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ImprimirO Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, ficou em 0,01% em junho, a menor taxa para 2019, segundo divulgou nesta quarta-feira (10) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com o resultado, o índice acumula alta de 2,23% no 1º semestre e de 3,37% nos últimos 12 meses, permanecendo bem abaixo da meta de 4,25% definida pelo governo para o ano. Trata-se da taxa em 12 meses mais baixa desde maio de 2018 (2,86%), o que deve aumentar as apostas de cortes na taxa básica de juros, atualmente em 6,5% ao ano.
Foi a menor inflação para meses de junho desde 2017 (-0,23%) e também a menor variação mensal desde novembro, quando houve deflação de 0,21%, ajudada pela sazonalidade favorável, queda dos preços dos alimentos e pela fraqueza da economia, que dificulta os reajustes.
A estagnação econômica, apontou o pesquisador, pode ser percebida no IPCA quando se observa a queda nos serviços. Em 12 meses, a inflação de serviços desacelerou de 3,87% em maio para 3,37%.
“Qualquer efeito de demanda por conta das famílias impacta na inflação. Ontem, por exemplo, saiu uma pesquisa mostrando a queda no consumo das famílias por causa das dívidas. Esse endividamento compromete o consumo das famílias e afeta, principalmente, a demanda por serviços”, disse.
Queda nos preços de alimentos e transportes seguram inflação
A inflação perto de zero em junho foi garantida principalmente pelo recuo dos preços dos grupos "Alimentação e bebidas" e "Transportes", que respondem, juntos, por cerca de 43% das despesas das famílias e apresentaram deflação de 0,25% e 0,31%, respectivamente.
A deflação nos transportes veio da queda nos preços dos combustíveis, em particular da gasolina, que recuou 2,04%. Óleo diesel e etanol também ficaram mais baratos, com deflação de -0,83% e -5,08%, respectivamente. Por outro lado, as passagens aéreas subiram 18,90% em junho.
Entre os alimentos, os destaques de queda foram nos preços de frutas (-6,14%) e feijão-carioca (-14,80%). A queda do preço da energia elétrica (-1,11%) também contribuiu para a desaceleração da inflação em junho.
De acordo com o gerente da Coordenação de Índices de Preços do IBGE, Fernando Gonçalves, a deflação no grupo de alimentação está relacionada à melhor safra do feijão carioca, cujos preços acumulavam alta de 105% em 12 meses até março, e pela maior oferta de frutas.
Veja a inflação de junho por grupos pesquisados e o impacto de cada um no índice geral:
Alimentação e Bebidas: -0,25% (-0,06 ponto percentual)
Habitação: 0,07% (0,01 p.p.)
Artigos de Residência: 0,02% (0 p.p.)
Vestuário: 0,30% (0,02 p.p.)
Transportes: -0,31% (-0,06 p.p.)
Saúde e Cuidados Pessoais: 0,64% (0,08 p.p.)
Despesas Pessoais: 0,15% (0,01 p.p.)
Educação: 0,14% (0,01 p.p.)
Comunicação: -0,02% (0 p.p.)
Sem alta de itens de higiene e beleza, junho teria deflação
Já o grupo "Saúde e cuidados pessoais" foi o "vilão" da inflação no mês, responsável pela maior variação e o maior impacto (0,64% e 0,08 p.p.) sobre o IPCA, pressionado pelo item higiene pessoal (1,5%).
Sem a alta dos preços de saúde e cuidados pessoais, o IPCA de junho teria ficado em -0,08%, segundo o gerente da pesquisa. A alta deste grupamento foi puxada por perfumes (2,19%), produtos para pele (2,70%) e maquiagem (4,57%).
Gonçalves destacou também que, desde 1995, este foi o sexto menor índice para um mês de junho, que costuma ter uma inflação beneficiada pela sazonalidade do período. "Tivemos nesse período, para meses de junho, quatro taxas negativas, uma em zero e essa de 0,01%", destacou.
Perspectivas e meta de inflação
A meta central de inflação deste ano é de 4,25%, e o intervalo de tolerância varia de 2,75% a 5,75%. A meta é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic), que está estacionada há mais de um ano na mínima histórica de 6,5%.
Para julho, Gonçalves apontou que a energia elétrica deverá pressionar a taxa de inflação. Além da mudança da bandeira tarifária, que passou de verde em junho para amarela em julho, foram aplicados reajustes das tarifas em São Paulo (6,61%), Curitiba (1,99%) e Porto Alegre (4,09%). Também houveram reajustes nas tarifas de água e esgoto de Porto Alegre (7,69%), Goiânia (5,79%), Salvador (4,70%) e Fortaleza (-9,95%), o que também deverá provocar maior pressão no indicador.
Os analistas das instituições financeiras, porém, continuam projetando uma inflação abaixo do centro da meta do governo, com uma taxa de 3,80% em 2019, indo a 3,91% em 2020, segundo a última pesquisa "Focus" do Banco Central.
Com a desaceleração da inflação e a economia estagnada têm crescido as apostas de um corte na taxa básica de juros já na próxima reunião do Copom, que acontece no final de julho. Os analistas do mercado financeiro passaram a estimar uma Selic encerrando o ano em 5,50%.
O IBGE calcula a inflação oficial com base na cesta de consumo das famílias com rendimento de um a 40 salários mínimos, abrangendo dez regiões metropolitanas, além dos municípios de Aracaju, Brasília, Campo Grande, Goiânia, Rio Branco e São Luís.
Inflação por capitais
Regionalmente, sete das 16 regiões pesquisadas pelo IBGE registraram deflação em junho, sendo a mais intensa em Porto Alegre, onde o índice ficou em -0,41% pressionado, sobretudo, pelas quedas de 14,37% nos preços das frutas e de 4,66%, da gasolina.
À exceção de Salvador, onde o índice mensal também ficou em 0,01%, as demais oito regiões que tiveram variação positiva no indicador tiveram altas acima da média nacional. A maior variação foi observada em Vitória, com alta de 0,54% pressionada pelos aumentos de 20,21% nas passagens aéreas e de 4,81%, na energia elétrica.
Veja todos os índices regionais:
Vitória: 0,54%
Fortaleza: 0,26%
Curitiba: 0,21%
Campo Grande: 0,18%
Belém: 0,16%
Belo Horizonte: 0,14%
Brasília: 0,13%
Rio de Janeiro: 0,5%
Brasil: 0,01%
Salvador: 0,01%
São Paulo: -0,04%
Recife: -0,08%
Goiânia: -0,10%
Aracajú: -0,12%
Rio Branco: -0,14%
São Luís: -0,24%
Porto Alegre: -0,41%
INPC em junho foi de 0,01%
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como referência para os reajustes salariais, também ficou em 0,01% em junho, abaixo dos 0,15% de maio. O acumulado do ano está em 2,45% e o dos últimos doze meses foi para 3,31%, contra 4,787% nos 12 meses imediatamente anteriores.