Notícias ao Minuto/LD
ImprimirNos últimos cinco anos, o mercado de marmitas cresceu 130%. Segundo dados da Receita Federal, o número de empreendedores especializados em alimentação para consumo domiciliar passou de 102,1 mil, em 2014, para 239,8 mil, em 2019.
A alta taxa de desemprego, que vem fazendo muita pessoa física virar pessoa jurídica, pode ser um dos fatores por trás do fenômeno -basta dizer que 94% dos empreendedores são MEI.
Somente entre novembro de 2019 e janeiro de 2020, o Portal do Empreendedor registrou a criação de quase 3.000 novos MEI nesse segmento.
Segundo Mayra Viana, analista de negócios do Sebrae, a possibilidade de começar devagar, sem grandes investimentos, é um dos atrativos para novos empreendedores.
"Eles podem iniciar a produção de forma caseira, testando primeiro como as pessoas da vizinhança aceitam o produto", afirma Viana.
O primeiro passo para quem está começando, ela aconselha, é consultar a prefeitura. O MEI tem autorização automática para trabalhar em casa, mas cada prefeitura tem regras próprias em relação às atividades permitidas em cada bairro.
O segundo é estudar a Cartilha sobre Boas Práticas para Serviços de Alimentação, elaborada pela Anvisa e disponível no Portal do Empreendedor.
"A Resolução 49/2013 instituiu princípios da razoabilidade para orientar o trabalho dos fiscais junto às MEI. Se eles forem até o local, devem fazer uma visita orientadora, não punitiva, mas é preciso que o empreendedor siga normas básicas em respeito ao cliente."
Na hora de elaborar um plano de negócios - os primeiros passos podem ser consultados no Portal Sebrae. Mayra aconselha ainda estudar a fundo o mercado.
"Ainda há espaço para microempresas de atuação local, mas a concorrência é grande. O empreendedor precisa escolher o segmento que vai explorar e conhecer o consumidor, para saber o que ele está procurando."
O nicho das marmitas saudáveis, veganas, para dietas de emagrecimento e para intolerantes a glúten e lactose, por exemplo, está em alta e foi a escolha da paulistana Fernanda Cassullo, 38 anos.
Nutricionista de formação, ela fazia atendimento em domicílio e, sempre que prescrevia uma dieta especial, a clientela chiava, alegando falta de tempo para cozinhar.
Fernanda enxergou uma oportunidade, se associou à mãe, Maria Marguerita do Amparo, e criou a Naturale Marmitaria Saudável em 2015.
A empresa começou como tantas outras do ramo. As duas anunciavam as marmitas entre amigos e pessoas mais próximas, pelo Whats App, e faziam as entregas pessoalmente.
O cardápio fixo, com apenas 10 opções de refeições, era preparado no fogão de casa e congelado no freezer doméstico. As embalagens eram adquiridas em pequenas quantidades nas lojas de bairro, o que diminuía a margem de lucro.
"O início foi confuso, porque é difícil separar a cozinha da família da produção. O preço das marmitas era chutado. Se faltava um tempero, a gente usava o que tinha em casa, fora a confusão nas contas de água e gás", diz Fernanda.
Ainda assim, não demorou para o negócio decolar. Apenas dois meses depois, a dupla investiu R$ 3.000 para reformar um espaço da casa que estava desativado: instalou piso cerâmico, fogão profissional com coifa, geladeira e freezer horizontal, todos de segunda mão.
Ao mesmo tempo, Fernanda procurou o Sebrae, que a auxiliou na elaboração do plano de negócios, e se inscreveu em cursos de marketing e de finanças.
Foi nessa fase também que elas optaram pelas marmitas congeladas. Fernanda conta que até tentou vender comida fresca, mas não conseguiu garantir que as refeições chegassem quentes e com qualidade.Em 2018, as empreendedoras arriscaram um novo salto: construíram um galpão de 230 m² no mesmo terreno de sua casa, ao custo de R$ 180 mil, onde já trabalham 10 funcionários.
Hoje, a Naturale Marmitaria Saudável vende 4.000 marmitas por mês, que se dividem em nove linhas e custam entre R$ 14,10 e R$ 26,60.
Sempre que lança um prato novo ou uma promoção, Fernanda usa o Facebook e o Instagram para se comunicar com a clientela. Dúvidas e reclamações podem ser resolvidas pelo WhatsApp.
Segundo a consultora do Sebrae, diversificar os canais de divulgação e caprichar nas redes sociais, com atualizações constantes e fotos de boa qualidade, é fundamental.
O site naturalemarmitaria.com.br funciona como e-commerce e aceita pagamentos em cartão, ticket ou boleto. As entregas são feitas em todos os bairros da cidade de São Paulo pela empresa Loggi -o cliente paga R$ 20 pelo frete, com pedido mínimo de R$ 100.
Além da venda para consumidores finais, Fernanda e a mãe descobriram outro filão ainda mais promissor. Mensalmente, elas fornecem 8 mil marmitas para clínicas médicas, vendidas por atacado e entregues em carro refrigerado próprio.
Como a clientela PJ já responde por metade do faturamento, as duas planejam crescer nessa direção. Em dezembro de 2019, compraram um ultracongelador de R$ 45 mil, que reduz o tempo de congelamento de 24 horas para 2 horas e meia. Nos próximos meses, pretendem comprar a segunda câmara fria.
"Tudo o que investimos veio da própria empresa, nunca pedimos empréstimo", diz Fernanda.