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ImprimirAs turmas de 5º ano do ensino fundamental com melhor desempenho na Prova Brasil contam com professores mais velhos, com mais de 10 anos de magistério e que acreditam no potencial de seus alunos: é o que mostra uma análise qualitativa realizada pelo Instituto IDados. As informações, compiladas entre as escolas da rede municipal do Rio de Janeiro, mostram que as melhores notas saem de salas de aula com maioria de meninas e com 88% dos alunos na idade certa.
A análise, realizada pela economista Mariana Leite, baseou-se nos dados qualitativos do desempenho em matemática na Prova Brasil de 2015, além de se valer de respostas que os professores deram nos questionários relativos à avaliação. A Prova Brasil é aplicada pelo MEC e é um dos itens que integram o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
O estudo do IDados mostra que nas turmas de alto rendimento, 74,7% dos professores têm mais de uma década de experiência, contra 66,3% nas turmas que não se saíram tão bem no teste.
A idade do professor também parece influenciar: 61% têm mais de 40 anos nas boas turmas, enquanto as piores têm 45,5% de professores abaixo da faixa etária. Além disso, a presença de professores temporários é maior nas salas de baixo desempenho, com 25,8% se contrapondo aos 16,9% das melhores turmas.
"No geral, a maioria dos diretores de escola dizem que a seleção dos professores para as turmas depende do tempo de casa de cada um. Os mais experientes podem escolher turmas. Não é o caso do professor temporário, que acaba pegando turmas que dão mais trabalho e que têm mais repetentes", comenta a economista.
Expectativas
Outro fator que chamou a atenção de Mariana Leite é a expectativa dos professores em relação aos alunos. Nas turmas de bom desempenho, 66,3% dos mestres acreditam que mais da metade dos alunos chegará ao ensino superior. O número é bem menor nas turmas de baixa performance: apenas 27% têm essa expectativa.
"A questão da expectativa do professor é um bom preditor para o sucesso escolar dos alunos, pelo menos a curto prazo", comenta Leite.
Formada em pedagogia, a professora Márcia Martins Barra poderia lecionar em turmas mais velhas, mas faz questão de concentrar suas energias nos estudantes na faixa etária de 10 a 12 anos. Ela se encaixa no perfil da pesquisa: tem 55 anos, leciona há 34 e é professora da Escola Municipal Cuba, no bairro carioca Zumbi.
"Toda sala tem inúmeros casos, turmas completamente heterogêneas. Em uma turma com 27 alunos, tenho 10 excelentes. A tentativa é fazer com que os outros atinjam aquele patamar. É um trabalho diário, e acho que falta experiência a muitos professores. É preciso levar o aluno mais difícil como um desafio, tentar resgatar essa criança. Não é para fazê-la se sentir menosprezada: se não sabe, vai aprender", garante a professora.
Disciplina
Outro ponto levantado na pesquisa é a distribuição de tempo das aulas. Nas turmas que se saíram melhor na Prova Brasil, 51,2% dos professores relatam gastar mais de 10% do tempo mantendo a ordem e a disciplina. Os docentes responsáveis por turmas de baixo desempenho relatam o problema em proporção muito maior: 71,2%.
"Os professores de turmas de mau desempenho falam de desinteresse, de baixa auto-estima, de indisciplina. O docente acaba gastando muito tempo tentando manter a ordem. Isso gera outro problema: só 33,1% acreditam que vão conseguir concluir 80% do conteúdo previsto até o fim do ano letivo", analisa Leite.
Para a professora Márcia, os dados são preocupantes porque o 5º ano é a conclusão da etapa mais importante para a fundamentação escolar da criança. "Até essa etapa, somos a base. É como a construção de uma casa: se o alicerce não estiver bem feito, a estrutura não fica boa. É fundamental que o professor acredite em seu trabalho e não desista do aluno com dificuldades. Só assim é possível colher frutos da aprendizagem", avisa a professora.