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Esportes
13/12/2016 10:56:00
Diretor diz que nova Chape terá força, velocidade, e cogita "craques" no time

Globo Esporte/LD

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Um chamado, uma viagem de carro de seis horas, uma reunião de mais duas ou três, e um aperto de mão. Foi assim que Rui Costa, ex-Grêmio, tornou-se diretor executivo de futebol da Chapecoense. Em outras palavras, responsável pela reconstrução do time que encantava o país até se acidentar rumo à final da Copa Sul-Americana.

Há duas semanas, a queda do avião da LaMia matou 19 jogadores e deixou outros três gravemente feridos. Boa parte de comissão técnica e diretoria também foi vitimada. Dos nove atletas que não viajaram e têm contrato com a Chape, oito terão seus vínculos encerrados neste fim de ano. Só o argentino Martinuccio está garantido para 2017.

Depois de ser apresentado na última sexta-feira, Rui Costa iniciou formalmente seu trabalho na segunda. Entre telefonemas e reuniões mil, atendeu a reportagem do GloboEsporte.com na Arena Condá, e explicou suas ideias, premissas, necessidades e exigências para que a Chape entre em campo em 2017 e, mesmo sob o peso da tragédia, cause o mesmo impacto positivo.

De que maneira? Com um time forte, veloz e aberto à sensibilidade de jogadores "especiais" que queiram participar de um momento histórico no futebol mundial. Leia a entrevista abaixo:

Quão surpreso te deixou o convite para assumir a Chapecoense neste momento? Acho que surpresa é uma boa palavra. Sou um homem de mercado e tinha uma situação bem encaminhada, mas não formalizada. Quando fechamos com a Chape, e estava o Vagner (Mancini, novo técnico da equipe), havia gente me ligando. Mas quando dou minha palavra é definitivo. Vivo um encantamento por esse projeto, por ele ser conduzido coletivamente. Não há “eu” aqui, é um clube que fala muito em “nós”. E me sinto privilegiado porque é uma tarefa, apesar de árdua, muito nobre. E desportiva. Temos que montar um time competitivo diante de todas as adversidades. Ninguém aqui está imaginando que terá sossego, mas esse projeto se apresenta tão interessante, pois transcende o futebol. Eu disse isso aos dirigentes que me contrataram. Conversamos por duas ou três horas, e estava definido.

Houve tempo de você participar da contratação do Vagner Mancini ou a escolha por ele já estava definida? Você concorda com ela? Vou ser muito sincero contigo: eu sabia que seria o Vagner. E tão logo eu fiquei sabendo disso, falei que era o nome que eu escolheria. Admiro vários profissionais no futebol brasileiro, trabalhei com vários deles e há treinadores promissores que logo vão aparecer, mas digo isso com muita sinceridade, o Vagner era um profissional com quem eu queria muito trabalhar. É o nome certo, o perfil certo no momento certo. Passa por sua qualidade profissional, mas a Chapecoense enxerga muito o ser humano, isso fica muito claro com cada pessoa que você conversa aqui. Há o aspecto de profissionalismo, respeito, mas há uma preocupação com o ser humano muito clara. Tenho convicção que o Mancini reúne tudo isso. É um grande profissional com a sensibilidade que o clube exige, principalmente neste momento.

Assim como alguns técnicos vão para a Europa estudar, você teve esse período recente, encontrou-se com o gestor do City, fez sua peregrinação. Mas essa situação é tão peculiar, que algo dessa sua viagem pode ajudar? É possível que ela seja útil neste momento? Tenho muito claro que o que acontece aqui hoje é impactante, e tomara que não se repita, que outras pessoas não tenham que enfrentar. Por mais que estejamos todos entusiasmados com a possibilidade de reconstruir o clube que esse povo, essa região e aqueles que se foram merecem, é um case nada usual. A Chapecoense passou a ser um time global, hoje é um clube do mundo. Eu ousaria dizer que numa pesquisa todos os torcedores diriam que a Chape é seu segundo clube do coração. É um peso tão grande que não conseguimos dimensionar. Ao mesmo tempo em que aumenta nossa responsabilidade, pode nos dar a chance de criar algo capaz de recompor minimamente essa tristeza. É uma perda que nunca será reparada, é um time histórico, nunca haverá um time maior do que esse. Isso posto, as relações que construí dão possibilidades de fazer frentes de trabalho. Estamos desde as oito da manhã falando com jogadores, com o Mancini, vendo a possibilidade de se conectar com as pessoas.

Que tipo de plantel você pretende montar? Primeiramente, um plantel que seja a mais fiel tradução da filosofia deste clube. A Chapecoense tem um estilo muito claro. Nosso primeiro compromisso é respeitar a cultura de times com muita força e velocidade. E mesmo com outros jogadores, a ideia é manter o comprometimento. Estamos buscando aquilo que se estabeleceu a partir da formatação do departamento de futebol, que mantém o DNA do clube através do (João Carlos) Maringá (diretor de futebol) e do Nivaldo (ex-goleiro, agora gerente de futebol. Isso vamos buscar na formatação do time, mesmo com jogadores que venham dos mais variados locais, e até cogitando que se possa ter jogadores que normalmente não jogariam aqui. Não vamos desconsiderar nosso estilo de jogo, nossa cultura e forma de ver futebol.

