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ImprimirMaracaibo, Venezuela, 10 de março de 2019. Passadas 72 horas sem energia elétrica na segunda cidade mais populosa do país, Zulia e Caracas entravam no vazio estádio Pachencho, pela sétima rodada do Campeonato Venezuelano. O juiz apitou o início do jogo. Mas os 22 jogadores que estavam em campo não se moveram. E assim foi nos 90 minutos. As duas equipes se recusaram a jogar em protesto às más condições do local. O ato foi um estopim e ligou o sinal de alerta da Conmebol.
A entidade sul-americana acompanha de perto a crise no local e estuda medidas para proteger os clubes venezuelanos. Dentre elas, há a possibilidade de mudar de país os jogos com mando das equipes venezuelanas por competições continentais. É esperada uma decisão ainda nesta terça-feira, véspera dos jogos do Deportivo Lara contra o Cruzeiro, em Belo Horizonte, e do Zamora diante do Cerro Porteño, em Assunção, ambos pela Libertadores.
O rival cruzeirense deve chegar à capital mineira apenas na noite desta terça. A delegação foi de ônibus até Valencia, a 200km de Barquisimeto, sede da equipe e deve embarcar em um voo fretado para chegar ao Brasil no limite de 24 horas imposto pelo regulamento da Libertadores. A falta de energia na Venezuela dificulta a comunicação e a operação dos aeroportos no país.
Além de Deportivo Lara e Zamora, outros quatro representantes venezuelanos disputam torneios continentais: Estudiantes de Mérida, Mineros de Guayana, Zulia e Caracas – entrará na segunda fase – estão na na Copa Sul-Americana. O próximo jogo com mando venezuelano por um torneio da Conmebol será apenas no dia 2 de abril, quando o Mineros recebe o Sol de América pela Sul-Americana.
Mesmo com o restabelecimento da luz elétrica em várias regiões, a Conmebol vê com preocupação a situação e quer garantir segurança também às delegações dos times visitantes. Nesta segunda, um dia após protagonizar o protesto com o Caracas e se recusar a jogar, o Zulia anunciou que não entrará em campo mais por torneios nacionais até que “tenha condições mínimas para a prática do esporte” (veja o comunicado abaixo).
– No momento que divulgamos este comunicado, a sede da nossa organização, a cidade de Maracaibo, completou mais de 90 horas consecutivas sem serviço elétrico, o qual gerou uma cadeia de consequências enormes que atentam contra a segurança e bem-estar de todos os integrantes da nossa organização. Por isso, reiteramos que nossas equipes não se apresentarão aos encontros programados de torneios nacionais da Venezuela até que voltemos a ter as condições mínimas para a prática do futebol dentro do nosso país – diz o comunicado do Zulia.
Vestiários às escuras, falta de água... jogadores e clube protestam
A postura dos “Petroleros”, como é conhecida o Zulia, foi endossada por jogadores e outros clubes da liga venezuelana. O presidente do Monagas, Nicolás Fernández, divulgou um comunicado no qual pede desculpas aos seus torcedores por ter disputado o jogo contra o Academia Puerto Cabello – sua equipe perdeu por 4 a 0.
A Portuguesa FC enviou um pedido oficial à Federação Venezuelana e à Liga do país requisitando que o campeonato seja paralisado até que todo o serviço elétrico seja restabelecido. A Associação Única dos Futebolistas Profissionais da Venezuela também se manifestou e informou que um protesto geral dos atletas não foi possível no último fim de semana pelas dificuldades de comunicação para uma ação coordenada. No entanto, a entidade posteriormente seguiu o caminho da Portuguesa e pediu a suspensão do futebol no país.
Em seu perfil no twitter, o lateral-esquerdo e capitão do Caracas, Rubert Quijada, desabafou e justificou o protesto feito ao lado dos jogadores do Zulia.
“Temos uma responsabilidade social, somos cidadãos deste lindo país e devemos a ele. Nossas necessidades como esportistas são as mesmas necessidades de todos nossos irmãos venezuelanos, o futebol é nossa linguagem e desta maneira dizemos basta”.
Em entrevista ao jornalista Thomas Cárdenas, da Rádio Deportiva 1300 AM, de Caracas, o meia Kuki Martins, também do Caracas, expôs as condições a que estão sendo submetidos e reforçou a indignação do clube.
– A iniciativa veio deles (Zulia) porque estão vários dias sem luz e não havia nem gelo. Para a hidratação, o carcas lhe deu gelo e água. Temos que ser solidários. As condições não estão para jogar futebol. No caso de emergência em campo, não temos a quem recorrer. Temos que cuidar da nossa integridade física. São coisas que não podem acontecer e nós não podemos estar todos calados – declarou Kuki.
Até o momento, a Federação Venezuelana e a Liga de Futebol Profissional da Venezuela não se pronunciaram. O GloboEsporte.com tentou contato com a federação, mas não obteve resposta.