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ImprimirA professora Sylvia, 40 anos, enfrentou uma represália na família, sete anos atrás, quando decidiu não pegar o sobrenome do marido após o casamento. A seguir, ela conta a sua história.
“Nunca fiz questão de usar sobrenome de marido, mas achava que era obrigatório. Foi só sete anos atrás, quando fui me casar, que soube que não precisaria. Fiquei feliz por saber que seria uma decisão minha.
Acho bonito a mulher usar o sobrenome do marido e o contrário também, quando ele usa o dela. Acredito que passa uma ideia de unanimidade familiar. Mas quando fui me casar, não quis pegar o sobrenome dele, que é Silva. Ficaria uma trava-línguas com meu nome. Fora que este também era o sobrenome de um ex noivo, com quem estava antes de conhecer meu marido, e foi um relacionamento que me magoou muito.
Decidi que não alterar o meu nome e fui conversar com ele
Ele respondeu rapidamente: ‘não, imagina, tudo bem’. Demos entrada na documentação do casamento, marcamos a data e fomos ao cartório. Na hora de preencher os papeis, eu coloquei que o meu sobrenome continuaria o mesmo. Tudo ok.
O problema foi encontrar a família dele
Ao sair do cartório, a avó dele, já com mais de 80 anos, me viu e começou a falar um monte: como uma mulher casa e não coloca o sobrenome do marido? Eu tinha vergonha da família dele, afinal? Argumentei. Disse não era isso e expliquei meus motivos. Ela continuou a discutir: antigamente, não tinha essa de escolher se ficaria ou não com o sobrenome. Porque, ao não pegar o sobrenome, era como se eu não tivesse entrado para a família. Respondi que esta era uma decisão minha e do meu marido e que ele não se opunha à minha escolha.
No dia seguinte, nos casamos em uma cerimônia em um sítio. Ela continuou de cara feia: não me cumprimentou, falou comigo ou me parabenizou. Até virou a cara para mim. Por um ano, toda vez que me encontrava dizia algo.
Quando eu achei que as coisas melhorariam, meu marido começou a falar
Fui descobrir que ele não tinha concordado com isso lá atrás, mas não se opôs e passou um tempo nessa angústia. Disse que eu não dei opção a ele, que já estava decidida. Mas também achava que eu tinha vergonha do sobrenome dele. Falou que, ao rejeitar o nome, eu menosprezava ele e não mostrava aos outros que estava casada. Cheguei a oferecer o meu sobrenome para ele, mas ele não quis.
Para tentar me livrar daquela situação, disse que iria ao cartório incluir o sobrenome. Mas ele foi contra, disse que não precisava mais. Esse massacre durou cerca de três anos. Quando nosso filho nasceu, hoje está com 6 anos, chegou a me questionar se ele teria o sobrenome do pai ou só da mãe. É claro que o nosso filho teria nossos dois sobrenomes.
Por fim, eu mantive a decisão de não alterar o nome
Se eu tenho o direito de escolher, acho injusto querer me obrigar a mudar o meu sobrenome. Fora o trabalho e gastos que é mudar os documentos, eu não vejo esta mudança de sobrenome como uma homenagem para o marido ou para a esposa. Eu vejo com uma escolha. E a minha escolha foi permanecer com o meu nome apenas