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ImprimirO 'A' da sigla LGBTQIA representa os assexuais. São pessoas, em linhas gerais, que não sentem atração sexual ou necessidade de ter relações sexuais. Mas esta é uma definição simplificada do grupo que se define como assexual. A assexualidade é uma orientação sexual e o termo pode ser usado como um guarda-chuva dentro do espectro de pessoas assexuais.
Existem diversas identidades dentro do espectro, como explica Michelle Sampaio, psicóloga especialista em sexualidade humana pela Faculdade de Medicina da USP. Entenda, a seguir, as "sub-orientações" existentes dentro da comunidade de assexuais.
Assexual estrito: que não sente atração sexual alguma por nenhum gênero.
Demissexual: que não sente atração sexual, mas que, ao desenvolver um vínculo afetivo com outra pessoa, pode, eventualmente, sentir alguma atração sexual (em graus diferentes).
Grayssexual: que raramente sente atração sexual, apenas em situações muito específicas.
Assexual Fluido: que em certo momento pode se sentir como um demissexual, depois como grayssexual ou como um assexual estrito. A pessoa transita entre orientações assexuais (assexualidade não-fixa).
O que é assexualidade?
🏳️🌈 A assexualidade está representada pela letra "A" na sigla LGBTQIA . Segundo dados do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, quase 8% das mulheres brasileiras e 2,5% dos homens, entre 18 e 80 anos, são assexuais.
Vale ressaltar que existe diferença entre os termos "assexuado" e "assexual". O assexuado, reforça a psicóloga, seria a pessoa sem sexualidade. Por sua vez, o assexual tem sexualidade, mas não sente desejo sexual.
"Isso não significa que a pessoa não tenha necessariamente desejo sexual na vida dela. Pessoas assexuais podem se perceber com desejo ou decidirem ter uma relação sexual", afirma.
Assexuais se relacionam?
Michelle também comenta que muitos assexuais buscam relacionamentos afetivos, sem que precisem, necessariamente, ter uma vida sexual ativa. No consultório, a psicóloga percebe que há alguns anos existia uma dificuldade de pacientes em se relacionarem ou falarem sobre o assunto. "A assexualidade é algo mais recente de se falar, antes meus pacientes achavam que seriam cobrados", relata.
Não existe uma regra, pontua Michelle. Algumas pessoas assexuais se apaixonam ou buscam parceiros de vida, outras não se pautam por relações amorosas por, simplesmente, não sentirem falta. E estão bem assim.
Dependendo da pessoa, ela pode, inclusive, eventualmente, se masturbar — mas não costumam perceber prazer ou ter vontade de.
Assexualidade não é transtorno
Não existem teorias que comprovem quaisquer questões fisiológicas. Michelle Sampaio esclarece que a assexualidade é uma orientação sexual que não é passível de tratamento. "Muitas vezes, a pessoa que vem buscar o tratamento psicológico com a dificuldade de lidar com a sexualidade ou com a sociedade", conta.
A designer gráfica Sara Hanna, 38 anos, descobriu a identidade assexual aos 28 anos. Desde que teve acesso ao termo até hoje, ela passou por um processo de se entender dentro do espectro, de revisitar seu passado e de se unir com outros assexuais para criar o Coletivo Abrace.
Entre as lutas do coletivo, Sara menciona a busca por políticas públicas: "Ouvimos muitos relatos de hormonização compulsória, tratamentos psiquiátricos ou questões sociais de exclusão". A assexualidade, repetem Sara e Michelle, não precisa de tratamento.
Dentro dos vários alertas dentro do ativismo estão questões relacionadas à saúde física e mental de pessoas assexuadas. Ela relata que alguns assexuais precisam mentir em consultas médicas para conseguirem ter acesso ao básico. "Se a pessoa diz que não faz sexo, alguns profissionais entendem que a pessoa não precisa fazer alguns exames", comenta a designer. 'Eu prefiro bolo'
🍰 A frase "eu prefiro bolo" é uma forma leve de comunidades falarem sobre a assexualidade. Porém, nem sempre a sociedade lida com o assunto com tanta delicadeza.
Ao relembrar sua trajetória, Sara Hanna conta que é comum que pessoas assexuais escutem "vou te ensinar a gostar de sexo". A designer já teve relações sexuais, já namorou e já casou. Desde que se identificou com a demissexualidade e com a grayssexualidade, procurou deixar claro aos parceiros sua orientação sexual.
Mas a verdade, diz Sara Hanna, é que ela não sente vontade ou falta em se relacionar com outras pessoas.
"Não me fecho, mas não busco [relacionamentos]. Não muda nada, não sou fechada a isso, tenho uma vida social bem ativa. Conheço muitas pessoas assexuais que entram em aplicativos de relacionamento, eu não tenho vontade, não faz falta", conta.
Aos 28 anos, quando entrou em grupos online e leu relatos que pareciam a sua vida, que ela compreendeu a assexualidade. "Foi doloroso, eu diria... Me entender assexual foi mais difícil porque percebi muitas situações que, se eu soubesse, eu não teria me colocado", desabafa.
"Entender que não era uma doença foi libertador, mas ao mesmo tempo trouxe esse peso de recordações, de situações que eu tinha me deixado violar por pressões que não precisaria".
Atualmente, Sara Hanna fala abertamente sobre a sua orientação sexual, seja em entrevistas ou em uma mesa de bar. E quanto mais ela conversa sobre o assunto, mais percebe pessoas ao seu redor que também se identificam com a assexualidade, sejam homossexuais, bissexuais ou pessoas da comunidade LGBTQIA .