Globo Esporte/LD
ImprimirAnunciado na semana passada como técnico do Palmeiras a partir de 2018, Roger Machado foi oficialmente apresentado pela diretoria no início da tarde desta quarta-feira, na Academia de Futebol.
Desde a saída de Cuca, em outubro, o time vem sendo comandado interinamente por Alberto Valentim, que ainda não deu resposta sobre a proposta de valorização para seguir como auxiliar no ano que vem.
Em sua primeira entrevista como funcionário do Palmeiras, Roger Machado disse:
– O Palmeiras sempre vai brigar por títulos. A construção de uma equipe vitoriosa passa por ter jogadores de qualidade. Hoje, temos 90% do elenco formado. As prospecções serão da qualidade dos que estão aqui, para que a gente consiga cumprir a maratona de jogos no ano que vem. Objetivo é sempre levar o nome do Palmeiras ao ponto mais alto possível. Começamos o planejamento cedo, definindo pré-temporada, grupo de trabalho, jogadores que voltam de empréstimo, para que em janeiro a gente consiga iniciar essa preparação e, já no primeiro jogo, a gente consiga mostrar o porquê da contratação desses jogadores e da escolha do meu nome como treinador – disse o ex-treinador de Atlético-MG, Grêmio, Novo Hamburgo e Juventude.
Quando Roger era jogador (foi lateral-esquerdo de destaque no Grêmio nos anos 90), o Palmeiras tentou a contratação dele. Agora, em sua chegada como treinador, Roger recebeu uma camisa com seu nome e o número 6. Ele falou sobre o assunto:
– Estava comentando nos bastidores que a primeira manifestação do Palmeiras em me contratar foi como jogador. Num Palmeiras x Grêmio, o Roberto Carlos estava se transferindo para o Real Madrid e me disse no intervalo que me indicou como substituto no clube. Lembro que fiquei orgulhoso no momento, ele era um jogador que estava despontando na seleção brasileira, e do clube como Palmeiras me querendo. Depois, voltando de uma tentativa nos Estados Unidos, o Palmeiras fez contato comigo novamente. Acho que foi o Vanderlei o treinador. O Toninho Cecílio era o diretor de futebol à época (2008). Já tinha decidido encerrar a carreira pelas lesões. Disse ao Toninho que seria um prazer imenso, mas não poderia ajudar, porque estava encerrando a carreira em função das lesões, das hérnias. Ele tentou me fazer mudar de ideia, que eu fosse avaliado pelos médicos. Mas eu não estava pronto para jogar, e o Palmeiras precisava de alguém imediatamente. Houve outras tentativas no meio do caminho – disse Roger.
O presidente do Palmeiras, Mauricio Galiotte, revelou que chegou a pensar na contratação de Roger num passado recente, "mas ele estava comprometido com outro clube". Depois de sondagens a Mano Menezes e Abel Braga, o Verdão acabou se voltando a Roger.
– Novamente, tivemos o nome do Roger como destaque, como profissional que mais se identifica com o que estamos procurando. Ele tem características que convergem com tudo o que estamos planejando. O Roger trabalha integrado com as categorias de base, que é o que queremos. Profissional que desenha taticamente o time de maneira organizada. Reúne todas as condições que precisamos para o momento. Estamos contratando praticamente 50 dias antes da estreia do Paulista. Período em que estamos fazendo plano de trabalho. Temos certeza de que é fundamental a participação do treinador neste momento, por isso também nos antecipamos e fizemos a contratação – disse Galiotte.
Apesar de estar participando do planejamento para a próxima temporada – e de ter assistido na arena à vitória do Palmeiras sobre o Botafogo, na segunda-feira –, Roger dará seus primeiros treinos, com auxílio do assistente Roberto Ribas, apenas no ano que vem.
No domingo, no encerramento do Campeonato Brasileiro, ainda será Valentim o técnico à frente da equipe, diante do Atlético-PR, em Curitiba.
Veja mais tópicos da entrevista de Roger Machado:
Pressão
– É inerente pelo tamanho do clube e da torcida. Vocês são pressionados, centroavante que perde gol, goleiro que toma frango. Meu torcedor é pressionado pelas outras torcidas também quando não conquista. Gradativamente, você vai se tornando um pouco mais cascudo com relação a isso. Não tenho dúvida de que é desafio enorme, mas estou plenamente preparado.
