Sheila Forato
ImprimirPelas mãos calejadas de Carlos Alexandre Rigueiro, de 30 anos, escorre a areia que pode ser a redenção da região norte, a mais pobre de Mato Grosso do Sul. Morador da Silviolândia, distrito de Coxim, o pedreiro apostou no desenvolvimento econômico da cidade há quatro anos, mas tem encontrado dificuldades para sustentar a família.
Desempregado, Rigueiro mora numa casa simples com a esposa Carmem e os quatro filhos, com idades entre 8 meses e 8 anos, dependendo de bicos para levar o sustento à família. Apesar das dificuldades, o pedreiro acredita em dias melhores.
A esperança no crescimento econômico veio com o estudo inédito em Mato Grosso do Sul, idealizado pela equipe técnica do LabSenai Cerâmica de Rio Verde, que coletou amostras de areia em oito municípios da região para análises na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
Embora ainda esteja em fase de estudo, o projeto traz um pensamento inovador para o norte, ainda não difundido, sobre os setores minerais, de massas e esmaltes, vidros e construção civil, aposta a gerente da qualidade do LabSenai Cerâmica, Vânia Carla da Silva Souza Brito.
Ela explica que foram coletadas amostras de areia de Alcinópolis, Corguinho, Costa Rica, Pedro Gomes, Rio Negro, Rio Verde, Sonora e Coxim, incluindo o distrito de Silviolândia. Para extrair a areia foram feitos aproximadamente 100 furos, sendo cinco em cada formação geológica. Em seguida, a equipe fez os ensaios granulométricos e a elaboração dos relatórios com profundidade dos furos, latitude e longitude do local da perfuração para encaminhar à universidade.
“Após a análise qualitativa da areia vem à segunda etapa, fazer escavações para dimensionar a quantidade da matéria prima, fator importante para atrair os investidores”, adiantou a gerente. Segundo Vânia, o banco de dados ficará a disposição das indústrias de todo o Brasil, servindo para indicar os usos apropriados, evitando desperdícios da areia com alta qualidade para fins de baixo valor agregado.
Na maioria das cidades a areia está em locais de difícil acesso, de acordo com o técnico em cerâmica do Senai de Rio Verde, Márcio de Andrade. Entretanto, a mesma pode ser vista em abundância as margens da estrada que corta a Serra da Alegria. “Quem passa por ali não tem idéia que as formações claras, nos dois lados, podem alavancar o desenvolvimento de Rio Verde”, enfatizou o técnico.
Paralelo a pesquisa citada, alguns municípios da região tem investido em estudos do solo, como São Gabriel do Oeste, que já despertou o interesse de investidores do Paraná no ramo de revestimento cerâmico. O mesmo estudo deve ser feito em Pedro Gomes e Sonora, cidades cujas prefeituras tem buscado auxílio do Senai de Rio Verde para elevar os números da indústria.
Não é preciso aprofundar em economia para afirmar que o norte é a região mais pobre de Mato Grosso do Sul. O mapa da indústria produzido pela Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul), com referência a 2013, comprova que o norte tem o pior desempenho no Estado, ficando em último lugar em números de indústrias (405), trabalhadores (4.000), exportação (US$ 3,4 milhões) e Produto Interno Bruto Industrial (R$ 303 milhões). Os motivos são inúmeros, entre eles as restrições ambientais por conta do Pantanal, limitando instalação de algumas indústrias na região.
Porém, essa situação pode estar com os dias contados. Para o prefeito de Rio Verde, Mário Alberto Kruger, as ações da Fiems tem contribuído com a economia da região, que sofre com a falta de emprego. “A indústria é a força da economia e a Fiems tem papel importante no desenvolvimento de Mato Grosso do Sul”, salientou o prefeito de Rio Verde, município que concentra o maior número de indústrias cerâmicas no Estado.