Quando você fala em “jogadores que normalmente não jogariam aqui”, são caras de maior expressão no futebol? Salários mais altos, atletas mais famosos? Isso é uma cogitação diante daquilo que se anuncia. Mas será uma montagem de equipe dentro do nosso orçamento, entendemos ser a cultura do clube. Se conseguirmos dispor de jogadores que normalmente não teríamos acesso por causa do mercado, faremos isso, é uma autonomia que a direção nos dá. Mas nosso compromisso é respeitar as questões orçamentárias que trouxeram o clube até aqui. O profissional terá que se adequar à nossa realidade, isso é inegociável.

Essa realidade são salários entre R$ 20 e R$ 100 mil, como já foi publicado? Não gosto de falar em números, eles estão postos para nossa comunidade, nossos associados, eles sabem o que queremos. Se no futuro pudermos dar um passo à frente, daremos. Insisto contigo que o clube será analisado pelo mundo todo. Se tivermos criatividade e capacidade de negociar com algum jogador que possa incrementar nossa equipe, ótimo.

A Chapecoense já recebeu ofertas de ajuda de técnicos campeões nacionais como Levir Culpi a anônimos que buscam agora uma chance de vida como jogador do clube. Como administrar tudo isso, toda essa gente tentando ajudar a Chape ou a si próprio? Sempre com um olhar e a diretriz da comissão técnica. Temos autonomia para escolher o plantel. Estamos recebendo informações e fazendo uma lista que entendemos ser condizente com o futebol da Chapecoense. A cada dia que passa o torcedor fica ansioso, nós também, mas a realidade é essa. Recebemos com muita satisfação as ofertas e listas, mas traremos jogadores que nós queremos. Não traremos jogadores que foram disponibilizados por outras razões. Seremos razoáveis na escolha, mas não abriremos mão da análise de quem nos interessa. Se o clube parceiro não compreender isso, fica difícil. Não quero parecer antipático, mas precisamos de jogadores de qualidade. Não posso contar com jogadores dispensáveis.

Nem com ex-jogadores... Exatamente. Esse é o grande desafio, e espero que entendam. Não é uma manifestação de autossuficiência ou arrogância, nós precisaremos tomar jogadores emprestados de clubes adversários, mas que hoje estão irmanados. Só queremos poder escolher esses jogadores.

Hoje a Chapecoense tem oito atletas com o contrato por terminar, e o Martinuccio com um vínculo mais longo. A ideia é renovar com esses oito ou com alguns deles? A primeira coisa que fizemos foi avaliar esse cenário. Temos um déficit profissional por motivos óbvios, cada um de nós está fazendo mais de uma coisa, mais do que seria o normal neste momento. O sentimento é de mutirão, se não fizermos assim não conseguiremos atender as metas mínimas estabelecidas. A análise desses jogadores está sendo feita, vamos submetê-la ao Mancini, que tem uma autonomia técnica. Vamos levar um tempo ainda para que esse primeiro diagnóstico seja definitivo.

Quando você chegou, a Chapecoense já havia negado a imunidade ao rebaixamento. Você concorda com essa decisão? É um assunto delicado porque houve a manifestação do clube antes de eu chegar, e transcende a direção executiva do futebol. Mas tem a ver com a imagem do clube, eu respeito muito, e cabe a mim acolher e dizer que acho correto.

O ritmo e o nível das competições se acentuará ao longo do ano de 2017. É assim também que vocês vão montar o elenco, ele vai ser ampliado durante a temporada, ou a ideia é já tê-lo pronto para o início do estadual e da Primeira Liga (a Chape estreia no dia 25 de janeiro contra o Joinville)? O ideal é trabalhar com jogadores que possam começar e terminar o ano, mas num clube de vida normal isso já é difícil, no nosso é quase impossível. Estamos estabelecendo cronogramas de ações e vamos trabalhar muito para começar e terminar com a mesma equipe, mas é muito mais provável que haja um processo evolutivo, à medida que aumenta a complexidade, e que possamos, dentro de um equilíbrio orçamentário, agregar jogadores. Para nós, é muito claro que será um período de transição, mas o torcedor vai querer ver uma equipe com as características desse clube.

Quais são as metas esportivas? É tudo muito novo porque não temos um tipo de equipe. Se houvesse uma pronta, com situação de completar alguns setores, eu poderia dizer onde ela pode chegar. Temos a meta de ser dignos, motivar o torcedor para que tenha orgulho do time que vai jogar. Para isso há certas premissas. Onde e de que forma vamos chegar é muito prematuro. Queremos ir ao encontro da paixão do nosso torcedor, e para isso montar uma equipe competitiva.

Você trabalhará em conjunto com o marketing para atrair reforços? A Chapecoense agrega muito valor. Qualquer jogador que vestir nossa camisa vai ser visto no mundo todo, desde que as pessoas consigam ver além do que se vê normalmente no futebol. O que se oferece aqui é muito mais do que se pode imaginar. Vamos aguardar para ver como isso vai repercutir. Exige uma compreensão além do “contrato é quanto?”, “vou receber isso?”, é uma coisa bem mais ampla e pode render grandes parcerias.

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