Agência Brasil/LD
ImprimirA saúde visual da criança e o aumento "alarmante" dos casos de miopia estão entre as principais preocupações dos oftalmologistas no Brasil. Hoje (10) comemora-se o Dia Mundial da Visão.
Segundo o médico César Lipener, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), o desenvolvimento visual ocorre nos primeiros anos de vida, e a visão atinge a maturidade entre 5 e 6 anos de idade.
“Quando não existe um exame mais precoce, muitas vezes, a criança pode ter algum problema. A criança não se queixa, os pais não percebem, e essa avaliação, quando não é feita a tempo, pode acarretar sequelas ou dificuldades que a criança vai acabar levando para o resto da sua vida”, disse Lipener, em entrevista à Agência Brasil.
De acordo com Lipener, as crianças devem fazer uma avaliação oftalmológica de preferência na idade pré-escolar porque, muitas vezes, os pais não percebem suas dificuldades ou têm a falsa impressão de que elas enxergam bem. “Se houver alguma coisa que chame a atenção, uma hereditariedade muito importante, pais com estrabismo ou com alto grau, a consulta deve ser mais precoce ainda, até no primeiro ano de vida”, afirmou o médico.
Ele destacou que, “felizmente”, os pediatras e as escolas estão ajudando os oftalmologistas, e as crianças estão começando a ter avaliações um pouco mais precoces. O principal, entretanto, é a conscientização dos pais sobre a necessidade da consulta oftalmológica precoce.
Miopia
Segundo Lipener, o número de pessoas míopes vem aumentando em todo o mundo. Ele citou estudos que relacionam a atividade visual de perto com o aumento dos casos da doença, vinculado ao uso de telas de computadores, tablets e smartphones e lamentou que hoje as crianças comecem a manipular esses aparelhos cada vez mais cedo. “Essa é outra preocupação desestimular o uso intenso e precoce de tais aparelhos, trocando-os por atividades ao ar livre. É um fator que, no mundo inteiro, mostrou-se eficaz para diminuir a evolução da miopia. A gente até brinca que, hoje, a chupeta é o celular”.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que, em 2020, a miopia atingirá cerca de 35% da população mundial. As projeções indicam que, em 2050, o percentual chegue a 52%.
No Brasil, o Instituto Data Popular estima que mais de 20 milhões de pessoas tenham problemas de visão, o que corresponderia a cerca de 10% da população. Em muitos casos, isso ocorre porque as pessoas não têm acesso a óculos de grau.
Atualmente, a miopia acomete uma em cada três pessoas no mundo, tornando-se o erro de refração com mais necessidade de prescrição, segundo a OMS. Na Ásia, 90% dos jovens de 20 anos de idade já são míopes, informou Lipener. “A ideia é retardar a evolução [da miopia] e evitar complicações como problemas degenerativos e de retina. Se conseguirmos atrasar a evolução um pouquinho, já teremos um ganho considerável.”
No Brasil, estima-se que 80% das crianças em idade escolar nunca fizeram exames oftalmológicos. De acordo com Lipener, a miopia é um problema que tende a progredir com o passar dos anos e pode ter como consequência prejuízos no aprendizado ou falta de socialização da criança. “O diagnóstico é simples, e atualmente existem opções de tratamento que podem ajudar a retardar a progressão da miopia.”
Outro problema é a visão subcorrigida, quando a pessoa usa óculos incorretos, ou não os usa quando necessário. O hábito de fazer exames oftalmológicos deve ser estendido da infância até a vida adulta, incorporando-se à rotina de cuidados com a saúde. O site Put Vision First (Ponha a Visão em Primeiro Lugar), lançado mundialmente, traz informações para o público leigo e destaca a necessidade de uma rotina de cuidados e de visitas regulares ao médico oftalmologista.
Refugiados
Parte da programação do Dia Mundial da Visão, o projeto Como Você Vê o Mundo, destinado à população que precisa de cuidados oculares, mas não pode pagar pelo serviço, entrega hoje 107 óculos a pessoas inscritas no Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio da Cáritas do Rio de Janeiro. A iniciativa resulta de parceria entre os institutos Ver amp;amp; Viver e Nissan. O projeto foi lançado em 2015 e já beneficiou mais de 30 mil crianças e jovens em todo o Brasil, oferecendo também óculos a mais de 3,5 mil motoristas profissionais.
A diretora do Instituto Ver amp;amp; Viver, Sandra Abreu, disse à Agência Brasil que esta é a primeira vez que a organização distribui no Rio de Janeiro óculos para correção visual a refugiados de várias procedências. Ela informou que a extensão desse atendimento para outras partes do país está sendo discutida para que se possa levar correção visual a refugiados em diversos estados, porque isso "muda a vida das pessoas”. Na próxima segunda-feira (14), crianças, pais e responsáveis atendidos pelo Instituto Ronald McDonald vão receber 60 óculos completos.
A entrega dos óculos é a terceira etapa da ação social que oferece acesso ao ciclo completo da correção visual. Dos 103 atendidos na triagem, 64 foram encaminhados para consulta oftalmológica. “A iniciativa tem corrigido [a visão de] milhares de pessoas no Brasil, especialmente no estado do Rio de Janeiro”, ressaltou Sandra.
De acordo com Sandra, a prioridade é a população de baixa renda, seja nos segmentos mais voltados para a educação, seja no campo dos motoristas profissionais, dentro da campanha pela direção mais segura. Estatísticas mundiais demonstram que 59% dos acidentes de trânsito poderiam ser evitados se as pessoas estivessem corrigidas visualmente, disse a diretora do Instituto Ver amp;amp; Viver.