Reforços
– É natural que o clube sempre procure as melhores alternativas do mercado. O Diogo (Barbosa) tem sido um dos melhores laterais do Brasil nos últimos anos. Especulações em torno do Emerson, do Lucas (Lima), que é um jogador diferente. Seus números mostram isso. Eles vêm com intuito de aumentar a qualidade do nosso elenco. Por consequência, aumenta a qualidade do treino, a competitividade, e isso vai para o campo. Faz com que tenhamos time forte, com empenho de vencer.
Jogo bonito?
– Como treinador, tu sempre busca o resultado. Mas tão importante quanto isso é como você consegue. Competitividade sem perder a beleza. Tem que se preocupar com a estética também, o torcedor merece isso. A crítica ao meu estilo de jogo é sobre tentar fazer futebol moderno. Discordo, porque o que desejo é voltar para trás. Se pegar o time da Academia do Palmeiras, Ademir da Guia, os grandes craques do passado, tínhamos time competitivo também. Você dificilmente pega trabalho do zero, tem legado de outro treinador. Peguei o Grêmio do Felipão, a experiência com alguns meninos, experiência e suporte para colocar outros meninos também. Não me incomoda. Jogar bonito e ser competitivo sempre foi a origem do nosso futebol. Em alguns momentos, perdemos contato com isso. O que pretendo é resgatar tudo isso.
Primeira impressão do jogo na segunda-feira
– Muito boa, excelente. Do jogo em si, primeiramente, com a vitória e consolidando a segunda colocação no Campeonato Brasileiro. E jogando bem, atuando bem. Já deu para ver muita coisa que o Alberto conseguiu inserir, muito próxima do que acredito também. Minha relação com Alberto não é de agora. Não jogamos muito contra, porque ele saiu muito cedo do país. Mas como auxiliar e treinador, temos contato relativo, sempre trocamos experiência para ajuda mútua. Alberto está fazendo essa transição, tem sido muito útil. Já relatei o desejo de ele ficar conosco, seria muito útil, mas é uma decisão muito pessoal dele. Gostaria de contar com ele, assim como a vinda do Zé Roberto vai ser extremamente bem utilizada no Palmeiras.
Comparação com Eduardo Baptista
– Os insucessos não estão ligados exclusivamente pela pouca ou muita experiência, por ser estudioso ou não, por ser da velha ou nova geração. Tem que contextualizar para ter avaliação definitiva. Somos profissionais jovens, porém diferentes. Princípios muito parecidos, mas cada um com sua forma de trabalhar. Vou fazer o que sempre procuro fazer nos times: ter uma equipe equilibrada. No hino do Palmeiras, tem um lema de uma equipe equilibrada, uma defesa que ninguém passa, e uma linha atacante de raça. Para mim, isso já traduz muito do que um time deseja ser dentro de campo. E tu respeitando também a história do clube nesse sentido. Não é um aspecto apenas. O mais importante é poder fazer isso desde o início, com entendimento de todos. Com relação a aceitação do torcedor, entendo a preocupação do torcedor. Ele deseja que seu time vença, e isso não me preocupa, de forma alguma. Quero poder convencer, trazer para o nosso lado aqueles que em algum momento tenham resistência e poder vencer.
Garante que Borja e Felipe Melo permanecem no time?
– Se afirmar que eles serão meus titulares, se afirmar hoje, perco os outros 28 do elenco. Preciso ter time competitivo para levar os melhores 11 dentro de campo. Tenho que dizer que os 30, 32 têm qualidade e estão aptos a jogar. Aqueles que estiverem no melhor momento vão estar em campo. Os problemas do passado ficaram no passado. Se eventualmente teve algum problema, ficou para trás. 2018 vai começar do zero, com novo comandante. Tenho certeza de que todos os jogadores estarão muito engajados em fazer o Palmeiras vencer.
Algum jogador na sua lista de reforços?
