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ImprimirBasta apurar os ouvidos e dar uma volta pela cidade para constatar que a crise não ofuscou o carnaval do Rio, que brilha como nunca. O chiado típico do sotaque carioca já divide espaço com uma infinidade de outros. Nos dias de folia, vão circular pelas ruas da cidade 1,1 milhão de turistas, segundo a Riotur. O número é o maior dos últimos oito anos. Em 2016, por exemplo, 1,02 milhão de visitantes aproveitaram as nossas belezas, os blocos e o Sambódromo, diz um levantamento da empresa de turismo.
Com toda essa procura, e mesmo com 18 mil leitos de hotel a mais que no ano passado, o Rio terá ocupação que beira os 90%, praticamente o mesmo índice de 2016, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH). A festa, cada vez maior, vai injetar R$ 3 bilhões na economia, mais do que os US$ 821 milhões de 2016, equivalentes a R$ 2,5 bilhões em cotação atual.
De acordo com o presidente da ABIH, Alfredo Lopes, o carnaval de 2016 teve uma taxa de ocupação hoteleira de 88%, mas 2015 foi um ano melhor, com 92% de ocupação. De lá para cá, entretanto, a cidade ganhou quartos de hotel, por conta da exigência do Comitê Rio 2016 para os Jogos Olímpicos.
— Do ano passado para este ano, entraram em operação 18 mil quartos. Teremos uma ocupação melhor do que a do ano passado. E vamos ter um numero maior de turistas porque temos mais quartos - explica Lopes. - Até quinta-feira, a taxa estava em 80%, mas é comum crescer 10% só no fim de semana.
Para Lopes, os Jogos Olímpicos influenciaram a alta, principalmente entre os turistas nacionais. No exterior, faltou, na visão dele, a continuidade de investimentos em promoção do destino pela Embratur. Por outro lado, impactado pela veiculação de imagens do Rio na mídia, o público brasileiro respondeu. A alta do mercado nacional, que também pode ser fruto da crise (já que viagens para o exterior se tornaram mais caras), fez mudar ligeiramente o perfil dos ocupantes dos hotéis. Em anos anteriores, a média era de 35% de estrangeiros nos quartos. Este ano, a estimativa é de 20%.
— A crise nos ajudou porque as pessoas não viajaram para o exterior. E o mercado nacional foi mais impactado com as informações da Olimpíada — afirma o presidente do ABIH.
Lopes acredita que o perfil do turista do Rio varia de acordo com o que ele pretende fazer no carnaval. Hoje, avalia, o carnaval de rua é responsável por trazer mais turistas em termos numéricos. Mas os desfiles da Marquês de Sapucaí ainda abastecem o mercado do turismo de luxo, trazendo visitantes com mais poder aquisitivo. Nada impede, entretanto, que a vinda ao Rio não valha um passeio pelos dois "carnavais" que agitam a cidade:
— Os blocos estão mais fortes. E há famílias que viajam para ver desfiles no Sambódromo. Os blocos reúnem mais jovens, que vêm de carro, de ônibus, e ficam em hotéis mais econômicos. O pessoal da passarela é mais de hotéis de luxo. O que aumentou muito é a procura pelo Desfile das Campeãs. Muita gente passa até o carnaval em outro lugar, mas vem ver as campeãs.
Para o presidente da Riotur, Marcelo Alves, o carnaval tem que ser tratado como um produto que traz "retorno financeiro". De acordo com dados da entidade, o número de turistas tem aumentado a cada ano, e saltou de 719 mil em 2009 para 1,1 milhão este ano. A renda gerada para a cidade também pulou de US$ 521 milhões (ou R$ 1,6 bilhão) para uma projeção de R$ 3 bilhões este ano.
— O carnaval é o nosso principal produto para alavancar o turismo no Rio. Ele ultrapassa todas as barreiras e não tem ninguém no mundo que não conheça e queira participar disso tudo. Temos que tratar como negócio de marketing para ter retorno financeiro. Só vamos sair da crise se tratarmos e ampliarmos nossa vocação para o turismo - afirma o presidente da Riotur em uma nota enviada ao GLOBO.
Pela cidade, já se vê turistas pelos palcos da folia, antes mesmo de ela começar. O argentino Eliseo Hermida, de 42 anos, levou as duas filhas, Oriana, de 18, e Martina, de 20, para conhecer a Marquês de Sapucaí ainda vazia. Os três vão desfilar juntos no Império Serrano. Para as meninas, é a primeira experiência no carnaval do Rio. Eliseo é veterano. Ele frequenta o carnaval da cidade há dez anos e, há dois, desfila na verde e branco. Apaixonado pelo carnaval, ele toca surdo em uma escola de samba argentina, a Deixa Falar.
— Elas escutam samba o tempo todo. Nós falamos muito sobre o que acontece aqui, no carnaval. Este ano, decidi trazê-las para ver um espetáculo lindo - diz Eliseo, que já havia levado as meninas para conhecer a quadra da escola.
Já a servidora pública paranaense Sandra Boritza, de 45 anos, se aventurou numa "excursão" com nove amigas - a maioria, recém-separada. O grupo brinca que é o "bloco das solteiras". Vão à Sapucaí hoje à noite, mas não querem perder os blocos de rua. Na sexta-feira, cinco delas aproveitaram o dia de sol para um passeio na Praça Mauá.
— Todas já tínhamos vindo ao Rio, mas para o carnaval é a primeira vez. Quero assistir aos desfiles do Sambódromo. Eu já fui a Salvador, mas fiquei meio decepcionada - revela Sandra.
O casal de dentistas gaúchos Andreia Recchi, de 31 anos, e Luiz Freitas, de 37, também veio ao Rio pela primeira vez. Tentando capturar a selfie perfeita no meio da Praça Mauá, os dois diziam não ter medo da violência.
— Como qualquer cidade brasileira, tem que se cuidar, mas acho que Porto Alegre está até pior que o Rio. Sempre tive curiosidade de ver os desfiles das escolas de samba. Acho que vale a pena vir pelo menos uma vez na vida - conta Luiz.
Outra frente turística da cidade fica no Píer Mauá. É por ali que vão passar, durante os dias de carnaval, sete cruzeiros, sendo cinco estrangeiros e dois nacionais. Ao todo, as embarcações vão trazer 50 mil turistas à cidade. No ano passado, eram 11 navios, mas com o mesmo número de visitantes. A estimativa do diretor de operações do Píer, Alexandre Gomes, é que só a atividade dos cruzeiros movimente US$ 18 milhões.