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ImprimirCom o desenrolar do conflito entre Rússia e Ucrânia, a economia mundial passa por mais um período de forte pressão sobre os preços dos combustíveis.
Nesta quarta-feira (2), o preço do barril de petróleo tipo Brent, padrão adotado pela Petrobras, terminou cotado a US$ 112,90, maior valor desde 2014, enquanto o WTI atingiu o maior patamar desde 2011, a US$ 110,60.
Os preços praticados pela Petrobras seguem a paridade de importação (PPI), que serve para a equiparação com o mercado internacional.
Segundo cálculos divulgados pelo Estadão, a defasagem entre o preço do mercado internacional e os praticados pela estatal já está em 27% para o óleo diesel e a 24% para a gasolina.
De acordo com os especialistas consultados pelo Correio do Estado, o impacto não deve ser “amortecido” pela estatal por muito tempo.
E a tendência é de que os combustíveis fósseis cheguem a um preço recorde, caso a situação permaneça.
Segundo o doutor em Economia Michel Constantino, “Rússia e Ucrânia são produtoras e consumidoras de petróleo e, com o confronto entre os países e as sanções econômicas e logísticas impostas à Rússia, teremos uma oferta menor de petróleo”.
Ele explica o que é um princípio básico da economia. Se há maior demanda por um produto, no caso o petróleo, e pouca oferta dele, a tendência é de que o preço seja comercializado em alta.
“Por outro lado, uma demanda crescente por combustíveis no pós-Covid-19 e esse efeito gera maior preço de um petróleo cada vez mais escasso”, argumenta.
Para o doutor em Economia e professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems) Mateus Abrita, o impacto dependerá do tempo de duração do conflito.
“Quanto mais esse conflito demorar para ter um desfecho, pior vai ficando esse cenário. Se o barril do petróleo continuar subindo, inevitavelmente vai ter uma pressão, sim, para reajustar o preço dos combustíveis pela Petrobras”.
Reservas
Nesta quarta-feira, a Agência Internacional de Energia (AIE) anunciou que, apesar de os aumentos no preço do barril de petróleo, não haverá desabastecimento no mercado mundial.
Preocupada também com o conflito, a agência internacional anunciou que serão liberados cerca de 60 milhões de barris de estoques para apoiar a oferta da commodity no mercado, o que corresponde a 4% das reservas dos 31 países que fazem parte do grupo, número que atualmente está na casa de 1,5 bilhão de barris.
Essa pressão do preço no mercado internacional coloca um fardo a mais sobre a Petrobras. A estatal brasileira está há 47 dias sem fazer nenhum repasse no preço dos combustíveis.
De acordo com o diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo e Lubrificantes MS (Sinpetro-MS), Edson Lazarotto, a preocupação é no mundo inteiro e também se estende ao Estado.
“Nós estávamos esperando que o preço do barril chegasse a US$ 100 no fim do ano, [ontem] pela manhã já chegou a US$ 114 por conta dessa guerra desnecessária”, comenta.
Lazarotto conta que politicamente o governo está segurando o repasse e que já há defasagem de quase um real no preço da gasolina e do diesel.
“A Petrobras tem que ver qual o patamar de aumento, dependendo do que vai ser repassado vai afetar toda a economia, o preço dos alimentos, serviços, e a inflação vai aumentar”.
Efeito cascata
Assim como pontua o representante dos postos de combustíveis, os economistas estão atentos ao efeito em cadeia que pode vir dos aumentos consecutivos do petróleo.
Abrita ressalta que, quando o combustível sobe no Brasil, todos os outros preços são impactados.
“E isso bate na inflação. A gente tem de ficar de olho se vamos ter alguma interrupção de cadeias produtivas, e se isso vai afetar alguns mercados. O ideal seria que essa solução viesse o mais rápido possível; quanto mais demorar, pior vai ficando”, conclui.
Para o mestre em Economia Eugênio Pavão, o impacto imediato de uma alta para os combustíveis vai afetar a distribuição de produtos e tornar mais caro os produtos gerais.
“A guerra [prolongada] vai provocar alta do dólar e seus reflexos na economia, com alta dos produtos importados, como o trigo, fora a queda da disponibilidade de produtos da região envolvida no conflito”, analisa Pavão.
Constantino, no entanto, é mais cauteloso com relação ao assunto.
“É cedo ainda para saber como o aumento do petróleo vai impactar na taxa de inflação. Com certeza teremos aumento de preços dos combustíveis e temos expectativas de diminuição de preços de outros produtos e serviços, como a energia elétrica, essa composição vai nos dizer ao longo do tempo como os preços médios vão ficar”, justifica.
Os economistas ainda apontam que também há uma preocupação com os movimentos políticos a partir da alta de preços.
“Congelar preços já foi realizado em governos anteriores e não deu certo, tivemos governos que congelaram preços de combustíveis e de energia e os efeitos foram a quebra das empresas e estagnação, e no fim os preços voltaram com mais força”, frisa Constantino.
Pavão destaca que a instabilidade esperada para o próximo semestre foi antecipada.
“Diante deste cenário, a instabilidade política e econômica esperada para o segundo semestre com as eleições, está sendo antecipada por uma questão geopolítica internacional, com impactos na inflação do Brasil e do mundo”.
Preços
Na última semana, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgou que a gasolina em MS está sendo comercializada no patamar de R$ 7,19 o litro em pontos no interior do Estado, com o preço médio a R$ 6,44.
Já o diesel é comercializado pelo preço médio de R$ 5,48, variando entre R$ 4,34 e R$ 6,15 no Estado.
Só em fevereiro, até o dia 21, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil tinha exportado US$ 2,5 bilhões em petróleo cru.
No sentido inverso, importou US$ 396 milhões e óleos combustíveis e derivados do petróleo que auxiliam na formação do combustível do mercado interno.
O cenário, de acordo com o diretor do Sinpetro, é de apreensão. “Está tudo muito quieto, um dos eixos da política de preços da Petrobras é o preço do barril no mercado internacional, por causa das importações que o Brasil faz, e até agora não há nenhuma sinalização”, diz Lazarotto.