Dos empregos gerados pela indústria na região norte, 600 diretos e 2 mil indiretos estão nas cerâmicas de Coxim e Rio Verde, segundo o presidente do APL (Arranjo Produtivo Local) Cerâmico, Mauro Fornari, que também é empresário do ramo. Juntas, as cerâmicas produzem ao mês cerca de 10 milhões de blocos de vedação (tijolos), além de telhas, pisos, revestimentos, artesanatos, entre outros.
Com a melhor tecnologia do Brasil para cerâmica vermelha, as indústrias do APL movimentam aproximadamente R$ 4 milhões ao mês, abastecendo o mercado de todo o Mato Grosso do Sul com produtos fabricados no norte por empresas compromissadas com meio ambiente, que não acumulam lixo cerâmico e não queimam madeira nativa.
“Essa é a tendência”, afirma o presidente do Sindicer/MS (Sindicato das Indústrias Cerâmicas do Mato Grosso do Sul), Natel Moraes, que acredita no crescimento sustentável. “Nascido e criado” no setor, ele se define como um apaixonado por cerâmica e aposta constantemente no mercado, mas alerta: “só vai sobreviver aquele que investir em tecnologia, na qualificação e que, acima de tudo, respeite o meio ambiente”.
De família tradicional em Rio Verde, dona de três cerâmicas, incluindo uma em Coxim e outra em Campo Grande, o jovem empresário relata que um dos maiores desafios para o setor é a mão de obra, mas a indústria conta com uma grande parceira, a Fiems, que qualifica profissionais por meio do Senai para atender a toda a região.
Na área técnica, o Senai de Rio Verde oferece três cursos, em Cerâmica, em Edificações e em Química, sendo que a maioria dos alunos deixa os cursos com empregos garantidos. Essa é aposta da aluna do curso de Técnico em Química, Thaisy Costa Sales, de 18 anos, que tem dedicado a maior parte do seu tempo para se qualificar, adquirindo conhecimento num dos cinco laboratórios que ocupam 800 metros quadrados do Senai de Rio Verde.
Nas cerâmicas da região norte não faltam exemplos de sucesso. Aos 28 anos, Elacir Junior dos Santos França é o eletricista responsável por uma das maiores indústrias cerâmicas de Rio Verde, localizada as margens da BR-163. Ele conta que era frentista quando resolveu estudar, em 2010. Ao procurar o Senai para cursar Elétrica Industrial França não cogitava ser absorvido pelo mercado da própria cidade, mas, logo veio a contratação.
Há mais de dois anos na indústria ele fala com orgulho da posição que ocupa e da vida que vem construindo ao lado da esposa, Darlene de Jesus do Carmo, de 32 anos, com quem tem um filho de 11 meses. “A força da indústria me possibilitou comprar uma casa, um carro e uma moto, mas eu quero mais, por isso pretendo fazer um curso técnico na mesma área”, adiantou o eletricista.
Para o gerente do CetecSenai de Rio Verde, Valter Costa, essa é uma das missões da Fiems, por meio do Senai, promover a educação de forma a contribuir com a indústria brasileira. “Estamos fazendo isso de várias formas, mas, principalmente, em parceria com as prefeituras, para onde estamos levando diversos cursos, a maioria de forma gratuita”, frisou o gerente.
Nas cidades que não contam com a estrutura de Rio Verde, o Senai oferece os cursos em containers ou unidades móveis. A previsão da Fiems é de qualificar em 2014, somente na região norte, mais de 2,5 mil pessoas através do Senai. Inicialmente, a maioria das vagas é destinada a Rio Verde (831), Sonora (567) e Costa Rica (509).
A expectativa do presidente da Fiems, Sérgio Longen, é qualificar 100 mil pessoas ao longo deste ano em todos os municípios do Estado, melhorando o salário do trabalhador e a renda da família. Desta forma, a Fiems desempenha papel estratégico para consolidar a indústria e transformar a economia da região norte de Mato Grosso do Sul.