Sexta-Feira, 17 de Maio de 2024
Cultura
29/04/2024 11:27:00
Academia Sul-Mato-Grossense de Letras destaca protagonismo de Maria da Glória Sá Rosa

CE/LD

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Leve, descontraído, intimista, verdadeiro e edificante – esses são alguns dos adjetivos que resumiriam o acolhimento do público que foi até a sede da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL), na noite de quinta-feira, para mais uma Roda Acadêmica.

No evento, as leituras e as conversas passearam pela generosa oferta de saberes e construções humanas de Maria da Glória Sá Rosa, a inesquecível professora Glorinha, apresentadas por três acadêmicos que conviveram com ela: Maria Serrano, Américo Calheiros e Henrique de Medeiros.

Como convidados, os músicos Lenilde Ramos (também escritora) e Paulo Simões e a professora Albana Xavier Nogueira, também alojados no amplo círculo afetivo de Glorinha, deram depoimentos emocionados sobre a professora.

Na abertura, em parceria chancelada com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), a série Música Erudita ofereceu aos presentes uma audição especial à virtuose do violonista, professor e pesquisador musical Evandro Doto.

Ele executou composições de três grandes mestres na área: Geraldo Ribeiro, Aníbal Augusto Sardinha (Garoto) e Levino Albano da Conceição. Os Chás e as Rodas Acadêmicas são frutos da parceria entre a ASL e a Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura de Mato Grosso do Sul, pela Fundação de Cultura do Estado.

Cada apresentador abordou acontecimentos, conversas e trechos nas relações com a professora Glorinha. Os relatos evidenciaram a presença de vanguarda, marcante e assídua, nos momentos mais emblemáticos para a afirmação das identidades e vocações de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

“São várias Glorinhas. Dedicou-se à educação e à cultura em seus mais diferentes compartimentos. Abriu horizontes para a arte, criou soluções e fomentou o crescente envolvimento da sociedade, especialmente os jovens, nos universos do conhecimento”, salientou Marisa, que foi sua colega de bancos escolares e com quem participou do primeiro vestibular no Estado.

A que une e reúne

Calheiros lembrou da saudável inquietude de Glorinha e de sua obstinada busca por garantias para a produção cultural e pelo mais amplo acesso da sociedade a esse bem fundamental.

“Ela era professora e tinha um amor por nossa terra desde criança. Depois que chegou de Mombaça, a cearense Glorinha viveu em um vai e volta constante entre a cidade natal e Campo Grande, onde acabou fixando-se em definitivo”.

Medeiros fez suas observações com base em crônica sobre Maria da Glória que escreveu para o livro organizado pela escritora Sylvia Cesco, “A Glória Desta Morena”, sobre a professora.

Apontou com ênfase diversos protagonismos que fizeram de Glorinha uma personalidade de imensurável valor histórico, cultural e humanístico.

E afirmou, reportando-se à dinâmica interativa de alguém que todos reconheciam pelas “virtudes de nunca deixar de propor e construir conhecimentos, cultura, liberdade e afetividade. Glorinha, como vemos aqui, é aquela que une e reúne”.

Vizinha e amiga

Os convidados capricharam também na descrição de coisas singulares – como definiu um deles – que realçavam a personalidade de Glorinha.

Lenilde era vizinha, as famílias de Simões e da professora eram amigas.

Albana compartilhou com ela incríveis histórias de avivamento afetivo e artístico-cultural, não só na pesquisa registral, mas nas soluções do ativismo intelectual para o usufruto coletivo.

Polivalente

“Ela foi audaciosa. Fez uma revolução cultural”, assinalou Marisa. “Seus nove livros são fontes indispensáveis para quem estiver à procura de informações sobre as identidades locais”, emendou Calheiros.

“Sua sólida influência é um estímulo que atravessará gerações, sobretudo no aspecto de entender que são a educação e a cultura que acendem as luzes da liberdade”, definiu Medeiros.

Glorinha foi de uma polivalência impressionante para os mais variados acervos da história e da produção artístico-cultural.

Esteve como criadora ou vanguardista de movimentos musicais (um deles, o histórico “Prata da Casa”), nos palcos (criou o teatro Universitário Campo-grandense), no folclore, na dança, nas artes plásticas, no cinema (criou o Cineclube de Campo Grande), na pintura, no artesanato, na literatura, entre outros. Lecionou Português, Francês, Literatura e História da Arte.

Fundou a Aliança Francesa de Campo Grande e abriu espaços no rádio e na TV para a divulgação cultural. Publicou nove livros autorais e com parcerias.

Entre os muitos títulos acadêmicos, era graduada em Línguas Neolatinas (PUC-SP) e imortal da ASL. Professora universitária aposentada, faleceu em 28 de julho de 2016, aos 88 anos.

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