Da assessoria/LD
ImprimirEstudar as múltiplas formas de interação entre o coração e o pulmão, tanto em repouso como no exercício, é a proposta principal de projeto de pesquisa que envolve o Laboratório de Fisiopatologia Respiratória (Lafir), da UFMS e o Laboratory of Clinical Exercise Physiology (LACEP)/Kingston General Hospital, no Canadá.
Os estudos querem elucidar os mecanismos de interação disfuncional (mau funcionamento) em indivíduos saudáveis atletas e não atletas, avaliar os mecanismos fisiopatológicos em pacientes doentes, além de estudar o tratamento das disfunções relacionadas.
Com coordenação do professor pneumologista Paulo de Tarso Muller (Faculdade de Medicina – Famed), a pesquisa também tem a participação do fisioterapeuta Gaspar Rogério Chiappa (Porto Alegre) e do médico Alberto Neder (Kingston, Canadá), além de graduandos, mestrandos e doutorandos dos Programas de Pós-graduação em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste e Ciências dos Movimentos.
“A pesquisa ‘Interação cardiopulmonar disfuncional no repouso e no exercício: mecanismos e tratamento’ nasceu da necessidade de conhecer melhor a interação coração-pulmão. Não é à toa que eles estão interligados. Aqui trabalhamos com doenças cardíacas e pulmonares e nossa ideia foi entender como um interfere no outro”, explica o professor Paulo.
Essa pesquisa abrange atletas; pessoas com comportamento de risco para doença pulmonar, como os fumantes; com risco para desenvolver doenças cardíacas e pulmonares, além dos que já são cardíacos e pneumopatas. Sendo que a maior parte é atendida no ambulatório do Hospital Universitário.
Estudos
A doença de um órgão, invariavelmente, leva a doença do outro órgão, sendo difícil ter uma enfermidade isolada do coração que não afete o pulmão e vice-versa. Por isso a questão da interação é tão importante.
A pesquisa tem três principais pontos de estudo. O primeiro abrange os atletas. Os pesquisadores estudam a possibilidade de que o lado direito do coração seja um fator limitante para o exercício.
“Hoje, quando um atleta de alta performance, no atletismo, atinge um limite na sua capacidade física, esse limite é relacionado apenas a capacidade muscular, mas não ao pulmão ou coração. No projeto de pesquisa estamos analisando sobre o lado direito do coração, que talvez seja mais frágil – o volume de sangue que esse ventrículo direito recebe e a pressão pulmonar aumentam muito – e isso pode ser um fator limitante para a atividade física de alto rendimento”, expõe o professor.
Outra linha de pesquisa compreende os indivíduos fumantes e quer verificar os efeitos de alterações mínimas e iniciais do tabagismo sobre a função cardiorrespiratória.
“Na doença pulmonar, por exemplo, nosso grupo de pesquisa já demonstrou os efeitos do tabagismo na redução da tolerância ao exercício por mecanismo de limitação ao fluxo aéreo interferindo na dinâmica das trocas gasosas e alterações do cronotropismo cardíaco. Esperamos mostrar as interações da disfunção diastólica sobre a hiperventilação e eficiência ventilatória e seus efeitos no pulmão entre outros”.
O professor destaca ainda que os fumantes, na fase pré-clínica, não considerados doentes ainda, são indivíduos que apresentam alta taxa de ansiedade e/ou depressão. Enquanto na população em geral, esse estado emocional atinge de 10% a 15%, entre os fumantes chega a 40%.
“E são duas situações que interferem muito na respiração dos indivíduos. Então, é muito comum o fumante se queixar que o pulmão fica pequeno ou grande demais para respirar. Mas eles procuram o profissional de saúde porque acham que a respiração tem algo irregular, não associam com essas causas”, diz o pneumologista.
Uma linha de estudo apontou também que os fumantes têm uma variabilidade na respiração durante o esforço físico, que eles relatam ser uma “respiração curta ou grande demais que não cabe dento do tórax”, ou sejam respiram uma hora muito profundamente e ora de maneira muito curta.
Comparada com pessoas que não fumam, é absurda a diferença nas variáveis, segundo o coordenador, o que leva os pesquisadores a querer entender qual a relação da variabilidade pulmonar com a cardíaca. Esse estudo tem a participação do Instituto de Matemática, por meio do professor Erlandson Ferreira Saraiva, que criou um modelo para analisar essa variabilidade.
O professor visitante Daniel Alexandre Boullosa Álvarez (Espanha), que atua no Programa de Pós-graduação em Ciências dos Movimentos, irá dar início ao estudo dos efeitos do treinamento físico na depressão. Inclusive, já se sabe que praticar atividades físicas aumenta a chance de ser bem sucedido na proposta de abandono do fumo/cigarro.
Outra linha de estudo abrange a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Nesse caso, o enfisema faz com que o paciente tenha excesso de ar dento do pulmão, e esse excesso comprime o coração.
Aqui há a interação cardiopulmonar disfuncional, não normal, e durante uma atividade física, qualquer esforço faz com que o enfisematoso apresente muita falta de ar. “Um dos fatores prováveis é justamente essa compressão cardíaca, que não permite o enchimento do sangue dentro do coração”, completa.
Além do tabagismo que afeta as artérias coronárias, os efeitos da poluição também interferem na associação dos dois órgãos. “Em Mato Grosso do Sul, também há problemas com o fogão de lenha e queimada, que causam muitos problemas cardiorrespiratórios”, enfatiza o professor.
Atividade física
Mesmo com uma doença pulmonar ou cardíaca, o exercício físico pode melhorar o condicionamento dos músculos em geral, da respiração e do coração. “Dentro do coração acontecem modificações, a partir da atividade física, que podem levar a melhora da função cardíaca-pulmonar. Por isso, esse é o tratamento que mais modifica a história natural das doenças”, afirma Paulo.
Os pacientes do Lafir passam por treinamento de força e aeróbico. Muitos chegam sem se quer conseguir pentear o cabelo pela fraqueza causada por doença cardíaca e pulmonar. Mas depois de algum tempo no treinamento físico, registram-se grandes melhoras.
Os pesquisadores também atuam no Projeto Medalha, que tem, entre os seus objetivos, diagnosticar agravos à saúde e fatores prejudiciais ao bom rendimento físico dos atletas. “Iremos avaliar toso os atletas associados de Mato Grosso do Sul agora e daqui a cinco anos, em um estudo longitudinal”, completa o professor.