UOL/PCS
ImprimirDeputados, como Tabata Amaral (PSB-SP) e Érika Hilton (PSOL-SP), disseram que vão entrar com pedido de cassação do mandato de Nikolas Ferreira (PL-MG), que fez um discurso transfóbico hoje na Câmara. Além dela, a bancada do PSOL disse que enviará notícia-crime ao STF (Supremo Tribunal Federal) por crime de transfobia cometido pelo parlamentar.
A transfobia ultrapassa a liberdade de discurso garantida pela imunidade parlamentar. Afinal, transfobia é crime
Tabata Amaral
O que aconteceu:
No Dia Internacional da Mulher, ele foi à tribuna da casa e colocou uma peruca loira.
Ele disse que, hoje, "se sente mulher", é a "deputada Nicole" e "tem lugar de fala".
As mulheres estão perdendo seu espaço para homens que se sentem mulheres. Para vocês terem ideia do perigo que é isso, eles estão querendo colocar a imposição de uma realidade que não é a realidade."
Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado federal
Deputado afirmou que não estava apenas defendendo suas próprias convicções, mas o direito de "um pai não querer que um marmanjo de dois metros de altura entre no banheiro da filha sem ser considerado um transfóbico".
Ele tirou a peruca e disse, em zombaria, que é gênero fluido;
Declarou também que as mulheres não devem nada ao feminismo, e que o movimento que defende igualdade entre gêneros "exalta mulheres que nunca fizeram nada pelas mulheres".
O deputado terminou o discurso com uma fala machista, elogiando as mulheres que têm filhos e formam família. Ele foi aplaudido.
Pouco antes dele, havia discurssado na tribuna a deputada Erika Hilton, que ao lado da deputada Duda Salabert (PDT-MG), são as primeiras deputadas federais transexuais eleitas na história.
A reação de Tabata e de outras parlamentares
Em plenário, a Tabata Amaral rebateu a fala de Nikolas e o chamou de "moleque".
Ela ressaltou que o deputado usou o Dia Internacional da Mulher para tirar o tempo que as deputadas tinham para se expressar com uma "fala preconceituosa, criminosa, absurda e nojenta" e cobrou que outros parlamentares endossem o pedido de cassação.
Quando você ofende uma mulher, você ofende a todas nós. Quando você faz uma fala criminosa como essa, você coloca a fala de todas nós em risco. Essa é a Casa do povo, não dá para fingir que nada aconteceu e seguir os trabalhos depois dessa fala.
A estratégia dos bolsonaristas e transfóbicos é antiga: usam nossas vidas de escada para se construir. Agradeço o apoio de todos. Nenhuma transfobia terá palco. E nenhuma transfobia passará sem respostas políticas e jurídicas à altura. Transfobia é crime."Deputada Erika Hilton (PSOL-SP)
No plenário, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) anunciou que o partido entrou com a notícia-crime no STF contra Nikolas.
Nas redes sociais, a deputada escreveu que "transfobia é crime e mandato parlamentar não pode servir de escudo para a impunidade". "Esse sujeito vai ter que responder no Conselho de Ética e no STF por seus atos", escreveu. Estamos entrando com uma notícia-crime no STF contra o deputado que, infelizmente, foi para tribuna no Dia Internacional de Luta das Mulheres para tentar nos dizer o que é a pauta feminina. Nada mais típico de um machista desocupado do que fazer isso justamente no dia 8 de março. Tentou fazer uma piada sobre aquilo que não tem graça."
Deputada federal Sâmia Bomfim no plenário
Nikolas Ferreira já responde por transfobia
Desde fevereiro deste ano, o deputado responde por injúria racial após chamar a deputada Duda Salabert (PDT-MG) de "ele". Duda é uma mulher trans.
"Ele é homem. É isso o que está na certidão dele, independentemente do que ele acha que é", afirmou Ferreira em entrevista em dezembro de 2020, quando ambos eram vereadores de Belo Horizonte.
Nas redes sociais, Duda Salabert comemorou a decisão. "Posição importante do TJMG que afirma que ofensas transfóbicas são crime de racismo, como decidido pelo STF".
Ao lado de Erika Hilton, Duda Salabert é a primeira parlamentar transgênero da história do Congresso Nacional.