidos, pois obteve-se uma média que variou de 77% a 98%.
"Podemos concluir que a escolha cuidadosa dos ingredientes tornou possível que desenvolvêssemos um produto de alto valor nutricional e com excelente aceitação pelo público, tanto o saudável quanto aquele em tratamento contra o câncer", diz.
"Esse resultado está possivelmente associado ao fato de que sorvete faz parte de um repertório alimentar reconhecido e apreciado pela população. Por isso, ele representa uma possibilidade terapêutica promissora, tanto na prevenção como na recuperação do estado nutricional de indivíduos doentes, e também para a população em geral que prefere uma versão saudável do produto." Conforto
Aline Valmorbida, outra integrante da equipe, lembra mais um benefício do sorvete.
"Além de amenizar os efeitos colaterais da quimioterapia, também vale ressaltar a importância do produto para a humanização da assistência em âmbito hospitalar", diz.
"Fornecer um alimento tão gostoso e apreciado pela população em geral e ainda com qualidade nutricional traz um pouco de conforto em um momento tão difícil e delicado na vida das pessoas com câncer."
Que o diga Marcella. "O sorvete é muito gostoso, refrescante, alivia as minhas dores e irritações no sistema digestivo, é nutritivo e me causa muito prazer ao enfrentar momentos de mal estar geral", diz.
Ela descobriu que estava com câncer em julho e começou a fazer quimioterapia no início de agosto, tendo que ficar um tempo no hospital para isso.
Marcella conta que consumia o produto todos os dias quando estava internada e que continua tomando em casa agora.
"Por ser um suplemento alimentar, me ajuda a não perder peso e a vencer a fraqueza, pois muitas vezes não consigo me alimentar, por causa do inchaço na garganta e das irritações estomacais", explica. "O sorvete é um grande alívio, além de ser um excelente alimento."
Ela também elogia a equipe que desenvolveu o produto.
É muito bom saber que existem profissionais que se preocupam com o nosso bem estar na luta contra o câncer, que não é fácil e vem acompanhada de muitos desafios", diz. "Por isso, traz grande conforto ver tamanho carinho dos especialistas envolvidos em nos ajudar nessa fase difícil por que estamos passando."