Correio B/PCS
ImprimirO mito de que os homens dirigem melhor que as mulheres finalmente caiu por terra. Ao contrário do senso comum, que costuma menosprezar a capacidade feminina de conduzir um automóvel, uma pesquisa inglesa comprovou que elas são mais cuidadosas, respeitam mais as leis e causam menos impacto negativo no trânsito.
O estudo foi conduzido pela Privilege Insurance, empresa de seguros do Reino Unido, que monitorou 50 motoristas de dentro do carro e mais 200 pelo lado de fora, em um dos cruzamentos mais congestionados de Londres, o Hyde Park Corner.
As motoristas mulheres superaram os homens nas duas avaliações. Testados em 14 aspectos diferentes de condução, as mulheres marcaram 23,6 pontos de um total possível de 30, e os homens totalizaram apenas 19,8 pontos.
Os resultados não são surpresa para quem estuda o trânsito brasileiro. O psicólogo Renan da Cunha Soares Júnior, especialista e mestre em Psicologia do Trânsito, afirma que existe base científica para afirmar que as mulheres são melhores condutoras.
“Todas as pesquisas de dados demonstram que as mulheres têm sempre um comportamento focado em segurança. E os homens causam mais infrações e se envolvem mais em acidentes. Isso já é bastante consolidado para nós, da área”, pontua.
No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, o número de homens que morrem no trânsito é quase quatro vezes maior do que o de mulheres.
SEM TABU
A instrutora de autoescola Nilza Pires dos Santos, 44 anos, é um exemplo de como as mulheres passaram a ser respeitadas no volante. Ela conta que muitos alunos pedem para terem aulas com uma instrutora mulher. “Eles preferem, porque nós temos mais paciência para ensinar”, conta.
Nilza entrou na profissão por acaso. Desemprega e recém-chegada à Capital, decidiu seguir a sugestão do irmão, também instrutor, e realizou o curso. “Desde o começo, tive facilidade, porque eu amo dirigir”, destaca.
Em sua experiência nas vias, ela diz que as condutoras são muito mais educadas no trânsito, respeitam mais a sinalização e os outros motoristas. Além disso, comemora que, na autoescola em que trabalha, três dos 15 instrutores são mulheres. “Estamos conquistando nosso espaço”.
Felizmente, Nilza nunca sofreu nenhum episódio de preconceito. Porém, diz que é comum ouvir que mulheres não dirigem bem. “São ignorantes que dizem isso”, define.
EXEMPLO
A bancária Marina Callejas, 35 anos, está acostumada a passar uma considerável parte da sua rotina no trânsito campo-grandense. Moradora do Bairro Rita Vieira, ela se desloca todos os dias para a região central, onde trabalha. Também utiliza o automóvel para levar e buscar os filhos na escola, casa dos avós, de amigos, e tem outros compromissos diários, como ir ao banco e ao mercado.
“Eu me considero uma boa motorista”, diz. “Acho que eu sou um pouco ruim de noção de espaço, mas compenso de outras formas. Procuro aplicar à risca tudo o que aprendi na autoescola”.
Para Marina, o que a difere de outros condutores é o fato de que ela gosta de dirigir. “Eu sinto que tenho segurança, não tenho medo de fazer as coisas. Eu adoro dirigir, não vejo como uma obrigação. Só tirei minha habilitação aos 26 anos, então, foi como minha libertação”, relata.
Em sua casa, a bancária sempre teve o exemplo da mãe, que dirigia todos os dias – até mais que o seu pai. “Eu cresci acreditando no meu potencial, independentemente de ser mulher”.
Nas ruas, Marina diz que nunca sofreu preconceito ou ouviu xingamentos machistas vindos de motoristas homens. Mas talvez seja porque ela sempre anda com os vidros fechados e música no rádio. “Se eu sofri preconceito, nem percebi. Mas eu nem ligaria”, garante.
EDUCAÇÃO
A pesquisa inglesa revelou que as motoristas mulheres são mais educadas e flexíveis no volante. Apenas 1% das mulheres, contra 14% dos homens, impediu a passagem de um carro para a pista desejada.
No quesito cortesia, as mulheres lideraram, com 39% sempre sendo educadas com outros pilotos, em comparação com apenas 28% dos homens.
A empresária Roberta Silveira, 28 anos, conta que bateu o carro apenas uma vez – e a culpa foi de um homem que invadiu a preferencial.
“Já tenho dez anos de carteira. Nunca arrumei confusão em trânsito”, afirma.
O psicólogo Renan da Cunha Soares Júnior explica que o perfil masculino é historicamente e geneticamente mais agressivo. “Pela ancestralidade, sempre coube ao indivíduo masculino lutar pelo espaço e pelo poder. Isso acaba refletindo no trânsito, que é um ambiente social como qualquer outro”, comenta.
“Já as mulheres, como o próprio comportamento em saúde já nos demonstra, têm muito mais uma ótica do cuidado, um comportamento preventivo”.
O especialista explica que existem, sim, algumas diferenças específicas. Os homens podem desenvolver maior noção de espaço, mas as mulheres têm uma capacidade melhor do uso da atenção. “De forma nenhuma, o homem é superior. São apenas diferentes”.
Para o psicólogo, o trânsito está cada vez mais se tornando um espaço democrático e é pela participação da mulher que os índices de infração e acidentes podem diminuir ao longo dos anos.