G1/LD
ImprimirA Universidade de São Paulo (USP) afirmou que 168 dos 183 cursos de graduação já cumpriram a cota destinada a estudantes que fizeram o ensino médio na rede pública. Segundo dados sobre o perfil de calouros divulgados nesta semana, esses cursos registraram pelo menos 40% de suas matrículas feitas por estudantes de escola pública, a meta estipulada pela própria universidade para 2019.
Já em relação à cota racial, a USP diz que 150 cursos já garantiram que, entre os calouros da rede pública, pelo menos 37,5% também se autodeclarem pretos, pardos ou indígenas (PPI). Considerando todos os calouros, a universidade diz que 40,1% deles são oriundos de escola pública e PPI.
Em um comunicado, a instituição afirmou ainda que os cursos não listados entre o grupo que cumpriu a meta "ainda estão em fase de preenchimento das vagas resultantes das últimas chamadas da Fuvest e do Sisu [Sistema de Seleção Unificada]".
"Esse foi o maior índice de alunos de escolas públicas alcançado pela USP nos últimos anos. Até o vestibular de 2014, a proporção de estudantes desse grupo ingressantes na USP variou na faixa de 24% a 27%. Entre 2015 e 2017, esse índice ficou entre 34% e 37% e, em 2018, chegou a 39%", diz a nota.
De acordo com os dados, o curso com a maior porcentagem de estudantes pretos, pardos ou indígenas de escola pública é geografia no período noturno: 83% dos calouros se enquadram nessa modalidade.
Já os três cursos de medicina também cumpriram a cota racial mínima. Segundo o comunicado, nos cursos oferecidos em Ribeirão Preto e Bauru, 43% dos matriculados são PPI de escola pública. Já no curso de medicina nas Clínicas, em São Paulo, essa porcentagem foi de 39%, um pouco mais alta que a meta mínima de 37,5%.
A USP e o Sisu
Neste mês, o G1 mostrou que, após quatro anos de adesão parcial ao Sisu, a USP conseguiu preencher praticamente todas as vagas oferecidas no site do Ministério da Educação na primeira chamada.
Apenas duas não tiveram candidatos aprovados, uma oferecida no curso do ciclo básico de materiais e metalúrgica na Escola Politécnica, e outra no curso de engenharia de materiais e manufatura na Escola de Engenharia de São Carlos.
A análise foi feita a partir de um levantamento inédito feito com base nos dados do site do Sisu e não considera o número de matrículas registradas de fato. Nos anos anteriores, por causa da exigência de notas mínimas muito altas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a USP não conseguiu encontrar estudantes com nota suficiente para poder se inscrever na seleção.
Além de reduzir a nota mínima no Sisu, a USP também precisou instituir o sistema de cotas no processo de inscrição do vestibular da Fuvest, para garantir que um número mínimo de candidatos das diversas modalidades chegasse à segunda fase.
Histórico da inclusão na USP
2015:
Com 91 votos a favor, 10 contra e 1 abstenção, o Conselho Universitário da USP (CO) aprovou a adesão parcial ao Enem e ao Sisu em caráter "experimental".
No total, 1.489 vagas de graduação na USP foram oferecidas pelo Sisu, o que representou 13,5% de todas as vagas do vestibular. As demais continuaram a ser disputadas pela Fuvest. Na prática, porém, foi o primeiro ano em que a USP reservou vagas para cotas específicas de escola pública e cor/raça.
A adesão das faculdades era facultativa na época, e a Faculdade de Medicina da USP ficou de fora do Sisu. "As provas são diferentes. O Enem é avaliatório, a Fuvest é seletiva. A Fuvest tem 40 anos, nunca deu problema", disse o diretor da FMUSP em 2015.
2016:
No termo de adesão ao Sisu, vários cursos da USP, em sua estreia, decidiram exigir uma nota mínima de 700 pontos no Enem.
Em seu primeiro ano no Sisu, a USP conseguiu preencher apenas 54,7% das vagas oferecidas; 675 das 1.489 vagas ficaram sobrando após a seleção do Sisu, e então foram remanejadas para a seleção da Fuvest.
2017:
No segundo ano, algumas mudanças foram feitas na participação da USP no Sisu. Uma delas foi aumento de 57% no número de vagas oferecidas no sistema.
Já o número de vagas reservadas para as cotas raciais cresceu 367%. Além disso, a maioria dos cursos aderiu parcialmente ao Sisu, com exceção de 22 deles, inclusive o de medicina na FMUSP.
Nesse ano, a USP chegou a atingir a porcentagem de 36,9% dos calouros oriundos do ensino médio em escola pública. Apesar de recorde, o número ainda estava longe da previsão da universidade, que esperava atingir marca de 50% em 2018.
Para o vestibular do ano seguinte, a USP tomou outra decisão histórica, e aprovou uma resolução que, na prática, instituía o sistema de cotas também na Fuvest, adiando para 2021 a meta de chegar a 50% de calouros saídos da rede pública.
Para o vestibular 2018, a participação do Sisu no total de vagas de graduação na USP chegou a 24,6%, incluindo, pela primeira vez, vagas de medicina da FMUSP.
A cota racial segue o mesmo critério da Lei Federal de Cotas: o número de vagas reservadas para pretos, pardos e indígenas (PPI) deve corresponder à mesma proporção da população no Estado; no caso de São Paulo, a USP usa como referência a proporção de 37,5%, mas apenas os estudantes de escola pública podem concorrer nas cotas raciais.
2018:
No ano passado, a expansão de cursos no Sisu levou mais uma vez à definição de notas mínimas altas demais para garantir a participação de candidatos. Um levantamento do G1 mostrou que cinco cursos da USP exigindo notas de pelo menos 650 pontos nas provas do Enem ficaram sem notas de corte parciais do Sisu, porque o número de candidatos foi menor que o de vagas.
Na primeira vez que a medicina da FMUSP destinou 15 vagas para estudantes de escola pública que se autodeclaram pretos, pardos ou indígenas (PPI), apenas uma candidata cumpria esses requisitos e também as notas mínimas exigidas de 700 pontos em todas as provas.
Na primeira chamada do Sisu, 48 vagas oferecidas da USP ficaram vagas porque não havia candidatos que preenchiam os critérios.
Depois de todas as etapas de matrícula, o curso de medicina da FMUSP não conseguiu matricular o número mínimo esperado de estudantes PPI. De 248 vagas preenchidas, 109 matrículas foram feitas por estudantes que fizeram o ensino médio na rede pública, sendo que 33 deles também se autodeclararam pretos, pardos ou indígenas.
A USP, porém, disse que cumpriu a meta global em relação à proporção de estudantes de escola pública e pretos, pardos ou indígenas sobre o total de ingressantes.
De acordo com os dados declarados pelos estudantes no ato da matrícula, a USP matriculou 11.030 calouros no ano passado, sendo que 4.744 (ou 43% do total) estudaram em escola pública, e 1.855 desses são da categoria PPI.
2019:
A partir deste ano, a meta agora exige que cada curso de graduação reserve 40% das vagas para alunos da rede pública. Ou seja, não basta que a média da unidade ou da própria USP atinja a meta, é preciso que cada curso também chegue a esse patamar.
No total, foram oferecidas 11.147 vagas, sendo 8.365 delas pela Fuvest (a grande maioria na ampla concorrência) e 2.782 pelo Sisu (a grande maioria pelas cotas). A participação do Sisu nas vagas do vestibular da USP chegou a 25%.
Além disso, pela primeira vez, a própria Fuvest instituiu um sistema de reserva de vagas desde o ato da inscrição, para garantir o cumprimento da meta.