– Temos conversado com relação a planejamento. Justamente vir antes é para definir 2018. Estamos reservadamente ajustando a questão de reforços. O que posso dizer da contratação do meu lateral-esquerdo (Diogo Barbosa) é que em alguns momentos já desejei tê-lo no meu time. Vai ser grande acréscimo para o nosso grupo. Os que estão sendo especulados ou que temos conversado a respeito, que cheguem com a cabeça boa, prontos para disputa interna pela titularidade.
Divisão de trabalho dos auxiliares e base
– Comigo chegam o Roberto Ribas e o James Freitas. Gosto muito de valorizar os profissionais da casa. Eles têm a história do clube, a capacidade muito alta, conhecem a estrutura como ninguém. Serão muito úteis no nosso trabalho. Somos nós que nos unimos a ele nesse processo. A integração com a base é fundamental. O Palmeiras neste ano está disputando quase todas as finais de categoria mostra que o trabalho está sendo feito muito bem.
Obsessão por Libertadores
– A obsessão do Palmeiras é pelo Palmeiras e por todas as competições. Todo clube grande deseja ganhar a Libertadores. No futebol brasileiro, com o calendário que temos, as competições acabam entrando umas na outras. Mas, com o elenco que temos, de qualidade para correr o ano inteiro, podemos brigar por todas as competições. Não podemos abrir mão de uma competição em detrimento de outra. O fato de tirar jogador de uma competição não significa que está priorizando outra. O Campeonato Paulista é a primeira chance de título, um título importante. O objetivo do Palmeiras é conquistar os títulos.
Egídio fica?
– Ele foi bastante importante para o clube neste ano. Instabilidade coletiva dentro de campo em alguns momentos algum jogador acaba sendo mais visado. Estamos planejando o elenco de 2018 e vamos definir como estaremos no ano que vem. O que posso dizer é que hoje nosso grupo está com 90% dos jogadores que se apresentarão no ano que vem. Alguns jogadores voltam de empréstimo, a gente avalia também.
Vai perder algum jogador na janela? E Prass?
– Estamos em andamento nas reuniões diárias com relação a formatação do nosso grupo. A janela, pode surgir de um momento para outro. Faz reunião hoje, amanhã surge fato novo. Até o momento nada relacionado a isso. Com relação ao Fernando, conheço muito bem, joguei com ele no Grêmio. Ele está na história do clube, é um jogador importante. Está tratando de sua renovação. Aspectos que a gente define em reuniões internas. O Fernando é importante para o clube, mas não depende só do clube, depende do acerto. Tenho certeza de que o desejo do Fernando é permanecer.
Do Atlético-MG até agora, o que você fez?
– Importante que eu diga que a decisão de tentar iniciar um trabalho por ano é uma decisão de plano de carreira. Entender que eu preciso, depois de um trabalho feito, reavaliar, colocar na balança, continuar estudando, continuar evoluindo. Eu me sinto preparado, mas pronto... A gente vai constantemente buscando conhecimento, evoluindo. O que defini do meu último compromisso foi que foi uma temporada de sete meses muito boa, com título mineira. Minha saída antes de um segundo jogo da Copa do Brasil, entre a disputa do Campeonato Brasileiro... Não vejo nenhum problema, dentro da decisão de permanecer parado, ouvir os clubes e as perspectivas para os próximos anos, por isso minha decisão de permanecer até de certo modo em silêncio, podendo absorver conhecimentos, trocar informações com outros treinadores. Para voltar melhor. Não pronto, mas melhor preparado.
Suas características como treinador
– O Palmeiras é chamado de Academia de Futebol porque sempre teve futebol bonito e competitivo. A forma como gosto de ver meu time atuar remete bastante a isso. No futebol brasileiro, hoje, talvez sejamos o futebol que mais alce bolas na área. Tem explicativa cultural. Deixamos de ter jogador que passam pelo adversário com a bola, que produziam jogadas muito mais próximas da área, que permitiam passe, não cruzamentos de 30 minutos. Tínhamos atacantes até não muito altos, mas de presença de área. Volante marcador, mas de bom passe, e segundo homem de meio-campo que articulasse para o camisa 10 entrar na área. Zagueiros que não só tinham virtude física, mas técnica também. Isso demanda treino, entendimento dos atletas, mas vontade de fazer nosso jogo, raíz do nosso jogo, que sempre foi de técnica e habilidade.