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ImprimirEncerrando sua visita ao Brasil, a diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margareth Chan, foi nesta quarta-feira (24) à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio, um dos principais centros de pesquisa do país. Após a visita, ela disse que a microcefalia pode ter outras causas além do vírus da zika, mas que "evidências coletadas pelo Brasil apontam para o vírus como causa".
"Para a OMS, o vírus da zika é culpado pela microcefalia até que se prove o contrário", disse Margareth, ressaltando que o governo tem uma tarefa medonha já "que as coisas podem piorar, antes de melhorarem".
Apesar de diversos indícios de que o vírus da zika seja causador de um aumento nos casos de microcefalia no Brasil, a relação não está cientificamente comprovada. Enquanto diferentes frentes de pesquisa tentam encontrar o mecanismo como o vírus causa a microcefalia, o Ministério da Saúde, assim como a OMS, assumem uma postura preventiva, partindo do princípio de que o elo existe, ainda que seja visto com cautela por alguns pesquisadores.
Na entrevista coletiva, Chan disse que a visita ao Brasil poderia se resumir em: compromisso, competência, comunidade, colaboração, compaixão, coragem e comprometimento. Margareth elogiou o trabalho desenvolvido pela Fiocruz e pelo governo brasileiro sobre o mosquito, a quem voltou a chamar de "misterioso".
A diretora da OMS disse que acredita que não haverá problemas durante as Olimpíadas, já que serão no inverno, quando a incidência do mosquito é baixa. Ela disse também que tem mantido contato com o Comitê Olímpico Internacional (COI) e com cientistas brasileiros, que foi convidada a voltar ao Brasil para as Olimpíadas e está pensando em aceitar o convite.
Reunião com ministro
Chan chegou à Fiocruz por volta das 16h, onde teve uma reunião com a direção do instituto, o ministro da Saúde Marcelo Castro, com direção da Opas Brasil e a diretora da Organização Pan Americana de Saúde, Carissa Ettiene. Em seguida, falou com os jornalistas.
Após uma concorrida entrevista coletiva para mais de 50 jornalistas, entre brasileiros e estrangeiros, a comitiva visitou um dos laboratórios responsável pela produção de vacinas em Bio-Manguinhos. Ela elogiou o trabalho desenvolvido pela Fiocruz e pelo governo brasileiro.
O instituto é responsável por estudos e desenvolvimento de tecnologias de diagnóstico simultâneo da dengue, zika e chikungunya, como anunciou o Ministro da Saúde, Marcelo Castro, em visita à Fiocruz no sábado (20). O novo teste demora cerca de três horas para ficar pronto e pode estar disponível ainda no primeiro semestre deste ano.
Na manhã desta quarta, a diretora-geral da OMS esteve em Pernambuco onde conheceu o Instituto Materno Infantil de Pernambuco (Imip) e acompanhou as ações desenvolvidas no combate às doenças causadas pelo Aedes aegypti e no tratamento dos casos de microcefalia.
No encontro ela disse que estava no estado para aprender sobre o problema. "É preciso aprofundar o estudo da relação da zika com a microcefalia. A zika é mistério. Ainda estamos tentando obter respostas. Precisamos comparar padrões. O Brasil tem pessoas competentes. Não tenho medo do mosquito. O trabalho tem sido excelente. Não é fácil. Faço um apelo à mídia: vamos trabalhar juntos", declarou.
Pernambuco é o estado com maior número de notificações de microcefalia. Segundo o último boletim divulgado nesta terça pelo Ministério da Saúde, o estado conta com 1.601 notificações de suspeita, das quais 209 estão confirmadas e 1.188 continuam sob investigação.
Chan foi eleita diretora-geral da OMS após ter sido diretora de saúde em Hong Kong. Em seu primeiro mandato se destacou pelo combate à desnutrição na Ásia e pressão contra problemas sanitários em regimes fechados, como a Coreia do Norte. Em seu segundo mandato, iniciado em 2012, porém, a OMS sofreu muitas críticas pela demora na reação contra a epidemia de ebola no Oeste da África.
Uma reação adequada à epidemia de zika hoje é considerada essencial para a OMS recuperar a credibilidade diante de países em desenvolvimento.
Zika e microcefalia no Rio
Entre 1º de janeiro de 2015 e 13 de fevereiro de 2016, dois casos de microcefalia associados a infecções foram confirmados no Estado do Rio. No total, 227 casos de microcefalia estão em investigação, informou nesta quinta-feira (18) a Secretaria estadual de Saúde.
Desses 227 casos, 181 são de bebês já nascidos e os outros 46 são referentes ao período intrauterino. Deste total, 78 mulheres relataram histórico de manchas vermelhas pelo corpo ao longo da gravidez.
Segundo a Superintendência de Vigilância Epidemiológica da secretaria, desde 18 de novembro de 2015, quando a notificação de gestantes com manchas vermelhas na pele se tornou obrigatória no Rio de Janeiro, 4.152 casos foram notificados.
Dessas 4.152 notificações de grávidas com manchas vermelhas, 164 tiveram a confirmação de vírus da zika, mas ainda não há confirmação se os fetos apresentam microcefalia.
A secretaria ressalta que o resultado positivo para o vírus da zika não configura a existência de microcefalia. Todas as gestantes serão monitoradas até o final da gestação, afirma a secretaria.