Globo Esporte/LD
ImprimirO último ciclo olímpico foi de investimento gigantesco na Confederação Brasileira de Esportes Aquáticos. Para fazer bonito na Rio 2016, a entidade recebeu mais de R$ 122 milhões em verbas. Quase 90% desse valor veio dos Correios, parceiro há quase 26 anos e responsável por R$ 48 milhões apenas em 2015 e 2016. Os recursos, porém, não se reverteram em medalhas. Poliana Okimoto foi única no pódio, com o bronze nas águas abertas. O resultado histórico, contudo, não foi suficiente para que ela mantivesse o patrocínio da mesma estatal, que cortou o apoio dado durante a preparação para a Olimpíada alegando a crise financeira vivida nos últimos anos. Prometeu porém, dar prêmios a nadadores com base em resultados internacionais, “com o objetivo de reconhecer o desempenho e as conquistas de cada atleta”.
Curiosamente, os Correios, apesar de diminuírem drasticamente o investimento na CBDA, renovaram o contrato de patrocínio por mais 24 meses no valor de R$ 11,4 milhões. A escolha da estatal em cancelar o vínculo com Poliana e seguir com a CBDA, dando vez à entidade ao invés de apoiar uma medalhista, chamou a atenção e foi citada por Thamea Danelon, procuradora do Ministério Público Federal (MPF-SP), durante a coletiva de imprensa da operação Águas Claras, da Polícia Federal. Na ação foram presos o ex-presidente Coaracy Nunes, Sérgio Ribeiro Lins de Alvarenga (diretor financeiro) e Ricardo Cabral (coordenador do polo aquático). Após as detenções, os Correios optaram por rescindir o contrato com a CBDA.
Em mais um ciclo olímpico, agora visando Tóquio 2020, Poliana Okimoto diz ter sido pega de surpresa com a operação, já que estava treinando na altitude dos Estados Unidos e voltava ao Brasil quando seu celular foi inundado de notícias sobre a prisão de Coaracy. A nadadora comentou sobre a comparação feita pela procuradora, lamentando a situação que a fez perder uma equipe multidisciplinar de seis pessoas: massagista, psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta, preparador físico e técnico.
- Fiquei chateada, principalmente depois de ser medalhista olímpica, perder o patrocínio dos Correios. Era o meu patrocinador master, e eu fui a única medalhista dos esportes aquáticos do Brasil e a primeira da história da natação feminina brasileira. Então, fiquei muito chateada. Não perdi só o patrocínio e sim uma estrutura que tinha de treinamento, profissionais que trabalhavam comigo e deixaram de trabalhar. Não foi só o patrocínio individual, foi toda uma estrutura montada para a Olimpíada que foi deixada de lado logo após a Rio 2016. Acaba que o atleta de alto rendimento ganha e perde por detalhes, e isso faz muita diferença. Fez a diferença para eu ganhar essa medalha - disse Poliana Okimoto, que tem apoio do Exército e da Unisanta.
Em sua fala, Thamea foi bem clara sobre o quanto a opção dos Correios chamou sua atenção. Ela citou que em 11 anos a empresa investiu R$ 62 milhões na CBDA e, mesmo em crise, com rombo de quase R$ 2 bilhões, manteve um patrocínio ao órgão em detrimento de uma medalhista olímpica. Na época, Poliana Okimoto explicou que o patrocínio não foi renovado por conta da crise com a confederação, que já enfrentava denúncias e demorou para ter o patrocínio renovado. Quando isso aconteceu, porém, ela não foi contemplada.
- Depois de tantos anos lutando para conseguir seu objetivo, no momento que você consegue, ser deixada de lado é muito difícil. O final do ano passado e o começo desse ano foram muito difíceis de aceitar. O contrato com os Correios sempre foi via confederação, nunca tivemos nem a oportunidade de conversar com eles para renovar o contrato. Não tinha muito o que fazer. Era aceitar e bola para a frente - lembra a nadadora de 33 anos.
Grande parte das denúncias que culminaram na operação Águas Claras vieram de atletas, que teriam recebido tratamento abaixo do esperado em relação a viagens, hospedagens e verbas para participações internacionais. Poliana, porém, destaca que com ela isso nunca aconteceu.
- Não vi desleixo da CBDA comigo, principalmente nesse ciclo olímpico. Quem tinha chance de ganhar medalha tinha toda a estrutura necessária e pedida em treinamentos e competições. Todas as nossas solicitações para treinamentos em altitude e competir no circuito mundial foram atendidas.
Por fim, a medalhista olímpica acredita que os atletas precisam ser mais ouvidos e ter voz ativa nas confederações.
- Os atletas precisam ser mais ouvidos, os técnicos também. Somos nós que estamos completamente envolvidos, doamos as nossas vidas para fazer o esporte que mais amamos. Crescer e evoluir. É com o esforço do nosso trabalho que conseguimos os resultados. Precisamos ser ouvidos também em eleições presidenciais, isso nós nunca tivemos e precisamos ter voz ativa nesse meio.