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ImprimirNeve, idioma, alimentação e cultura diferentes. No continente europeu, o egresso do curso de Engenharia Física da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems), Lucas Lemos da Silva, de 26 anos, está realizando um sonho ao conhecer mais da Alemanha, onde cursará doutorado na área de materiais cerâmicos até 2022.
A pesquisa nasceu em um dos laboratórios da Uems, de Dourados, orientada pela professora Margarete Soares, na Iniciação Científica; foi para o mestrado no Programa de Pós-graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e Materiais (PPG3M), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul; e agora continuará no doutorado no Karlsruhe Institute Technology, na cidade de Karlsruhe, Alemanha.
Lucas da Silva estuda ‘nano fibras cerâmicas’, que são fios muito pequenos que medem 0,000000001 metro (um milionésimo de milímetro ou um bilionésimo de metro). Essas fibras são componentes de dispositivos eletrônicos (supercapacitores, por exemplo) que são promissores substitutas de baterias, devido sua alta capacidade de armazenamento de carga elétrica e velocidade de recarga, que ocorre em questão de segundos.
“Eu estudo a cerâmica semicondutora titanato de bário e estrôncio (BST), sintetizada por eletrospinning (eletrofiação). Quanto menor o diâmetro da fibra, maior é a reatividade do material e maior capacidade elétrica o supercapacitor terá. Almeja-se alcançar fibras menores que 50 nanômetros de diâmetro que sejam porosas. Durante o mestrado na UFRGS o menor diâmetro que alcancei foi de 370 nanômetros, mas aqui na Alemanha tenho tecnologia suficiente para alcançar o desejado. A utilização dela em supercapacitores é apenas um exemplo. O material poderá ser aplicado em células fotovoltaicas, baterias, microeletrônica, etc”, explicou.
Ele é natural de Campo Grande e se mudou para Dourados em 2003, com os pais e os três irmãos, sempre estudando em escola pública. Em 2009 passou para o curso de licenciatura em Física, na Uems, entrou e ficou sabendo que no ano seguinte ia abrir Engenharia Física, então fez o vestibular novamente e iniciou na Engenharia.
“A Engenharia Física é um curso multidisciplinar, nós tivemos diversas disciplinas diferenciadas como eletrônica, automação e controle, estudo de materiais, entre muitas outras, que dão ao egresso de Engenharia Física ‘N’ possibilidades para seguir depois que termina. Vou ser sempre grato aos meus professores, porque o que eu faço hoje, cada professor que eu tive contribuiu muito para que tudo o que aconteceu após a graduação se desenrolasse”, lembrou.
Em dezembro de 2014 ele finalizou o curso, mas foi trabalhar fora da área, pois não pensava em seguir a carreira acadêmica, queria atuar na indústria. Um ano trabalhando como administrador de uma empresa o fez repensar sobre suas próprias características. “Eu fui trabalhar no setor privado e aí eu pude descobrir e reconhecer que para o meu perfil de pessoa ser pesquisador e professor seria a melhor opção para mim. Então, no final de 2015 eu passei a procurar programas de pós-graduação para poder entrar no mestrado”.
Durante o mestrado conviveu com professores que haviam estudado na Alemanha, isso o motivou a começar a procurar processos seletivos que pudessem possibilitar a sua ida para o país germânico. Finalizando o mestrado em maio de 2017, ele tentou várias seleções do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), mas não conseguiu. Então tentou pelo Deutscher Akademischer Austauschdienst (DAAD), órgão semelhante ao CNPq na Alemanha, e passou.
No dia 20 de dezembro veio a notícia do resultado da bolsa e no dia 30 de janeiro desembarcou em Munique, na Alemanha. “Eu sempre tive vontade de estudar fora, de conhecer culturas diferentes e agora aqui estou! Nunca havia saído do Brasil, nem visto neve. No segundo dia aqui já nevou, aí foi só alegria”.
Durante os meses de fevereiro e março, Lucas Lemos da Silva estará em Munique para fazer curso de alemão, e irá para a cidade de Karlsruhe para iniciar o doutorado em abril, com finalização e retorno previsto para o Brasil em 2022.
“Eu tenho o maior orgulho de poder ter estudado na Uems e poder dizer que a Uems tem um programa de cotas, inclusive as cotas exclusivas para indígenas, que existem em pouquíssimas universidades brasileiras. Esta Universidade representa muito para mim, por que eu passei seis anos lá! Eu entrei um menino e saí um adulto da Universidade, então eu adquiri muito conhecimento. Eu devo muito à Uems e eu tenho orgulho de ter sido formado nesta Universidade”, finalizou o doutorando.