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ImprimirPoucos atletas no mundo transitam por modalidades distintas no alto rendimento. Michael Jordan tentou a carreira no beisebol, mas não encontrou o mesmo sucesso das quadras. Usain Bolt demonstrou interesse em jogar futebol, Kelly Slater já se arriscou no golfe, mas os exemplos são raros. Campeã olímpica pela seleção americana de polo aquático nos Jogos do Rio, em 2016, Kaleigh Gilchrist tem se dedicado a fundo no surfe. Desde a adolescência, estas são as duas grandes paixões da americana de 25 anos, que ainda não decidiu qual será o seu destino em Tóquio 2020. Por enquanto, a atleta pretende conciliar as duas carreiras e o sonho de integrar a elite do surfe mundial permanece vivo na memória.
Um dos passos deste caminho é o QS 1.500 da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, que conta pontos para o ranking de acesso ao Circuito Mundial (CT). A sua estreia será na segunda bateria da segunda fase contra a chilena Lorena Fica e as brasileiras Kayane Reis e Nathalie Martins. A chamada ocorreu neste sábado, às 7h30 (de Brasília), para todas as categorias no Rio Pro Weekend. Atual 74ª colocada do ranking de acesso (QS), Kaleigh mira o top 10 ao fim da temporada.
- Eu amo o Rio e tudo me faz lembrar as boas memórias dos Jogos Olímpicos. É estranho estar aqui novamente pela primeira vez desde o ouro em outro esporte. Foi um sonho realizado ter conquistado o título, mas, não posso viver do passado. Já passou um ano e meio, segui em frente e agora estou trabalhando bastante em outras coisas. Estou muito concentrada no surfe no momento - disse a americana, que começou a surfar aos oito anos com os amigos.
A água como habitat natural
Natural de Newport Beach, na Califórnia, Kaleigh sempre fez da água o seu habitat natural. O talento no surfe e no polo foi reconhecido ainda na adolescência, deixando-a em um dilema. Com o tempo, ela passou a trabalhar mais dentro das piscinas, porém, nunca deixou de ficar perto do mar. Mesmo integrando o elenco de uma das maiores potências no polo, ela competia em um ou outro evento de surfe. Nas horas vagas, ela também pratica natação e stand up paddle e fica longos períodos na praia. Gilchrist lembra que muitos a consideravam louca por encarar profissionalmente duas modalidades distintas, mas uma de suas premissas é seguir o coração.
A árdua rotina nunca a incomodou. Pelo contrário. Acordar Às 6h, cruzar o trânsito de Los Angeles até Manhattan Beach, voltar ao campus em San Diego para treinar e jogar, até mesmo nos meses de preparação para os campeonatos com práticas de duas a quatro horas por dia, era sinônimo de felicidade. No entanto, desde o início do ano, o surfe ficou em primeiro plano.
- Eu tento sempre buscar um equilíbrio como atleta. No ciclo olímpico, eu estava muito focada no polo aquático, disciplinada nos treinos, mas eu me organizava para surfar três, quatro, cinco vezes na semana. Neste ano ano, estou com foco total e tem sido muito divertido. Eu estou morando em New Port ainda, posso andar a pé até a praia, é o melhor lugar para surfar e treinar. Também continuo no polo, competindo um torneio aqui e outro ali, mas estou realmente dedicada ao surfe agora - contou Kaleigh.
Foco no surfe em busca de medalha olímpica
Campeã mundial em Kazan, em 2015, Gilchrist foi uma peça-chave na conquista do ouro olímpico. A atacante é uma das artilheiras da equipe americana. Na Rio 2016, ela marcou seis gols, anotou quatro na Super Final da Liga Mundial e ainda contribuiu com outros cinco na corrida olímpica que classificou os Estados Unidos. Defendendo as cores da Universidade da Califórnia, em San Diego, a jogadora também ajudou a garantir a coroa da NCAA.
Embora tenha colhido as láureas no polo, Kaleigh já chamava a atenção no surfe desde a infância. Quando ainda estava no colégio, ela ganhou duas vezes o prêmio de maior prestígio no esporte amador de seu país, o Campeonato Americana de Surfe, em 2009 e 2010. Na época, derrotou algumas das melhores surfistas pela categoria até 18 anos, incluindo as tops da elite Courtney Conlogue e Lakey Peterson.
- Eu conheço a maioria das meninas que estão hoje no circuito. A Courtney e a Sage (Erickson) faziam parte da seleção de surfe na época em que eu fui chamada para a seleção de polo, acabaram se classificando para o CT e estão aí no topo. Gostaria de competir no surfe em Tóquio 2020, mas ainda tenho muitas perguntas. Não sei como será a busca pelas vagas e se realmente foram apenas duas americanas classificadas, será difícil. Temos excelentes surfistas de alto nível, tanto nos Estados Unidos, como no Havaí. Ainda não vou dizer que não, não vou desistir tão cedo. Vou esperar para ver o que acontece - vislumbrou.
A campeã olímpica e mundial se desdobrou, mas, foi conseguindo conciliar as duas funções ao longo dos anos. O polo ganhou um espaço de tempo maior devido aos compromissos e campeonatos pela seleção, porém, ela ainda conseguia surfar de três a cinco vezes na semana. Os planos eram voltar a se dedicar integralmente ao surfe após a Olimpíada de 2016. Com a missão cumprida, ela colocou em prática a meta de se classificar para o Circuito Mundial.
Embora se sinta insegura pelo "tempo perdido" no surfe, não que ela o tenha abandonado, mas a seleção americana de polo ocupou um grande papel em sua vida por um longo período, Kaleigh está otimista com o futuro. Resta saber como será o seu desempenho na Liga Mundial de Surfe (WSL). Kaleigh acredita que tem tudo para se recuperar e se equiparar às melhores do mundo no Tour. Se encontrar o mesmo sucesso das piscinas no mar, ela terá espaço para lutar por uma das duas vagas para representar os Estados Unidos no surfe nas Olimpíadas.
- Espero que tudo corra conforme o planejado e que eu consiga a vaga na elite no fim do ano. Meu sonho é competir novamente nas Olimpíadas, quem sabe, em Tóquio? Meu pai competiu em Tóquio 1964 na natação e seria muito legal ir lá e ter sucesso. Se fosse no surfe seria maravilhoso. Mas o que eu mais quero nessa vida é ser feliz e viver perto da praia - finalizou.