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ImprimirDurante os primeiros seis meses da campanha “Todos por Elas”, lançada no dia 7 de agosto do ano passado, a bandeira amarela com a frase que dá nome a mobilização estampada em branco e roxo percorreu Mato Grosso do Sul em eventos de todos os tipos: esportivos, culturais e políticos. Um material de qualidade, mas que só serve como propaganda dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.
Com 35 feminicídios em Mato Grosso do Sul só no ano passado, o centro do poder no Estado parecia satisfeito em distribuir botons, camisetas e bandeiras da campanha. O primeiro feminicídio de 2025 também não causou comoção institucional. De prático, não havia qualquer intervenção ou proposta de política pública apresentada pelos cabeças da movimentação.
Não houve repercussão de parlamentares, juízes ou membros do governo diante da morte de Karina Corin, 29 anos, baleada na cabeça no dia 1º de fevereiro pelo ex-marido, Renan Dantas, em Caarapó. Mas as coisas de repente começam a mudar, depois da morte de uma jornalista. Surgiram do dia para a noite projetos de lei, declarações indignadas e finalmente a intenção de dar a devida importância às estatísticas no combate à violência.
Mais do mesmo
A ação de marketing da Campanha Todos por Elas, descrita como iniciativa interinstitucional, tem missão bem audaciosa apesar de nada consistente. Quer “combater, prevenir' e até "erradicar o feminicídio, utilizando a conversa. Para isso tem como eixos de atuação: “movimento solidário de responsabilidade social”; “educação e conscientização”; “uso de tecnologia e comunicação” e “influência positiva e chamado à atenção”.
De acordo como relatório de gestão da Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, palestras, apresentações de teatro completam as ações até 2024. Porém o trabalho gerou só 23 páginas do documento, sem um balanço com o número de medidas de conscientização ou quem foram as pessoas impactadas com seu conteúdo.
O relatório traz apenas o exemplo das ações realizadas pela gigante da celulose Suzano, fábrica instalada em Ribas do Rio, uma das 500 parcerias firmadas pela campanha. A peça teatral Vozes foi apresentada 17 vezes na empresa, alcançando 3.867 colaboradores até dezembro. O relatório também descreve realização de sessões de diálogo e mentoria com equipes de trabalhadores.
Ao Campo Grande News, a idealizadora da campanha, desembargadora Jaceguara Dantas da Silva, justificou que os resultados não são imediatos. “Estamos procurando nos fazer presentes, dar maior amplitude e visibilidade a temática da violência contra a mulher, assim buscamos ter mais adesão à campanha para que esses parceiros se tornem multiplicadores e assumam protagonismo das ações nas empresas públicas e privadas”, descreveu.
Agora vai?
Uma das deficiências até agora era a falta de estatísticas, o que deve começar a mudar em 2025. O TJMS lançou em janeiro o monitor da violência doméstica, ferramenta que tem dados atualizado dos crimes cometidos contra as mulheres como como estupro, feminicídio, homicídio de mulheres, violência doméstica e medias protetivas de urgência. “São dados relevantes para fomentar políticas públicas. É esse protocolo é inédito e era recorrente a solicitação desses dados, conseguimos construir essa ferramenta durante esses seis meses”, aponta.
A bandeira que leva o nome da campanha deve sair as ruas mais uma vez durante o Carnaval. Na semana do Dia da Mulher estão previstas ações em um bairro de para ensinar as mulheres quais são as ferramentas de proteção e como acioná-las.
Enxurrada de projetos
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Gerson Claro (PP), usa como exemplo de medidas "concretas" palestras, caminhadas, discussão do tema em sessão e uso da bandeira em eventos. "Empenho total do poder Legislativo", disse.
Apesar de 35 feminicídios no ano passado aqui no Estado, só agora, após a morte da jornalista Vanessa Ricarte, assassinada com 3 facadas no peito pelo ex-noivo Caio Nascimento, a classe política e jurídica reconheceu falhas na rede de proteção das mulheres e estão se mobilizando para aperfeiçoar os protocolos de defesa;
Pegando carona
O deputado estadual João Henrique Catan (PL), por exemplo, nunca havia sugerido algo referente ao tema. Agora, apresentou proposta que cria o Cadastro Estadual de Agressores de Violência Doméstica e Familiar em Mato Grosso do Sul.
No mesmo dia, a colega petista Gleice Jane cobrou em requerimento ao secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, ao procurador-geral de Justiça do Ministério Público Estadual e ao presidente do Tribunal de Justiça informações sobre o enfrentamento à violência contra a mulher e ao feminicídio no Estado.
Também é dela a indicação solicitando a criação de uma Superintendência de Enfrentamento à Violência Contra Mulheres e Atendimento Especializado a Mulheres Vítimas de Violência, com efetivo majoritariamente feminino.
O colega petista, Pedro Kemp, solicitou a criação de um aplicativo como ferramenta de proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar, além de apresenta Projeto de Lei que garante o acesso aos dados dos antecedentes criminais de terceiros, armazenados nos sistemas de órgãos públicos para fins de consulta para proteção dos direitos da mulher, no âmbito do Estado de Mato Grosso do Sul.
Ocorre que, por falta desse histórico, a jornalista Vanesa Ricarte voltou para casa após romper com o noivo acabou assassinada por ele com 3 facadas no coração.