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ImprimirO Museu Nacional da UFRJ apresentou nesta quinta-feira (22) a reconstrução em 3D do rosto de um brasileiro que viveu dois mil anos atrás na área onde hoje fica Guaratiba, zona Oeste do Rio de Janeiro. Ernesto, como foi batizado pelos pesquisadores, possui características bem diferentes do povo indígena moderno.
"O Ernesto joga um novo olhar em cima dessas populações que viveram há bastante tempo, mas não têm relação direta com os índigenas de hoje em dia", ressalta o professor Paulo Miamoto, responsável pela parte tecnológica da reconstrução.
"Nós, brasileiros, não costumamos olhar com detalhes para esse período da nossa história", defende Miamoto.
De acordo com Murilo Bastos, bioarqueólogo do Museu Nacional da UFRJ, Ernesto faz parte de uma população que viveu no Rio de Janeiro entre 8 mil e 1,5 mil anos atrás.
"Quando os portugueses chegaram, eles já não existiam mais. Por isso o Ernesto é tão importante. É um rosto para uma população que não tinha nenhum."
Do mesmo sítio arqueológico de onde saiu a ossada de Ernesto, os pesquisadores encontraram pelo menos outros 21 indivíduos. Uma análise do material revelou ainda o estilo de vida dessa população, que vivia basicamente da caça e coleta.
"O Ernesto, especificamente, era bem baixinho. Tinha entre 1,40m e 1,50m de altura e viveu mais de 38 anos, o que é bastante para esse período histórico. Pelas análises, eles viviam com diversos recursos, mas não eram agricultores. Não apresentavam nenhum cárie, o que indica baixo consumo de carboidratos", explica Bastos.
Reconstrução em 3D
Professor de odontologia legal e anatomia da Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas (SP), Paulo Miamoto utilizou softwares diversos para reconstruir, com base nas características do indivíduo e a estrutura do crânio, a face de Ernesto - com músculos, olhos e nariz.
“Para reproduzirmos o rosto foi feita uma réplica virtual do crânio a partir de fotografias com câmera digital. As imagens foram processadas obtendo o crânio 3D. Estruturas anatômicas foram modeladas virtualmente e por fim recobertas com uma camada de pele que se adapta sobre o conjunto, respeitando a interação entre as partes ósseas e moles. O processo termina com o acabamento, que adiciona detalhes à face, como marcas de expressão, cabelos e iluminação”, explica Miamoto.
Mais do que dar um rosto à população que viveu no Brasil dois mil anos atrás, o professor vê na tecnologia uma aplicabilidade para os dias atuais. "Eu trabalho com odontologia legal, e o processo pode ser utilizado para auxiliar no reconhecimento de ossadas, criando uma imagem facil da vítima", pontua.