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Esportes
13/09/2016 13:39:00
Após desobedecer médico, calheiro de ouro deve parar: "Não aguento mais"

Globo Esporte/LD

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A inédita medalha de ouro para a bocha do Brasil nas duplas mistas BC3 foi conquistada à base de muito remédio por um de seus integrantes. Fernando Leme, calheiro e irmão de Antonio Leme, o Tó, tem um grave problema nas costas e precisa operar o mais rápido possível. Para estar no Rio de Janeiro pelo sonho da medalha, contrariou recomendações médicas e lidou com a dor diária. A recompensa veio na decisão com a vitória por 5 a 2 sobre o time da Coreia do Sul, nesta segunda-feira, na Arena Carioca 2.

Medalha no peito, sonho conquistado. O irmão mais novo da família Leme está pronto para dar adeus ao esporte e passar a cuidar do próprio corpo.

  • Provavelmente, eu não vou seguir, não posso mais, não aguento mais tomar tanto remédio. Tenho um problema chamado osteoartrose bilateral de quadril, que é muito sério. Vivo à base de remédio. Tudo o que eu fiz nos últimos quatro anos foi contra indicação médica. Fiz por ele (Antonio), por nós e pelo meu sonho de poder viver um momento como esse. Desobedeci muitos os médicos. A decisão de parar é uma coisa que a gente vai sentar com a família, conversar em dezembro e decidir. Clinicamente, não tenho mais condições.

Uma cirurgia imediata é aconselhada para o enxerto de uma prótese no local, que vai permiti-lo andar por mais 10, 15 anos. Depois, só o tempo vai dizer o que acontecerá com o medalhista paraimpico.

  • Justamente para eu não ir para a cadeira de rodas, tenho que parar. A prótese vai me permitir andar, mas a durabilidade dela vai de 10, 15 anos. Não são todos os casos que o organismo aceita a substituição, por isso é uma cirurgia muito delicada.

A desobediência médica vem desde 2010, quando Fernando passou a acompanhar o irmão em todos os torneios. Três anos depois, completamente familiarizado com a bocha, aceitou o convite para ser seu calheiro. O foco no trabalho árduo, diário, foi perdido temporariamente em fevereiro, a uma semana do Mundial, pela morte de Sebastião Leme, pai da dupla.

  • Chegamos arrebentados, ficamos em 16º lugar. Não tinha como voltar atrás, pensar em um corte, por questões administrativas. Fomos pressionados, querendo dar uma medalha para o meu pai, não deu. Desta vez, conseguimos presentear o coroa. Tivemos tempo hábil para curtir o luto. Depois, voltamos para os treinos, deixamos a tristeza baixar e ficamos mais fortes. Substituímos um pouco do luto por treino. Era a única maneira de esquecermos essa tristeza, que não passa nunca.

Se a dor física e familiar vai sempre existir, o sentimento de dever cumprido é recompensador.

  • Valeu a pena, deu certo. Cada dor, cada sapo que a gente engoliu, cada descrença que ouviu aqui e ali, cada noite mal dormida, aniversário do meu filho Lucas e da minha filha Juliana que perdi, tudo isso valeu a pena. Esse era nosso objetivo e seria muito frustrante se não tivéssemos conquistado ele.

Antes de dizer adeus, Fernando tentará ajudar Antonio na conquista de mais uma medalha. Nesta terça-feira, na mesma Arena Carioca 2, eles iniciam a trajetória no individual da classe BC3, às 10h (de Brasília), contra Cingapura. Quinta do mundo, a dupla vai lutar por outro lugar no pódio e tentar encerrar parceria com mais uma dourada no peito.

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