Assessoria/AB
ImprimirA iniciativa de um servidor da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) está ajudando a transformar a vida de crianças e adolescentes carentes na cidade de Coxim. Através da música, o agente penitenciário Josias Alves Gomes tem usado o seu próprio exemplo para contribuir na elevação da autoestima e no interesse dos jovens em seguir pelo caminho digno, longe da criminalidade.
Atuando no Estabelecimento Penal Masculino de Coxim (EPMC) há cerca de um ano e meio, o servidor reserva parte de seu tempo livre de serviço para ensinar, de maneira voluntária, a cerca de 60 alunos – entre 8 e 16 anos – a tocar instrumentos de fanfarra. “Eu sou um exemplo do poder que a música tem em influenciar positivamente as crianças, fiz parte de um projeto como esse quando eu era pequeno e isso me ajudou demais a me tornar um adulto responsável”, comenta.
As aulas acontecem três vezes por semana, nos períodos vespertino e noturno (em dias variados por conta do sistema de plantão que Josias cumpre no serviço). O conhecimento adquirido na lida direta com presidiários, segundo ele, está contribuindo ainda mais nesse processo educacional das crianças. “Converso muito com os meus alunos sobre as histórias que acabo conhecendo na minha profissão, os descaminhos que levam à criminalidade e as consequências dessas escolhas, e percebo que isso, de alguma forma, toca cada um deles”, comenta o professor, revelando que também tem muito apoio da direção do presídio e dos colegas de serviço.
Devido ao seu importante valor social junto à comunidade coxinense, o projeto rendeu neste ano ao agente penitenciário uma “Moção de Congratulação” da Câmara Municipal, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados para a população.
O trabalho junto às crianças iniciou em 2004 na própria casa do servidor penitenciário. “Na época, eu usava equipamentos adaptados que emitiam som, como baldes e cabos de vassoura, e ensinava os filhos dos meus vizinhos”, descreve. Ele conta que a iniciativa foi se ampliando e em 2009 conseguiu um reforço considerável com a doação de instrumentos musicais pela Prefeitura de Coxim.
Já consolidado, atualmente o projeto é conduzido pela Associação dos Amigos, Voluntários e Colaboradores (AAVC), que cedeu espaços nos bairros Piracema e Senhor Divino para a execução do projeto, e fornece lanche e transporte aos alunos, provenientes de vários cantos da cidade. No local ainda são oferecidos reforço escolar e aulas de computação; além de assistência em várias necessidades materiais, de saúde etc., envolvendo até mesmo os pais dos jovens, que podem participar de aulas de artesanato e aprender uma nova profissão. No total, são cerca de 440 assistidos pela instituição, incluindo crianças que fazem parte de outros projetos.
A presidente da associação, Lucimeire Barbosa (mais conhecida como Lúcia da AAVC), que também é vereadora na cidade, destaca que a instituição abraçou o projeto de fanfarra porque acredita que a música tem o poder de envolver as crianças, de despertar nelas a vontade de participar. “Percebemos que a fanfarra tira elas das ruas, pois se sentem valorizadas quando estão desfilando e arrancam aplausos da plateia; a apresentação delas é tão bonita que muitas vezes faz até chorar, de tanta emoção, quem está assistindo”, descreve.
Lúcia ressalta que o empenho de Josias tem sido fundamental para o sucesso da iniciativa. “Ele sempre foi um menino batalhador, dedicado, que realmente tem vocação para ajudar as pessoas que precisam. É motivo de muito orgulho para todos nós”, garante.
Para fortalecer a fanfarra, a AAVC conseguiu o investimento de cerca de R$ 20 mil em novos equipamentos doados pelo Governo do Estado, proveniente de emenda parlamentar; além da doação de instrumentos de sopro pela Fundação Professora Clarice Rondon de Cultura, Desporto e Lazer (Funrondon). “Estamos buscando agora parcerias para conseguirmos recursos para a confecção do uniforme de gala, orçado em R$ 50 mil; nosso objetivo é que eles possam desfilar e competir em outros munícipios”, comenta.
Exemplo
Felipe Oliveira da Silva, 15 anos, é um dos participantes da fanfarra desde o início deste ano. Ele relata que conheceu o projeto através da irmã mais velha, que já era integrante e sugeriu que entrasse para a banda para que ocupasse o tempo. O interesse pela música, revela, fez com que retomasse também os estudos. “O projeto melhorou muito a minha vida, porque quem não estuda não pode participar da fanfarra, então eu voltei a estudar. Parei de andar na rua, e resolvi me dedicar à escola”, afirma, informando que está cursando a 6ª série.
Nas melodias retiradas da combinação de notas musicais da lira que toca, Felipe enxerga um futuro promissor na música, coisa que, na opinião dele, o tempo que passava ocioso nas ruas jamais garantiria. “Daqui a três anos irei para o quartel e poderei tocar algum instrumento e fazer parte da banda, seguir carreira”, acredita.
Participar da fanfarra também ajudou a transformar a vida de Carlos Henrique da Silva, 27 anos, que atualmente também atua como voluntário e é responsável pelo “corpo coreográfico” que fica na linha de frente do grupo. “Mudou 100% a minha vida! Por causa do projeto ganhei um curso de balé e de street dance. Nunca me imaginei fazendo bale clássico e bale contemporâneo, e hoje é uma realidade para mim”, comemora.
Para o diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, “iniciativas como esta mostram, não só a qualidade, como, também, o grande valor profissional dos agentes penitenciários de Mato Grosso do Sul, que, vendo como o crime é pernicioso e como é importante a melhor formação de nossas crianças, dão mais essa importante contribuição à sociedade”.